BUSCA Miner



Índice | Próxima

“Através da Janela” narra uma complicada relação entre mãe e filho

DANIEL CASTRO 19/05/2000 10h29
da Folha de S.Paulo

Divulgação

Diretora Tata Amaral
Segundo filme da cineasta Tata Amaral, 39, “Através da Janela” chega nesta sexta-feira (19) a três cinemas de São Paulo e a dois do Rio, depois de percorrer vários festivais, entre eles o de Roterdã (Holanda).

Rodado no bairro da Lapa (zona noroeste de São Paulo) em 1998, ao custo de R$ 1,4 milhão, o filme retrata, resumidamente, cinco dias da vida de uma mãe superprotetora, Selma (Laura Cardoso), e de seu filho, o desempregado Raimundo, o Raí (Fransérgio Araújo), que a explora de forma, digamos, sedutora.

Tata Amaral filmou uma tragédia, no sentido grego _ou teatral_ da palavra, tendo esse cotidiano como pano de fundo. No primeiro dia (cada dia é um ato), Selma aparece dona da situação.

Aos poucos, graças à intromissão da amiga Tomasina (Ana Lúcia Torre), Selma vai percebendo que algo está errado com o filho, que recebe telefonemas de uma mulher misteriosa. Mas ela se recusa a querer descobrir quem é.

Tata Amaral espera atrair até 100 mil espectadores para seu filme, embora concorde que “nada de extraordinário‘ acontece nele. Leia a seguir trechos de entrevista à Folha.

Folha - No filme, não está claro que existe uma relação incestuosa entre mãe e filho. Em determinado momento, eles se dão conta de que existe erotismo, mas o repelem.

Tata Amaral -
O que eu quis contar é exatamente isso. É uma das características da Selma. Ainda que esse erotismo aflore, ela não quer ver, assim como ela não quer ver que o filho está estranho, que ele não trabalha. Para ver isso, ela precisa da vizinha, a Tomasina.

O filme foi construído em cima dessa personagem, que é aprisionada em seu cotidiano. Procurei trabalhar todas as ações do filme dentro do campo do cotidiano. Nada de extraordinário acontece. A gente procurou também trabalhar alguns elementos da tragédia clássica e a Tomasina funciona como o coro grego, que expressava o ponto de vista do homem comum. A Tomasina vai apontando, mas a Selma, que está dentro desse mundo que ela criou, não quer ver. Uma das maneiras de contar que ela não quer ver foi com esse erotismo.

Folha - Isso não pode repelir o público?

Tata -
Engraçado. Nas sessões que tenho ido, em pré-estréia, não tem chocado. Aquela mãe é qualquer mãe, e as pessoas enxergam isso. Procurei trabalhar essa mãe como doadora incondicional e responsável pela integridade do filho, até as últimas consequências, e essa figura é conhecida de todos.

Folha - Você quis fazer um filme sobre o cotidiano de mãe e filho?

Tata -
Não. Eu queria continuar a pesquisa, que comecei com “Um Céu de Estrelas”, sobre a estrutura trágica, porque adoro tragédia, a primeira manifestação dramática do mundo. A tragédia nasceu para expressar uma crise entre a tradição dos gregos e a vida contemporânea das cidades.

Por acaso, o Jean-Claude (Bernardet, autor do argumento e co-roteirista, ao lado da própria Tata Amaral e de Fernando Bonassi) foi assistir à peça “Vereda da Salvação” (dirigida por Antunes Filho), em que há uma cena em que o Luiz Mello está falando para o público, se transformando em líder, e a mãe sai detrás do palco e fica atrás dele. Essa cena inspirou todo o roteiro. A mãe é a Laura Cardoso. Esse filme foi inspirado por uma cena da Laura.

Folha - É quase um filme-solo para Laura Cardoso?

Tata -
É, é um filme para ela.

Leia também:
Filme deixa espectador à margem das relações entre personagens
Laura Cardoso é o destaque da estréia de “Através da Janela”
“Um Céu de Estrelas” reestréia nesta sexta com “Através da Janela”
"Gladiador", de Riddley Scott, chega aos cinemas brasileiros

Clique aqui para ler mais de Ilustrada na Folha Online

Índice | Próxima

 EM CIMA DA HORA