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Análise: Sambista morreu mil vezes na vida

07/06/2000 03h48
PEDRO ALEXANDRE SANCHES, da Folha de S.Paulo

Esta foi apenas a definitiva entre as inúmeras mortes que Moreira da Silva viveu em seus muitos anos. Além de bamba do samba, ele foi mestre em ostracismo, PhD em decadência, exímio em se safar de todas, embora nunca sem arranhões.

É uma história notável sob todos os aspectos (relatada há pouco, brilhantemente, na biografia “Moreira da Silva - O Último dos Malandros”, de Alexandre Augusto). Pois o homem que ganhava a vida como motorista de ambulância meio mamando na teta do Estado foi o mesmo que conformou o mirabolante gênero denominado samba-de-breque.

É aquela confusão de sempre: Moreira não inventou o samba-de-breque (como Luiz Gonzaga não inventou o baião, e assim por diante). Alguém inventou, talvez vários. Mas é ele que vai à história, porque foi quem teve a presença de espírito e a oportunidade de viabilizar o gênero como expressão popular _vulgarizá-lo?

No fim da encruzilhada, ele era o próprio breque, e dêem-lhe “Na Subida do Morro”, “Acertei no Milhar” e pencas de outros clássicos da música de malandro, do canto-fala, da metralhadora verbal, do samba em carne e osso.

Participou à toda das malandragens de sua época, frequentando a baixa boemia daquele que era enfim seu habitat natural, comprando parceiros e músicas, vivendo e sambando a 150 km por hora.

Foi cambaleando, a cada curva atropelado. Baião, bolero, samba-canção, bossa, tropicália, todos deram mordida em seu Moreira. Mas ele era malandro safo, além de grande artista. Seu escudo de couro de gato refratava chumbo grosso. Foi tarde, deixando o breque, mas carregando seu chapéu.

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