E S P E C I A L
Carnaval 97

História das Escolas

Os principais fatos que marcaram a ascensão desta forma de manifestação carnavalesca.

Início da década de 20: O Rio de Janeiro começava a tomar contato com o samba depois que "Pelo Telefone", de Sinhô, Mauro de Almeira e Donga, foi gravado em 1917 e fez sucesso. Mas as rodas de samba eram vistas pela polícia mais como um reunião criminosa, "vagabundagem" que uma manifestação cultural. Nos morros do centro da cidade, especialmente no bairro do Estácio, o samba começava a tomar a forma que o tornaria conhecido em todo o país, distanciando-se cada vez mais de outros ritmos como o maxixe ou a marcha.

Abril de 1923: É fundado no dia 11 em Oswaldo Cruz, bairro distante do centro, um bloco chamado Conjunto Carnavalesco Oswaldo Cruz. Por Paulo Benjamin de Oliveira, Antônio Rufino e Antônio Caetano. Pouco tempo depois passa a se chamar Vai Como Pode.

Agosto de 1928: No dia 12, foi fundado por Ismael Silva e Bide entre outros, o bloco Deixa Falar, no Largo do Estácio. O local de encontro dos fundadores ficava perto da Escola Normal. Esta coincidência geográfica é considerada a razão pela qual nasceu o termo "escola de samba". Se na escola normal formavam-se professores, os criadores do Deixa Falar difundiram o samba por vários bairros. O bloco se entitulava escola de samba mas nunca chegou a ser uma, de fato. O termo não chegou a ser utilizado embora todos reconheçam que esta foi a primeira. Abril de 1929: No dia 28, um grupo que incluía figuras como Cartola e Carlos Cachaça transformava o Bloco dos Arengueiros em Estação Primeira de Mangueira. Mas até por volta de 1934, o termo escola de samba era um codinome dos mangueirenses que ainda eram chamados por vezes de Bloco.

Dezembro de 1931: No dia 31, foi fundada a Unidos da Tijuca.

Fevereiro de 1932: O jornal "Mundo Sportivo", dirigido pelo jornalista Mário Filho (que hoje empresta o nome ao Estádio do Maracanã), resolve organizar o primeiro torneio de escolas de samba. Como os corsos passavam no domingo, os ranchos na segunda e as grandes sociedades na terça, não havia local para as escolas na avenida Rio Branco, local oficial dos desfiles de carnaval. Adotou-se como local a Praça 11 de Junho.

7 de fevereiro de 1932: Acontecia o primeiro desfile, na Praça Onze, que lotou o local para assistir a apresentação de 19 escolas, desde às 20h30. Cada escola poderia apresentar três sambas. A vencedora foi a Mangueira. A Deixa Falar, que havia resolvido virar um rancho faz o seu primeiro desfile competitivo que foi um fiasco. Depois do carnaval, acusações internas de mal uso das verbas. A primeira "escola de samba" acaba.

Fevereiro de 1933: Com o fim do "Mundo Sportivo", o jornal "O Globo" assume a organização do concurso das escolas de samba, que é, pela segunda vez, vencido pela Mangueira. Desfilaram 35 escolas, entre 20h30 e 4h15 da manhã. Os jornais destacam que a Unidos da Tijuca se apresentou com um samba que era "de acordo com o enredo". Muitos especialistas consideram este o primeiro samba-enredo, apesar de a paternidade do gênero também ser reivindicada a Paulo da Portela.

Janeiro de 1934: No dia 20, realizou-se no Campo de Santana um desfile em homenagem ao prefeito Pedro Ernesto, considerado um dos mecenas das escolas de samba. A Mangueira foi tricampeã. No carnaval propriamente dito, as principais escolas alegaram já ter participado de um concurso e não quiseram disputar novamente. Foi a única vez que o desfile "oficial" se realizou fora do carnaval.

Maio de 1934: Em 1º de maio, o bloco Vai Como Pode foi renovar a sua licença para poder continuar funcionando. O delegado encarregado, Dulcídio Gonçalves, recusou-se a registrar o nome "Vai Como Pode", dizendo que era inadequado para uma agremiação "daquele porte". Então o sambista Paulo da Portela era uma das figuras mais respeitadas no mundo do samba. O bloco tinha sua sede na Estrada do Portela. O delegado sugeriu então que o bloco fosse registrado como Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela. Esta designação (GRES) acabou sendo utilizada como padrão por todas as demais.

Setembro de 1934: No dia 6, 28 escolas fundam a União das Escolas de Samba.

