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Paulo Coelho visita o Irã e publica traduções “corretas”

LUIZ ANTÔNIO RYFF 16/05/2000 07h42
da Folha de S.Paulo

Em meio à instabilidade política e protegido por um esquema especial de segurança, Paulo Coelho desembarca na próxima semana em Teerã (Irã). Não é uma viagem comum. Coelho é o segundo escritor que mais vende livros no mundo (com 27 milhões de exemplares). Católico, vai ao encontro do maior país xiita do planeta _que povoa o imaginário ocidental como lugar de intolerância política e religiosa.

Além disso, há um dado que faz da visita um marco histórico. Coelho será o primeiro escritor não-muçulmano a ir ao Irã após a “fatwa” (sentença de morte) decretada em 1989 contra o anglo-indiano Salman Rushdie, autor de “Versos Satânicos”, livro considerado uma blasfêmia contra o profeta Maomé. A condenação agravou o isolamento político, econômico e cultural vivido pelo país.

Na verdade, Coelho será o primeiro escritor não-muçulmano a viajar ao Irã desde a Revolução Islâmica, que derrubou o xá Reza Parlevi, pondo fim à monarquia e instituindo a república islâmica no país. E isso ocorreu há 21 anos.

Coelho acredita que sua viagem provocará controvérsia. Ele conta que alguns de seus editores desaconselharam a ida temendo por sua segurança e por uma possível repercussão negativa no mundo literário. “Acredito que receberei muitas críticas”, avalia ele, que se vê como uma ponte para tirar o país do isolamento.

Ele admite estar correndo certo risco de vida. Mas lembra de situações semelhantes vividas no Brasil e durante uma viagem ao Líbano em 1996, quando havia possibilidade de sequestro. “Já fui sequestrado pelos paramilitares no Brasil (durante o regime militar). Tenho muito mais medo de sequestro do que da morte.”

Mesmo isolados, os iranianos descobriram os livros de Paulo Coelho. E, como em outros lugares, a iniciação se deu com “O Alquimista”, best seller traduzido para 45 línguas e com 11 milhões de exemplares vendidos.

No Irã, Coelho já vendeu cerca de 4 milhões de cópias entre os quase 70 milhões de habitantes. É lá que ele tem um dos dois maiores percentuais de leitores per capita. A ironia é que o outro país é Israel -espécie de antípoda político do país muçulmano.

Mas esse exército de leitores que compram os livros de Coelho no Irã nem sempre está lendo Paulo Coelho. É comum que suas traduções sejam acrescidas de várias páginas. Adições que podem vir com um aviso na capa: “edição completa”. “É o que aconteceu com “O Alquimista”. Há uma edição com cem páginas a mais‘, diz Paulo Coelho.

Isso acontece porque o Irã não é signatário do Tratado de Berna, que padronizou a questão de direitos autorais no mundo inteiro. Com isso, os escritores estrangeiros publicados no país não recebem um centavo relativo à venda. Quem recebe são os tradutores, o que explica a quantidade de versões diferentes para uma obra.

Uma das razões da visita é justamente organizar as edições de seus livros no país. “Indo ao Irã, não vou ganhar um centavo a mais. Mas vou entregar a tradução para uma editora”, explica.

Na agenda de Coelho, estão previstos encontros com o ministro da Cultura e com o presidente iraniano, Mohammad Khatami, expoentes da ala reformista que se esforça para tirar o Irã do isolamento e que mantém uma relação conturbada com os “mullahs” (as autoridades religiosas).

Isso se ele conseguir ir. A instabilidade política é uma ameaça. O novo parlamento deve ser empossado no dia 27. Nele, pela primeira vez, os reformistas terão maioria.

Há poucos dias, diversos jornais que apóiam as mudanças foram fechados. No sábado (13), uma cidade iraniana foi bombardeada supostamente por adversários do regime apoiados pelo Iraque. “Estamos com os dedos cruzados, mas é uma situação absolutamente instável”, diz Coelho.

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