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“Laços de Família” é folhetim comercial e competente

07/06/2000 03h50
ESTHER HAMBURGER, da Folha de S. Paulo

“Laços de Família”, a nova novela das oito da Globo, tem um título convencional, que poderia talvez nomear uma novela de Ivani Ribeiro nos anos 60 ou um folhetim francês do século 19. As alianças entrelaçadas no logo seguem o espírito do título. A temática centenária, embalada pelas convenções estritas do melodrama e produzida de acordo com a lógica comercial mais bem-sucedida, oculta as modificações no panorama que descreve.

De que laços fala a novela? Famílias desfeitas e núcleos incompletos motivam a trama, que procura abrir ainda mais o leque _já bastante diversificado_ de arranjos familiares possíveis.

A heterodoxia dos modelos representados não se restringe ao mundo da ficção. O universo demográfico de que fala a novela capta e expressa as modificações que os dados censitários sugerem.

“Laços de Família” é contemporânea, mas se passa alguns meses atrás, às vésperas do Natal de 1999. Essa atualidade um pouco retardada lhe desobriga de tratar dos dramas da conjuntura e acentua a leveza que os telespectadores identificam na novela de época, anunciando que as especificidades da vida familiar no limiar do novo século serão tratadas sem cinismo. O tom é meio educativo, adverte por exemplo contra os perigos de falar ao telefone celular e dirigir ao mesmo tempo.

A vinheta da abertura de “Laços de Família” sugere as continuidades e descontinuidades que caracterizam um gênero de narrativa que sobreviveu às transformações sucessivas da tela, de manufatura artesanal, suporte da pintura, à desmaterialização que caracteriza a tela eletrônica.

Na vinheta, telas representando retratos do Rio, como pinturas da paisagem urbana contemporânea, feitas ao estilo talvez das pinturas impressionistas do século 19, se desfazem em pinceladas de tinta que flutuam nas três dimensões do espaço eletrônico. É como se a vinheta realizasse literalmente o projeto desconstrutivista.

E, gloriosa, a figura de Vera Fischer, no papel de Helena, resgata a solidez dos princípios elementares do parentesco, para além da fragmentação da vida de hoje. Mãe e avó, criou os filhos sozinha, namora, mas é independente, é profissional das artes naturais, vive confortavelmente, trabalha, chora solidária com a filha que estuda em Londres e recebe de bom grado a ajuda do garotão médico que lhe socorre.

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