Fevereiro de 1935: Pela primeira vez, o desfile das escolas de samba ganha subvenção oficial da Prefeitura, o que só ocorria com ranchos e grandes sociedades. Foi a primeira vez que o bloco Vai Como Pode desfilou como Portela. E foi vencedor.

Fevereiro de 1937: O delegado Dulcídio Gonçalves interfere de novo. Mandou simplesmente encerrar o desfile "que passava da hora" quando apenas 16 das 32 escolas inscritas haviam desfilado. Não puderam se apresentar entre outras a campeã do ano anterior, Unidos da Tijuca, e a Mangueira. O juri indicou como campeã a Vizinha Faladeira, que trouxe uma comissão de frente montada em cavalos.

Fevereiro de 1938: Foram proibidos pelo regulamento carros alegóricos e temas que não fossem nacionais. Esta proibição só foi levantada para o desfile de 1997. Em 38, a comissão julgadora não apareceu. As escolas desfilaram mas não houve vencedores.

Início de 1939: A União das Escolas de Samba passa a se chamar União Geral das Escolas de Samba.

Fevereiro de 1939: A Portela é a grande sensação do desfile ao apresentar todos os seus componentes fantasiados de acordo com o enredo e ganha seu segundo título. A comissão julgadora, da qual participava Austregésilo de Ataíde, desclassificou a Vizinha Faladeira por trazer um tema estrangeiro ("Branca de Neve e os Sete Anões).

Fevereiro de 1940: As escolas são proibidas de funcionar por causa de uma briga que feriu uma passista de uma escola. Depois de muitos protestos, que envolveram inclusive o cantor Francisco Alves, a proibição foi revogada. A escola de samba Vizinha Faladeira, em protesto pela desclassificação do ano anterior, passa por trás da comissão julgadora (que naquela época ficava em um palanque). Os diretores da escola anunciam que a escola se retiraria do carnaval. "Um dia voltamos...".

Fevereiro de 1941: A Portela inicia uma série de vitórias que a tornaria até hoje a escola com mais campeonatos.

Fevereiro de 1942: O desfile acontece pela última vez na tradicional Praça Onze, quase inteira demolida para a construção da avenida Presidente Vargas. Neste carnaval, por causa de brigas na hora de desfilar, Paulo da Portela se afasta da escola que fundou.

Fevereiro de 1945: A Segunda Guerra fez com que os jornais pouco falassem de carnaval. Neste ano, a imprensa só falou de uma briga que ocorreu entre desfilantes que terminou com 20 pessoas feridas e um morto. O desfile foi no campo do Vasco da Gama. A Praça Onze não existia mais.

Fevereiro de 1946: No carnaval da vitória todas as escolas enalteceram o fim da guerra que terminou com a derrota dos nazistas. O regulamento proíbe versos improvisados nos sambas e carros alegóricos motorizados ou puxados por animais. No desfile, a escola Prazer da Serrinha troca de samba na hora de entrar. A crise, provocada pela decisão de seu presidente, levaria um ano mais tarde à fundação do Império Serrano.

Abril de 1946: Nasce a Unidos de Vila Isabel.

Janeiro de 1947: A aproximação dos sambistas da esquerda fez com que o governo e a direita fundassem uma associação com o intuito de esvaziar a União Geral das Escolas de Samba. É fundada a Federação Brasileira das Escolas de Samba.

Fevereiro de 1947: O desfile marca a guerra fria entre as duas associações. Das 48 escolas inscritas, desfilam 26, pela primeira vez na nova avenida Presidente Vargas. O juri dá o título à Portela pela sétima vez consecutiva.

Março de 1947: Finalmente os dissidentes da escola Prazer da Serrinha resolvem se rebelar de vez e fundam no dia 23 o Império Serrano.

Fevereiro de 1948: Desfilando muito bem em seu primeiro ano, Império Serrano vence o carnaval, trazendo todos os componentes fantasiados, o que era difícil na época, e o casal de mestre-sala e porta-bandeira no meio da escola, ao contrário do que mandava a tradição, de trazê-los logo no começo. O resultado levanta suspeitas de que a Federação das Escolas havia favorecido o Império. Mangueira e Portela ao longo do ano se desligaram da Federação, prometendo ressucitar a União das Escolas de Samba.

Janeiro de 1949: No dia 30, morre Paulo da Portela. Seu enterro é acompanhado por 15 mil pessoas.

