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Competição em Cannes segue sem favorito

AMIR LABAKI 16/05/2000 07h52
da Folha de S.Paulo, em Cannes

Quatro versões distintas da desordem amorosa, sendo três contemporâneas e uma de época, marcaram o domingo (14) e a segunda-feira (15) a competição de Cannes. O nível permanece superior ao dos últimos anos, mas a Palma de Ouro continua sem favorito.

As chances de premiação são maiores para “Yi Yi” (Um e Dois e...), do chinês de Taiwan Edward Yang. O título é “jazzístico”, explica, como na abertura de um improviso.

O filme é um grande mosaico das relações humanas na Taipei contemporânea, do berço ao túmulo. O epicentro é um casal de classe média em plena crise existencial. Ela busca um retiro religioso, ele reencontra o primeiro amor. Enquanto a matriarca sofre um derrame, sua neta adolescente começa a descobrir o amor enquanto o carismático caçula pontua o filme com as intervenções mais divertidas.

Filmado em ritmo compassado e câmera estática, “Yi Yi” estende seu campo flagrando sutilmente outros esquetes da vida romântica. “Yi Yi” é o “Janela Indiscreta” de Yang e de longe seu melhor filme.

Também o russo Pavel Longuine (“Taxi Blues”) acertou a mão como nunca em “La Noce” (O Casamento). A rica fauna de tipos excêntricos de uma cidadela de interior se revela ao reunir-se para as bodas do filho de um ex-herói comunista com sua ex-namorada de infância, uma bela modelo que volta de Moscou depois de romper com seu amante mafioso. Longuine assina aqui o mais envolvente retrato recente da Rússia profunda.

Já Amos Kollek posa de discípulo de Woody Allen no tedioso “Fast Food, Fast Women” (Comida Barata, Mulheres Rápidas). Solitários da classe média nova-iorquina procuram novos pares. Riu-se muito na sessão de imprensa. Não eu.

Por fim, James Ivory volta à boa forma em sua versão para “The Golden Bowl” (A Copa de Ouro), de Henry James. Um roteiro esplêndido de Ruth Prawer Jhabvala leva às telas, com rara felicidade, o quarteto amoroso formado, na Londres do início do século, por um bilionário americano (Nick Nolte), sua ingênua filha (Kate Beckinsale), seu marido italiano (Jeremy Northam) e sua ex-amante agora casada com seu sogro (Uma Thurman). A adaptação de Jhabvala vale um curso de cinedramaturgia.

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