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Morre Jean Marais, "Fera" do cinema francês

AJB 09/11/98 19h56
Do Rio de Janeiro

Escondido sob a pesada maquiagem que o transformou na besta de A Bela e a Fera, ou com o rosto imponente e os cabelos louros à mostra para encarnar um mito grego em Orfeu, Jean Marais será sempre lembrado como o ator que deu corpo e alma aos personagens imaginados por Jean Cocteau. Hospitalizado desde junho, com a saúde debilitada há mais de um ano, Jean Marais morreu no domingo, aos 84 anos, em um hospital em Cannes. Sua última aparição no cinema foi uma participação especial em Beleza roubada, de Bernardo Bertolucci, no papel de um marchand.

Enquanto lutava para se estabelecer como ator em Paris, Jean Marais foi rejeitado pelas principais escolas de arte dramática até que, em 1937, conheceu Jean Cocteau. Estava estabelecida uma forte parceria. Marais foi companheiro de Cocteau até a morte do poeta e cineasta, em 1963, e juntos formavam um dos casais mais proeminentes da vida cultural francesa. A parceria também transformou Marais num dos mais respeitados atores da história do cinema.

O multitalentoso Cocteau chegou a creditar à sua relação com Marais uma parte de sua inspiração para as peças, filmes, poemas e desenhos que produziu. Marais trabalhou na peça Les parents terribles e mais tarde na versão cinematográfica do texto, de 1948, batizada O pecado original em português. No que provavelmente terá sido seu mais importante trabalho no cinema, Marais deu vida à visão peculiar e moderna do mito de Orfeu imaginada pelo cineasta em Orfeu, de 1949, e O testamento de Orfeu, de 1960. Mas é a belíssima e poética versão para o conto infantil A Bela e a Fera, de 1946, o filme mais popular dos dois. Apesar de sua dedicação a Cocteau, Marais trabalhou também com outros diretores de primeira linha como Jean Renoir, Luchino Visconti e Abel Gance.

Jean Marais nasceu em 11 de dezembro de 1913, em Cherbourg, na França. Pouco depois, sua mãe abandonou o marido e se mudou com Jean e o irmão Henri para os subúrbios de Paris. Fascinado pelo teatro já desde criança, ele dizia aos amigos que a mãe era uma atriz da Comedie Française. Deixou a escola aos 16 anos e suas várias tentativas de ingressar nas escolas de teatro falharam. Antes de conhecer Cocteau, foi um fotógrafo aprendiz.

Entre seus trabalhos mais recentes estão apresentações no Cabaré Les Folies Bergères e a interpretação de Próspero numa montagem de A tempestade, de Shakespeare, nos palcos de Paris. Jean Marais publicou mais de uma autobiografia e organizou uma retrospectiva de seu trabalho como artista plástico em 1995. "A vida é injusta", ele disse certa vez, "só tive o melhor". Jean Marais tinha um filho adotivo, Serge.



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