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Oliver Stone filma o futebol Disneylândia

Da Folha de S.Paulo 14/04/2000 10h46
Em Los Angeles

Poucos cineastas entraram tão fundo e com tanta determinação na consciência de sua geração quanto Oliver Stone. Talvez por essa razão, ele, um produto da juventude dos anos 60, retorne com tanta frequência a temas como drogas, música, ganância, masculinidade e guerra, entre outros.

Com “Um Domingo Qualquer”, é a vez de Oliver Stone jogar-se no mundo corporativo e atual do futebol americano.

O filme explora a rotina do esporte que se transformou em evento imbatível. Não somente para aqueles que comparecem ao campo como para os milhões que, de casa, acompanham seus gladiadores prediletos pela pequena telinha, responsável pela transformação desse esporte num gigantesco e lucrativo evento de mídia.

No longo “Um Domingo Qualquer” (o filme passa das duas horas de duração), Oliver Stone conta com um elenco de primeira: Al Pacino é um veterano técnico de futebol; Cameron Diaz, a dirigente de um clube; e Dennis Quaid, um dos jogadores que recorrem ao que podem para manter seus nomes em destaque numa carreira cuja sobrevida não passa de quatro anos de competição profissional. O cenário é composto, ainda, de outros talentos como Ann-Margret, LL Cool J, Elizabeth Hurley, James Woods, Jamie Foxx e do próprio Stone.

Em entrevista à Folha, o cineasta fala de seu fascínio pelo futebol e, entre outros assuntos, de sua reputação de ser um dos mais exigentes cineastas da atualidade nos sets de filmagem.

Folha - Por que o sr. resolveu discutir em filme o mundo do futebol americano?

Oliver Stone - Justamente pelo fato de o esporte ter mudado tanto com o passar dos anos. Hoje o futebol não passa de uma enorme corporação. O preço das equipes saltou para valores impressionantes. Times já possuem preço de mercado estimado em quase US$ 1 bilhão, dinheiro que daria para comprar todas as equipes de poucas décadas atrás juntas. A idéia é fazer de cada time uma grande Disneylândia, como se o esporte ainda fosse um entretenimento para toda a família como era antes.

Folha - Seria vender uma imagem “light” do que realmente representa o esporte?

Stone - Correto. Eles têm de vender essa versão do jogo para o público. Hoje o futebol é um negócio e tanto, que movimenta bilhões de dólares. E essa fortuna está em jogo a cada minuto. Qualquer crítica, acusação de uso de drogas por um jogador ou violência familiar pode levar uma equipe à ruína. A verdade é que esses problemas são uma constante no mundo do futebol.

Como em qualquer outro negócio, existe gente boa envolvida no esporte, mas também muitos criminosos, gente que mata, muitas festas, drogas. Estamos falando de muitos caras que saíram do gueto sem ter tido a oportunidade de frequentar a escola. Eles não tinham outra opção na vida a não ser se transformar numa estrela do futebol ou num boxeador famoso para ter um futuro.

Folha - Gravar um filme sobre um esporte tão violento e rápido não resultou em contusões no set?

Stone - Várias. Eu mesmo fiquei com um dedo do pé roxo durante dois meses por causa de uma pisada de Jamie Foxx. Mas isso era de esperar. Esse é um filme que não tem vilões. Mesmo a personagem interpretada por Cameron Diaz, que é uma pessoa bem durona e aparentemente fria e calculista, não passa de uma menina. Ela foi criada sob muita rigidez por parte do pai. Cresceu sendo tratada como um garoto. A mãe era uma alcoólatra, e por aí vai. Tentei trazer essas surpresas no filme. A aparência desmascarando a realidade.

Folha - E a fama de cineasta durão no set que o sr. tem faz sentido?

Stone - Acho que você se torna um cineasta diferente em cada filme que faz. Nesse filme, tive de ser bastante metódico, regrado, porque eu tinha um elenco masculino enorme sob meu comando. Muitos corpos em movimento, muita rapidez. Fiz o filme em 65 dias, o que para mim foi uma vitória, já que, se comparado à média, poderia ter feito um filme gravado em cem dias, caríssimo e com grandes chances de fracasso.

(Claudio Castilho)

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