Entre 1949 e 1951: Houve dois desfiles. Um oficial, que era subvencionado pela Prefeitura, e tinha como principal escola o Império Serrano. Do outro lado, sem verba alguma, desfilavam as dissidentes Portela e Mangueira. O Império ganhou todos os desfiles oficiais nestes anos. 1952: Com o Partido Comunista na ilegalidade, as escolas deixam de ser palco de disputas políticas. O grande evento do carnaval era o tira-teima entre Portela e Mangueira, de um lado, e Império Serrano do outro. Foi montado um tablado para o desfile e pela primeira vez havia arquibancada e palanque de autoridades. A Portela e a Mangueira empolgaram o público. Durante o desfile do Império caiu uma chuva muito forte que afugentou o juri. Por isso, a pedido dos imperianos, os envelopes nem chegaram a ser abertos. É criada a regra do acesso e descenso. As principais desfilaram na Presidente Vargas e as menores no local onde foi a Praça Onze.

Depois do carnaval de 1952: Houve a fusão das entidades, nascendo daí a Associação das Escolas de Samba do Brasil.

Fevereiro de 1953: Com o juri abrigado em uma coberta para se proteger da chuva o desfile foi realizado. A Portela se apresentou com muita gana e venceu o confronto, obtendo nota 10 em todos os quesitos, fato inédito até então na história das escolas.

Março de 1953: No dia 15 é nomeada a primeira diretoria da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, fusão da Azul e Branco e Depois Eu Digo.

Fevereiro de 1954: Beneficiada pela posição de uma das escolas que o formaram o Salgueiro desfila pela primeira vez no grupo principal e acaba em terceiro lugar na frente da Portela.

1955: "Tiradentes", tema do Império Serrano em 1949 torna-se o primeiro samba-enredo a ser gravado por um artista da música popular, pelo cantor Roberto Silva.

Fevereiro de 1957: O desfile é transferido para a avenida Rio Branco, onde desfilavam os ranchos, em virtude do excesso de público que se interessava pela apresentação, àquela altura o principal evento do carnaval carioca. Abandonou-se a idéia do tablado. A imprensa estimou que o público presente ao desfile chegava a 700 mil pessoas.

Fevereiro de 1959: O Salgueiro contrata uma dupla de artistas plásticos para fazer o carnaval, Dirceu Neri e Marie Louise. Ambos resolvem abandonar os desengonçados carros alegóricos e criam os adereços de mãos, causando grande impacto visual.

Abril de 1959: O Salgueiro faz uma apresentação em Cuba, pouco depois da vitória de Fidel Castro. Era a primeira vez que uma escola de samba ia ao Exterior.

1960: Fernando Pamplona, cenógrafo do Teatro Municipal, é convidado para fazer o carnaval do Salgueiro. Mantém os artistas que fizeram o carnaval anterior e ainda convida seu colega de trabalho Arlindo Rodrigues. Eles montam um enredo sobre Zumbi dos Palmares. Era a primeira vez que uma escola ia homenagear um personagem da história não-oficial. Foi difícil convencer a escola que precisava haver alas vestidas de escravos.

Carnaval de 1960: Os favoritos para vencer o desfile eram Portela e Salgueiro. Na apuração deu Portela em primeiro, Mangueira em segundo e Salgueiro em terceiro. Naquele ano foi introduzido o quesito cronometragem para as escolas que ultrapassassem o tempo. As duas primeiras foram penalizadas com perda de 15 pontos. O título ficaria com o Salgueiro. Os dirigentes de outras escolas se revoltaram com a mudança do resultado. O tumulto foi aumentado com a ação da polícia que partiu para cima dos sambistas batendo com cassetetes. No dia seguinte houve uma reunião para decidir o impasse. Ficou decidido que as cinco primeiras colocadas (Portela, Mangueira, Salgueiro, Império e Unidos da Capela) seriam declaradas campeãs. No domingo seguinte foi realizado em Madureira, bairro da Portela, um desfile com todas as campeãs. Mal sabiam elas que estavam participando da comemoração pelo tetracampeonato dos portelenses.

Fevereiro de 1961: Pela primeira vez se cobrou ingresso.

Fevereiro de 1963: A turma de Fernando Pamplona comanda uma vitória arrasadora do Salgueiro com o enredo "Chica da Silva", considerado um dos mais importantes da história das escolas. Uma das alas passou dançando um minueto, dança do tempo da personagem homenageada. A polêmica em torno das inovações foi grande.

