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Bebel Gilberto inicia carreira no exterior com o CD “Tanto Tempo”

06/06/2000 09h40
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Filha da bossa nova no mais literal dos sentidos _pois é filha de João Gilberto_, Bebel Gilberto, 33, andou enjeitada pelo país que inventou a bossa nova. “Fugida” do Brasil desde 1991, só agora consegue se lançar definitivamente no circuito em que se move, Londres-Nova York, com o álbum “Tanto Tempo”, em que canta... bossa nova, é claro.

Se, em meados dos anos 80, seu país torceu o nariz para sua tentativa de ser cantora solo _antes, fora vocalista infantil de projetos como “Os Saltimbancos” (77) e “Pirlimpimpim” (82)_, pouca coisa parece mudada em 2000.

“Tanto Tempo”, lançado pelo selo belga Ziriguiboom, não possui ainda promessa de distribuição nacional, nem Bebel pensa em voltar. “O Brasil está meio fora do roteiro por enquanto. Não fui embora por opção. Vim passar um tempo, e as coisas acabaram rolando mais legal fora do Brasil. O que fiz aí nunca deu muito certo. Agora meu maior sonho finalmente está acontecendo”, diz, pelo telefone, de Nova York.

Fora daqui, ela se aninha num seio cheio de adeptos anglo-americanos e europeus. “Tanto Tempo” é o último trabalho produzido (com co-produção de Bebel, Antoine Midani e Béco Dranoff) pelo croata Mitar Subotic, o Suba, morto em 99 num incêndio em seu apartamento, em São Paulo.

Aparecem em participações no CD nomes dessa mesma curva transnacional: o carioca radicado na Inglaterra Amon Tobin, o grupo Smoke City (estabelecido em Londres, mas com vocalista brasileira, Nina Miranda), o bossa-novista histórico João Donato (que costuma ser mais aceito no Japão que no Brasil), o percussionista João Parahyba (ex-Trio Mocotó, leia reportagem à pág. E 3) e o grupo trip hop americano e “brasilófilo” Thievery Corporation.

“É claro que depois de morar nove anos fora eu sabia o que dava e o que não dava certo aqui. Não teria feito esse disco se não estivesse fora”, admite.

Ela conta se o peso de ser filha dos Gilberto com os Buarque (sua mãe é Miúcha, irmã de Chico) foi fator a mais para os descaminhos brasileiros: “É pesado. As pessoas ficam curiosas, e você acaba realmente tendo uma responsabilidade contra a qual é impossível lutar. Mas nunca pensei em ser nem tentei ser melhor que meus pais”.

Ao pai: “Mesmo que não fosse meu pai, eu seria sua fã. Papai pode ter todos os defeitos como pai, que todo pai tem, mas ele é quem está fazendo bossa moderna. O que posso tentar fazer hoje é beber da fonte tentando acrescentar, reciclar”.

A fuga da bossa não seria ímpeto rebelde natural? “Não procuro a bossa, mas ouvi demais meu pai tocando em casa, fui extremamente influenciada por isso. Não consigo, o bicho mora aqui dentro. Sou uma moça velha.”

Mas a moça velha se aliou ao eletrônico, não foi? “Suba abriu minha cabeça, rompeu fronteiras. Tanto a bossa quanto o drum’n” bass têm essa piração com a batida e o tempo. A coisa fecha um ciclo, dá a volta e volta ao jazz.”

João sabe disso? “Acho que meu pai nem sabe o que é drum’n” bass”, ri. E Bebel, é bossa ou bass? “Estou mais perto da bossa, mas moro ao lado do drum’n’bass.”

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