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“Fiz o Watergate do rock’n’roll”, diz Robert Rosen
da Folha de S.Paulo 30/05/2000 08h55
em San Francisco
A seguir, entrevista com Robert Rosen, autor do livro “Nowhere Man - The Final Days of John Lennon”, que sai em junho nos EUA. (APJ)
Folha - Como os diários de Lennon chegaram a suas mãos?
Robert Rosen - Eu era amigo de um ex-funcionário dele, Fred Seaman, desde a faculdade, em 1973. A família Seaman estava envolvida com Lennon havia 20 anos. Seaman foi trabalhar como secretário de Lennon.
Desde o primeiro dia no emprego, disse que queria minha colaboração num livro, que, segundo ele, John pediu que escrevesse. Depois do assassinato, Seaman me disse: “Chegou o dia”.
Folha - Quanto tempo depois do crime o sr. viu os diários?
Rosen - John foi morto em dezembro de 1980, e eu vi os diários no fim de maio de 1981.
Folha - Até que foram roubados.
Rosen - Fiquei com o material até o fim de 1981. Li tudo e transcrevi. No começo de 1982, Ono demitiu Seaman. Apareceu alguém interessado em financiar o projeto, e Seaman sugeriu que eu tirasse férias. Tirei. Na volta, tinham roubado os diários e as transcrições do meu apartamento. Foi Seaman. Ele tinha a chave.
Folha - E o sr. nunca pensou que era arriscado manter um material tão valioso em casa?
Rosen - Agora é fácil dizer isso, mas eu confiava em Seaman. Liguei para Seaman, e ele falou: “Fui eu mesmo, e daí?”. Aos poucos, fui me dando conta de que toda a história daria uma grande reportagem. Era o equivalente rock’n’roll do caso Watergate. Eu ainda lembrava muita coisa. Escrevi tudo de novo, juntando com meu próprio diário. Levei para Jan Wenner, o dono da revista “Rolling Stone”.
Folha - E então ele o pôs em contato com Yoko?
Rosen - Isso. Contei a história a Yoko. Ela pediu para ver, incluindo meus diários. Sugeri que me contratasse, que me pagasse um salário para eu entregar meus diários. A negociação foi em um banheiro, entre mim, Yoko e Sam Havadtoy, namorado dela na época.
Com minhas informações, Yoko conseguiu os diários de Lennon de volta e mandou Seaman para a cadeia, por roubo. Os meus próprios diários Yoko só devolveu há um mês, quase 20 anos depois. Faltando uma parte.
Folha - Quanto Yoko lhe pagava?
Rosen - Mal dava para viver. Eram US$ 200 por semana. Por cinco meses.
Folha - Por que demorou tanto tempo para o livro sair?
Rosen - Porque sei o que está nos diários, mas, por razões legais, não podia basear o livro nisso. Parecia que seria impossível contar a história. Mas, nesses 17 anos, eu sempre via fragmentos que estavam na minha memória aparecendo em outros livros, imprensa. Com a explosão da Internet, comecei a ver na rede muita coisa que eu já sabia. Usei os diários como um mapa para a verdade.
Folha - Qual a sua parte preferida do livro?
Rosen - Para mim, o destaque está na quantidade de informação acumulada. Mais do que grandes revelações, o que pretendi com o livro foi que, ao terminá-lo, o leitor tenha uma idéia de como era ser John Lennon. Ser extremamente rico e famoso, em vez de resolver, exacerba problemas. Foi o caso de Lennon.
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