BNDES diz que Bradesco pode entrar no leilão da Vale

Banco investiria indiretamente para contornar proibição legal

Agência Folha 02/04/97 19h15
Do Rio

O Bradesco poderá participar do leilão de privatização da Companhia Vale do Rio Doce, mesmo tendo atuado no processo de avaliação da estatal. O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luiz Carlos Mendonça de Barros, disse que o banco poderá participar como financiador de um dos compradores ou por intermédio de um fundo de investimentos administrado pelo Bradesco.

O BNDES é o gestor do programa de privatizações do governo federal. Pelas normas da privatização da Vale, nenhuma empresa que tenha atuado nos processos de avaliação e de modelagem de venda da estatal poderá participar do leilão, diretamente ou por meio de subsidiária.

O Bradesco se enquadra nessa proibição por ter assessorado a consultora Merrill Lynch no processo de avaliação da Vale. Mas o banco tem interesse em participar do leilão e vem buscando uma fórmula que lhe permita essa participação sem cair em ilegalidade. Para o presidente do BNDES, a participação como financiador ou como administrador de um fundo pode ser a solução.

No caso da opção de entrar como financiador, por exemplo, da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Mendonça de Barros disse que o Bradesco é um banco comercial, que tem como finalidade emprestar dinheiro, e que ele não vê problema de o banco entrar no leilão por esse caminho. ''O que está impedida é a participação com capital de risco'', disse Mendonça.

Ele afirmou que a participação por intermédio de um fundo de investimentos também é possível. ''Não posso proibir que ele participe em nome de terceiros'', disse. Nesse caso, de acordo com Mendonça de Barros, o que o Bradesco não poderá fazer é comprar ações da Vale para sua própria carteira. Isso, segundo ele, seria cuidadosamente fiscalizado para que não ocorresse, na hipótese de o Bradesco realmente utilizar essa via para entrar no leilão.

Banco espera dois
consórcios na concorrência

O vice-presidente do BNDES e diretor do banco para a área de desestatização disse hoje que está amadurecendo a possibilidade de dois consórcios disputarem o controle da Vale. Ele considera difícil que o número de concorrentes chegue a três. De acordo com Borges, os consórcios deverão ser aqueles que vêm sendo citados no noticiário, um liderado pela CSN e outro pelo grupo Votorantim.

Segundo Borges, o primeiro tem como outros prováveis integrantes a associação Mitsui (Japão)-Caemi (Brasil); os grupos nacionais Camargo Corrêa e Suzano; o fundo de ações do Nations Bank (EUA); o Fundo Soros, também dos Estados Unidos; e o banco de investimentos Opportunity (Brasil).

Na outra ponta, o Votorantim teria como principais sócios a Anglo American (África do Sul); a Nippon Steel (Japão) e os fundos de pensão nacionais. Esses fundos já possuem 15% das ações ordinárias (com direito a voto sem restrições) da Vale.