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Discípulo de Dunga é novo símbolo do Inter

Por Léo Gerchmann 21/08/97 19h01
Agência Folha
De Porto Alegre

O estádio Beira-Rio, local onde nos anos 80 surgiu o volante gaúcho Dunga, está sendo o espaço para o aparecimento de um discípulo seu, Anderson, 23, jogador que se orgulha de representar o estilo aguerrido do futebol praticado no sul do país.

Dunga ficou estigmatizado, na Copa de 90, por ter, segundo seus críticos, tornado mais feio o futebol brasileiro. Em 94, conseguiu se recuperar e atingiu o auge da carreira ao ser um dos principais responsáveis pelo tetra.

Anderson começou a carreira sendo criticado. Há sete anos no Internacional, só neste semestre passou a ser reconhecido como um jogador que, além de desarmar bem, chuta forte e até faz lançamentos.

''Ainda estou longe de ser o Dunga, mas me identifico com a trajetória dele. Assim como ele fazia quando sofria com as contestações, eu também nunca desisto de me aperfeiçoar nos fundamentos em que sou defeituoso'', diz Anderson, referindo-se, principalmente, aos passes de longa distância.

Os louros pelo novo momento são atribuídos pelo jogador ao técnico Celso Roth. Anderson tinha propostas do Sport Recife e do Atlético-MG. Queria sair do Beira-Rio para ''respirar novos ares''. Ficou em Porto Alegre depois de uma conversa com o treinador, que lhe garantiu um melhor aproveitamento.

''Fiquei ganhando menos do que ganharia saindo. Mas senti que poderia ser o meu momento. O futebol gaúcho dá espaço para jogadores com o meu estilo'', afirma.

Tal convicção se deve, segundo Anderson, especialmente ao caso de Dunga, a quem conheceu seis anos atrás, no Beira-Rio. ''Ele falou de coisas que ficaram na minha cabeça. Não temos contato, mas devo muito ao Dunga. Para mim, é o exemplo de profissional a ser seguido'', declara Anderson.

O volante colorado não chegou a ver Dunga vestir a camisa do Inter, nos anos 80. Acostumou-se a vê-lo com a da seleção brasileira, aquela que ele afirma pretender também um dia ter ''a honra de defender''.

''Ele cumpriu e cumpre um papel importante ao dar para a seleção um toque do futebol guerreiro que principalmente o Grêmio e o Inter praticam, o futebol aqui do sul. Isso não é exclusividade dos argentinos'', diz o volante.

O sucesso do Inter no Campeonato Brasileiro é atribuído por Anderson a três fatores -a ''organização'' estabelecida no clube pelo coordenador técnico João Paulo Medina, a união do grupo e a ausência de estrelismos.

''Eu não sei se sou identificado como símbolo do estilo guerreiro do Inter. Se sou, ótimo. Esse é um título que faço questão de manter'', afirma Anderson.

O volante Dunga, capitão da seleção brasileira, herói do tetra e ídolo do jovem Anderson Luiz Schveitzer, enfrentou desafios desde 1978, quando chegou de Ijuí (RS) a Porto Alegre e começou a jogar entre os infantis do Internacional.

O ''revelador de talentos'' Abílio dos Reis conta que Dunga era gordo, ''tinha as coxas coladas'' e a compulsão desenfreada de comer quindins e cachorros-quentes.

O primeiro desafio do garoto, então com 14 anos, foi abandonar as guloseimas e passar horas diárias em uma sala de musculação. Aos poucos, Dunga foi emagrecendo e trocando a gordura por uma forte estrutura muscular.

''Ele sempre teve muita força de vontade. Era um talento que precisava ser lapidado. Eu fiz isso, e ele nunca deixou de se cuidar'', diz Reis.

O ''revelador'' tem, entre outras histórias, aquela em que atravessou o seu Fusca na pista da avenida Farrapos para interceptar o ônibus que levava Paulo César Carpegiani de Erechim diretamente para o Grêmio. Reis ''sequestrou'' Carpegiani e o fez assinar contrato com o Inter.

Depois de um início em que teve o apoio de Reis, Dunga enfrentou momentos difíceis, entre os quais o da Copa de 90. Titular de Sebastião Lazaroni, ele foi apontado como símbolo do fracasso brasileiro na Copa.

Recuperou-se da fama de jogador tosco apenas quando levantou a taça do tetracampeonato mundial, nos Estados Unidos. Anderson, naquele momento, já era seu fã.


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