Confusão marca indicações do Prêmio Sharp

Lista traz absurdos, injustiçados e conservadorismo

Agência Folha 29/04/97 15h46
De São Paulo

Com um grupo heterogêneo de julgadores -que vai de Itamar Assumpção a Alcione, de Hermínio Bello de Carvalho a Roberta Miranda-, o Prêmio Sharp apresenta um rol de indicados algo caótico.

Começa pela bagunça na definição de categorias concorrentes. São nove: MPB, samba, pop/rock, canção popular, regional, instrumental, infantil, clássico e especial.

A MPB, que se poderia definir como principal categoria -já que se trata de um prêmio de música popular brasileira-, se vê furtada do mais forte disco de MPB do ano, "Bebadosamba", de Paulinho da Viola. Porque ele é transferido para a categoria samba.

A MPB também perde filiados para a música regional, no visor retalhado do júri. Chico César aparece discretamente, concorrendo apenas a melhor música nessa categoria. E aí são classificados artistas de projeção bem mais que regional, como Moraes Moreira, Elba Ramalho e Daniela Mercury.

Outro pilar da MPB, Roberto Carlos é transferido à seção popular -que se pode traduzir por brega mesmo. OK, Roberto tem flertado com o gênero, mas colocá-lo a competir com Francisco Petrônio e Agnaldo Timóteo a melhor cantor do ano é algo insultuoso.

Na mesma pancada popular, foi cair Sandra de Sá. "A Lua Sabe Quem Sou Eu" é o CD mais pop -não popular- de sua carreira. Concorre com o brega explícito de Rosana.

Em pop/rock é que se estabelece o absurdo: querem eleger a revelação do ano entre Carlinhos Brown e a cantora de MPB Silvana Stiévano. Ora, façam-nos o favor. Querem premiar Edson Cordeiro melhor cantor. Sem comentários.

Fora os absurdos, há os injustiçados. "Âmbar", de Maria Bethânia, seu melhor disco em décadas, é esquecido na categoria MPB e tem de dar lugar a "Catavento e Girassol", de Leila Pinheiro. Nem a cantora ela concorre -mas ao menos Nana Caymmi concorre.

No quesito pop/rock, o conservadorismo do júri impede o mangue beat de Mundo Livre e Chico Science e a experiência tecno de Edgard Scandurra de concorrer. Prefere-se o pop regionalista de Skank e Paralamas do Sucesso.

Revelações como o soul-pop mineiro do j. quest nem foram citadas. Afinal, Carlinhos Brown deve ser lembrado.

Nem tudo é injustiça, claro. Por isso, por exemplo, os três sambas concorrentes a melhor do ano são de Paulinho da Viola. Por isso Cássia Eller concorre a melhor cantora pop/rock. Por isso Mônica Salmaso e Renato Braz disputam o título de revelação da MPB. Por isso Caito Marcondes é lembrado na categoria instrumental.

Mas, no todo, o que se vê é ou a predominância do aleatório ou aquela velha prática nacional de querer agradar todo mundo de uma vez. Parece que já temos nosso Grammy.(Pedro Alexandre Sanches)

  • Confira alguns dos indicados ao Prêmio Sharp
     
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