|
|
Como faz um computador para jogar xadrez como um campeão
Deep Blue pode enganar muita gente
Fabio Tagnin, do Universo Online 09/05/97 21h10
De São Paulo
A partida de xadrez entre o campeão mundial Gary Kasparov e o exímio
jogador cibernético Deep Blue, programado por cientistas da IBM, levanta
uma questão interessante sobre o futuro, ou talvez até presente, do
pensamento artificial. Até que ponto é possível distinguir uma máquina de
um ser humano pelas suas ações?
Já em 1950, o grande pioneiro da computação científica Alan Turing propôs
um teste para resolver a questão. O estratagema era algo do tipo: você está
à frente de dois seres, representados por teclado e monitor. Um deles é uma
pessoa e outro um computador. Você digita algumas perguntas em um dos
teclados e a resposta é mostrada no monitor. Se você não puder distinguir
com certeza qual é a pessoa e qual o computador, este último passa no teste.
Hoje não existem computadores que passem no teste de Turing, mas é possível
criarmos testes mais simples, nos quais alguns computadores podem até ter
sucesso. O xadrez é um exemplo de teste, em que hoje um computador como o
Deep Blue pode "enganar" muita gente. Programado com minuciosa precisão e
com inúmeras partidas em sua memória, o Deep Blue possui hardware baseado
na plataforma RISC/6000 capaz de calcular mais de 200 milhões de posições no
tabuleiro por segundo.
Sua "cabeça" funciona de maneira a reconhecer configurações do tabuleiro e
verificar nas diversas partidas em seu banco de dados se suas peças têm
uma posição vantajosa, ou vencedora. Para efetuar sua jogada, ele calcula
todos os possíveis movimentos naquele momento, e as jogadas subseqüentes de
seu adversário, podendo usar uma técnica computacional chamada back-tracking,
para descobir o melhor movimento.
Ele analisa quais as conseqüências de suas jogadas e quais as possíveis movimentações de seu oponente, sabendo de antemão se um dos dois caiu em um beco sem saída ou se abriu uma nova frente de jogo. Mas o número de jogadas, somado à profundidade com que são analisadas, é proporcional ao tempo levado para executar a tarefa. Ou seja, quanto maior a profundidade, muito maior o tempo levado para analisar as jogadas. O próprio Deep Blue poderia levar bilhões de anos para chegar a calcular todos os movimentos possíveis de uma partida, a partir de um certo ponto.
Mas, enquanto o computador tem que se basear em partidas já jogadas e seus
resultados, mesmo tendo a habilidade de enxergar milhões de movimentos à
frente, um ser humano pode bolar estratégias, apesar de conseguir pensar
poucas jogadas à frente. Assim, todo esse poder não torna a máquina
parecida com um ser humano. Apenas suas ações podem parecer naturais na
solução de problemas limitados, como um jogo de xadrez.
Porém, estamos ainda longe de criar um computador que passe em um teste de
Turing irrestrito. Isso porque detemos tecnologias ainda não decifradas por
nós mesmos, como a de criar estratégias e reconhecer padrões e imagens. E
isso pode demorar ainda muito tempo.
|