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Começa o Festival de Cannes com cinco filmes brasileiros

AMIR LABAKI 10/05/2000 09h29
da Folha de S.Paulo em Cannes

Em meio a uma crise interna, o 53º Festival Internacional de Cinema de Cannes (França) começa nesta quarta-feira (10) apresentando a mais forte presença brasileira em três décadas. O último evento sob a direção artística do “delégué general” Gilles Jacob é aberto pelo filme de época “Vatel”, estrelado por Gérard Depardieu para Roland Joffé (“A Missão”), e por um curta inédito de Jean-Luc Godard, “De l’Órigine du 21ème Siècle” (Da Origem do Século 21).

Somando-se todas as mostras, fora o mercado, o Brasil teve selecionado um total de cinco filmes (dois longas e três curtas). “Estorvo”, a versão de Ruy Guerra para a novela de Chico Buarque, concorre à Palma de Ouro. “Eu, Tu, Eles”, o segundo longa de Andrucha Waddington, traz Regina Casé exercitando a poligamia dentro da mostra Um Certo Olhar.

A gaúcha Ana Luíza Azevedo (“Barbosa”) concorre à Palma de Ouro dos curtas com o tocante “Três Minutos”. A competição de curtas para revelações Cinéfondation escolheu para sua disputa a animação metacinematográfica “De Janela para o Cinema”, de Quiá Rodrigues. E o gráfico “Rota de Colisão”, de Roberval Duarte, representa a América Latina no mais importante ciclo paralelo, a Quinzena dos Realizadores.

A marcante participação nacional não deve provocar ilusões muito grandes. Cannes destaca a “retomada” pós-Embrafilme exatamente quando internamente fazem sentir com vigor os sinais de sua perda de fôlego.

Ruy Guerra, um dos pioneiros do cinema novo, é um veterano de Cannes. “Estorvo” é seu terceiro longa a participar da competição oficial. Precederam-no “Erêndira” (1983) e “Kuarup” (1989).

Guerra forma ao lado de cineastas como Nagisa Oshima, Lars von Trier, os irmãos Coen, Ken Loach e James Ivory o grupo de favoritos convocado por Jacob para encerrar em nota alta sua gestão como curador do festival.

No posto desde 1978, Jacob torna-se após esta edição o presidente do evento.

Sua sucessão foi reaberta no final do mês passado, no dia mesmo do anúncio da seleção oficial. Seu herdeiro já apontado, o crítico e produtor de TV Olivier Barrot, rompeu com o festival criticando a política de escolhas de filmes. Num violento artigo publicado pelo diário francês “Libération”, Barrot defendia que é necessário “mudar Cannes para salvar Cannes”. Criticava sobretudo o trabalho “desigual” dos pré-selecionadores regionais e o afastamento de Hollywood.

Desconhecem-se os bastidores da ruptura, mas as críticas fazem sentido. Em suas duas décadas de poder, Jacob elevou o perfil do festival, mas acabou cristalizando uma casta de “suspeitos de sempre” para representar a maior parte das cinematografias (Oliveira para Portugal, Moretti para Itália, Loach para a Inglaterra etc.).

Frente ao cinema americano, acertou ao privilegiar na última década a ascendente produção independente (Coen, Soderbergh, Spike Lee), mas não precisava afastar-se tanto do melhor da grande produção.

É natural que as atenções se concentrem sobre uma competição tão forte ao menos no papel, mas Cannes traz ainda, fora de concurso ou em mostras paralelas, curiosidades como “Honest”, o primeiro filme de Dave Stewart dos Eurythimics, e “Shadow of the Vampire” (Sombra do Vampiro), sobre as filmagens do “Nosferatu” (1922) de Murnau.

Não sei do futuro, mas o presente promete.

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