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“Cultura de Boteco” quer resgatar a boemia paulistana dos anos 60

da Folha Online 15/05/2000 19h11
em São Paulo

O projeto “Cultura de Boteco” reúne 40 músicos, compositores e sambistas que vêm se apresentando semanalmente em bares, praças e outros locais públicos de São Paulo. Agora, o grupo iniciou uma segunda fase do trabalho, tocando nas quadras das escolas de samba paulistanas.

“Temos 96 escolas de samba na capital. Nosso objetivo é reunir e tocar para a comunidade carente em um local de fácil acesso. O artista tem que ir onde o povo está, isso é cultura”, afirma o ritmista Celsinho de Oliveira, coordenador do grupo.

O “Cultura de Boteco” é um movimento sem fins lucrativos que foi idealizado por Zé Keti em 1996. “Queremos resgatar a boemia de antigamente”, disse Oliveira.

No último final de semana o grupo se apresentou na Escola de Samba Tom Maior, no Sumaré (sábado) e na Unidos de São Lucas (domingo).

“Foi emocionante”, disse Oliveira. “No sábado cerca de 500 pessoas estiveram na quadra da Tom Maior e no domingo mais de 5.000 na São Lucas”, afirmou. Para o músico, o ponto alto do encontro foi ter visto pessoas que são mais novas do que a música cantando e conhecendo a letra.

Os músicos só fazem uma exigência para o show: não pode ser cobrada entrada de nenhuma forma nas escolas de samba. “Conversei com o pessoal da Rosas de Ouro e eles queriam cobrar um quilo de alimento como entrada, mas não aceitamos porque tocamos para quem não tem nem um quilo de comida em casa”, afirma Oliveira.

O repertório do grupo é formado por MPB, bossa nova, chorinho e samba de raiz. “Sabíamos que teríamos alguns problemas de som e de organização, por isso deixamos o próximo final de semana sem nada agendado para corrigirmos todas as falhas”, disse o organizador.

Depois, nos dias 27 e 28, o “Cultura do Boteco” deve estar presente na quadra da Camisa Verde e Branco e da Unidos do Peruche. “Estamos conversando e nos próximos dias tudo deve estar acertado”, afirmou Celsinho de Oliveira.

“Queremos fazer chegar a nossa juventude um pouco das raízes da verdadeira cultura musical brasileira, que se tornou um cartão postal do nosso país no exterior”, disse o organizador. Ele se refere às músicas tradicionais e que não são tocadas nas rádios, nem na televisão. “Aquilo que foi produzido entre 1967 e 1974, mas que não faz parte das grandes gravadoras, que dominam o mercado.”

Na década de 60, no auge da ditadura, os pontos de encontro eram os bares da região central de São Paulo, onde as pessoas se encontravam para conversar e tocar. “É isso que estamos resgatando, sem cobrança de consumação obrigatória ou de couvert artístico”, afirma o ritmista.

(André Tarchiani Savazoni)

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