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Morre ator Brandão Filho

AJB 22/03/98 15h14
Do Rio

A televisão brasileira perdeu neste fim de semana um de seus maiores humoristas. Brandão Filho, que estava internado com câncer há 42 dias no hospital Rio Mar, morreu às 4h30 de hoje, após duas paradas cardíacas. O corpo do ator foi sepultado no próprio domingo à tarde, Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap (zona Oeste). Brandão Filho estava com 88 anos e já havia sido internado antes, por 15 dias, no Instituto Brasileiro do Coração, após um infarto. Antes disso, há três meses, ele perdeu o irmão, Afonso Brandão, que era redator de programas humorísticos.

O ator era um dos últimos representantes de um tipo de humor instintivo e popular que marcou os comediantes da era do rádio. Careteiro e com uma inflexão de voz maliciosa, Brandão criou bordões que ganharam a boca do povo, como o "mata o velho, mata". Mas foi o inesquecível primo pobre que popularizou o comediante. O personagem foi criado por Max Nunes e Haroldo Barbosa para o programa Balança mas não cai, da extinta Rádio Mayrink Veiga, no início da década de 50, e apresentado na televisão entre 1968 e 1972. Com a morte do ator Paulo Gracindo, Chico Anysio fez uma homenagem em seu programa recriando o primo rico, o que levou Brandão a repetir o bordão "primo, você é ótimo" até a saída da atração do ar.

‘Já tinha perdido o primo rico, agora se foi o primo pobre", disse onte, emocionado, Max Nunes. Para ele, a grande peculiaridade do comediante eram os gestos, e a maneira de falar. "Ninguém segurava o riso quando ele falava "mata o velho", lembra. Max lembrou de outros personagens tão famosos quanto o Silva. "Na época do Balança mas não cai o público também adorava o Tancredo, da dupla Tancredo e Trancado (Apollo Correia)."

Moacir Brandão Filho teve como escolas o circo, as companhias teatrais e o rádio. O talento para a comédia herdou do pai, o célebre comediante Brandão. Na televisão começou pela Tupi, em 1954, de onde foi para a TV Globo, em que participou de vários programas humorísticos, entre eles a Escolinha do professor Raimundo, Viva o gordo e Chico total, além de oito novelas.

Na década de 70, o ator também celebrizou o avô do seriado A grande família, de Oduvaldo Vianna Filho. Não foi sem receio que aceitou fazer um papel completamente oposto aos personagens engraçados: um carregador ávaro e mulherengo no filme Romance de empregada, de Bruno Barreto. O temor se mostrou infundado, já que o papel lhe valeu o prêmio Air France de Cinema Louis Lumière, em 1988.

Com mais de 60 anos de carreira, Brandão Filho orgulhava-se de nunca ter ficado desempregado. Mas ultimamente já não era mais possível encontrar o comediante tomando um chopinho nos bares do Leblon, onde morava com o filho.


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