Privatização da CEEE bate recorde de ágio

AES, dos Estados Unidos, pagou R$ 1,5 bi, 93,55% a mais do que o mínimo

AJB 21/10/97 17h05
De Porto Alegre

Um novo recorde de ágio no programa de privatizações no Brasil foi batido hoje, na venda da distribuidora de energia elétrica Centro-Oeste do Rio Grande do Sul. A empresa americana AES venceu o leilão oferecendo R$ 1 bilhão 510 milhões, correspondente a um ágio de 93,55%, sobre o preço mínimo de R$ 780.127.273,73.

A outra distribuidora leiloada, a Norte-Nordeste - ambas da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) -, foi vendida por R$ 1 bilhão 635 milhões (ágio de 82,62%) para o consórcio liderado pela empresa americana CEA e pelo grupo VBC (Votorantin, Bradesco e Camargo Correa). O preço mínimo era de R$ 895.295.467,34. O preço total dos dois leilões, R$ 3 bilhões 145 milhões, foi o maior negócio já realizado pela Bolsa de Valores do Extremo Sul, que coordenou os leilões na sede da Federação das Indústrias (Fiergs). As empresas vencedoras terão de depositar o dinheiro in cash, na próxima segunda-feira, dia 27.

O governo gaúcho, no final da noite de ontem, havia obtido do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Celso de Mello, a liberação total dos dois leilões, derrubando a preferência de compra que havia sido dada pela justiça gaúcha, para a cooperativa dos eletricitários. Já o Sindicato dos Eletricitários chegou a entrar na manhã de hoje com nova ação, mas não obteve a liminar da juíza da 1ª Vara da Fazenda Pública, Dulce de Castro Boller, que pediu novas informações ao sindicato.

Havia sete consórcios habilitados a participar do leilão, mas 20 minutos antes do início do processo de venda, marcado para as 10h30, a argentina Perez Companc, com a corretora Itaú, desistiram de apresentar propostas. O superintendente da Bolsa de Valores do Extremo Sul, Jessé Grimberg, iniciou o leilão efetivo, com a entrega das seis propostas, às 10h45min, através de envelopes fechados e rubricados pelos concorrentes. Num clima de expectativa na venda da Norte-Nordeste, a americana CMS ofereceu R$ 1 bilhão 335 milhões na primeira oferta, batendo outras ofertas, como a da belga Tractebel (R$ 1 bilhão 310 milhões) e da americana AES (R$ 1 bilhão 510 milhões). A oferta da CERJ (formada pela espanhola Endesa, a chilena Chilectra e a portuguesa EDP) foi a menor, com R$ 1 bilhão 117 milhões 886 mil e 777. Logo acima estava a da Escelsa, com R$ 1 bilhão 236 milhões 666 mil.

Mas ninguém bateu o consórcio VBC e a americana CEA, com o preço de R$ 1 bilhão 635 milhões, através da corretora Bradesco. A vitória no leilão foi comemorada pelos seus diretores e corretores com gritos e pulos, como se fosse uma partida de futebol. O mesmo aconteceu com os diretores da americana AES que, por sua vez, venceu o leilão da distribuidora Centro-Oeste com ágio recorde de 93,55%, mas mantendo o mesmo preço ofertado pela outra distribuidora, R$ 1 bilhão 510 milhões, feito através da corretora Brascan. O consórcio VBC/CEA não participou do segundo leilão, o da Centro-Oeste, porque o programa de privatizações não permite que o vencedor de uma licitação concorra noutro processo de compra.

O leilão promovido pelo governo gaúcho de duas das três empresas privatizáveis da nova CEEE - outras três ficarão com o estado -, foi cercado de forte segurança: mais de 100 policiais militares, à pé e à cavalo, permaneceram na área da Fiergs, que conta com a vantagem de estar distante do centro da capital (mais de 20 km), reduzindo a possibilidade de manifestações de oposição. Um pelotão de choque foi mantido discretamente no local, caso houvesse necessidade, o que não ocorreu. Até o secretário de Minas e Energia, Assis de Souza, também coordenador do programa de reforma do estado, passou pelo detector de metais da Fiergs. No final do leilão, ele levou como lembrança o martelo de madeira da licitação.

"A venda das duas distribuidoras significa mais infra-estrutura, saúde e educação para os gaúchos", disse o eufórico secretário de Energia, Assis de Souza. Ele frisou que "o ágio surpreendeu quem não acredita no Rio Grande do Sul". Assis de Souza explicou que a quantia de R$ 1 bilhão 635 milhões da Norte-Nordeste serão destinados ao Fundo de Reforma do Estado, para investimentos no Rio Grande do Sul. Já os outros R$ 1,510 bilhão da Centro-Oeste "servirão para pagar as dívidas da CEEE". O secretário substituto de Energia, Gustavo Götze, acrescentou que parte do valor servirá "para comprar as dívidas mais caras e próximas, na faixa dos R$ 350 milhões, e também para novos investimentos".

O presidente da CEEE, Pedro Bish Neto, afirmou que "a venda das duas distribuidoras termina com o pesadelo das dívidas da estatal". Já o presidente da Federação das Indústrias (Fiergs), Dagoberto Lima Godoy, ao destacar "o novo recorde nacional de ágio nas privatizações, na venda da Centro-Oeste", disse que com a sua nova estrutura, o estado, através da agência de controle e acompanhamento das empresas privatizadas, se unirá ao cidadão "na fiscalização dos serviços prestados pelas concessionárias privadas". Os consórcios vencedores terão direito a explorar os serviços por 30 anos renováveis. Nos cinco primeiros anos não haverá alteração nos preços das tarifas.


 

   
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