Fevereiro de 1964: As escolas de samba começam a crescer, invadidas pelos foliões de classe média. Portela e Mangueira, que tinham cerca de 90 componentes nos anos 30 se apresentaram com 1.200. Março de 1965: Para comemorar os 400 anos de fundação do Rio de Janeiro, todas as escolas prepararam enredos sobre o tema. A Portela trouxe uma ala inteira de artistas da TV Exelsior, a mais importante emissora na época. O Império trouxe pela primeira vez um samba feito em parceria por uma mulher, dona Ivone Lara em "Os Cinco Bailes da História do Rio". A maior gafe do desfile, vencido pelo Salgueiro, foi cometido por um jurado de mestre-sala e porta-bandeira, que atribuiu notas mais altas ao casal da Imperatriz Leopoldinense que a da famosa porta-bandeira Neide da Mangueira. Poderia ser apenas uma questão de gosto não fosse pelo fato que o casal da outra escola não desfilou porque a fantasia não chegara a tempo.

Fevereiro de 1966: Choveu muito no Rio e a sede e o barracão da Império da Tijuca foi completamente destruído. A escola passou na avenida apenas com um grupo de sambistas, sem dançar ou tocar música. Neste ano a Portela foi novamente campeã com o único samba-enredo que Paulinho da Viola compôs para escola.

Fevereiro de 1967: A Portela obtém a colocação mais baixa de sua história até então, sexto lugar.

Fevereiro de 1969: O Império Serrano tinha em "Heróis da Liberdade" um dos mais belos sambas-enredo da história, segundo os especialistas. Mas os militares, que acabavam de editar o AI-5, acharam que o samba homenageava a oposição ao regime. Depois de muita negociação a escola não foi obrigada a mudar o enredo, mas teve de alterar alguns versos do samba enredo. O vencedor do ano foi o Salgueiro. Ismael Silva, um dos criadores das escolas de samba, não pôde assistir o desfile porque não tinha dinheiro para pagar ingresso. O secretário de Turismo no Rio sequer o recebeu. Alegou que não sabia quem ele era.

Fevereiro de 1970: Para evitar o atraso foi reinstituído o quesito cronometragem. Os desfiles então começavam no começo do domingo e só acabavam por volta de meio-dia de segunda. O Império Serrano, punido, ameaçou não desfilar no ano seguinte. Mesmo com o pedido das outras escolas, a organização não deu de volta os pontos para a escola. Este carnaval marcou a última vez em que a poderosa Portela vencia sozinha um desfile.

Fevereiro de 1972: O gigantismo das escolas preocupava os sambistas. Elas já contavam com cerca de 2.500 figurantes. Ficava cada vez mais difícil que todos cantassem o samba sincronizadamente. "Atravessar" o samba tornou-se um problema frequente. A Portela deu aos componentes radinhos de pilha para que ouvissem a transimissão das rádios e não atravessassem. No mesmo ano, o Salgueiro causou polêmica ao homenagear a sua madrinha, a Mangueira. O Império Serrano venceu o desfile, no que foi o seu último grande momento antes de entrar em crise. A Associação das Escolas de Samba entrou com ação na Justiça para que as TVs pagassem pelo direito de transmissão. A decisão não saiu até o carnaval.

1973: As escolas assinam contrato com a gravadora Top Tape para gravar o disco dos sambas-enredo, que logo se transforma em fenômeno de vendas. A Associação assina contrato com a TV Rio para comercialização de fitas com o desfile no exterior. O samba-enredo se torna um negócio rentável. A bateria da Portela tem um colapso no desfile e perde completamente a cadência. Os portelenses consideram este como um dos maiores desastres da história da escola.

Fevereiro de 1974: As obras do Metrô obrigam o desfile a ser transferido para a avenida Antonio Carlos. Nesta ano o Salgueiro venceu com um enredo concebido por Joãozinho Trinta. Um dos destaques foi a Mocidade Independente, escola até então pequena, que desfilou com muito luxo graças ao apoio financeiro cada vez maior de Castor de Andrade. A Portela permitia, quebrando uma tradição, que compositores de fora da escola, fizessem o samba-enredo, causando revolta interna.

Fim de 1974: Portelense ilustre, o sambista Candeia deixa a escola e funda a Quilombo, escola que reuniria uma série de descontentes com os rumos das escolas de samba. Ela era uma tentativa de resistência, de volta às tradições. Convidou sambistas famosos e não exigiu exclusividade. A escola não competiria com as demais.

1975: Logo depois do carnaval em que o Salgueiro conquistou o bicampeonato, o banqueiro de bicho Anísio Abraão David resolve assumir a então modesta Beija-Flor de Nilópolis. Contratou Joãozinho Trinta por cifras nunca reveladas.

Fevereiro de 1976: A Beija-Flor, com luxo inimaginável para as escolas de samba então, desfila com um enredo em homenagem ao jogo do bicho, "Sonhar com Rei dá Leão" e fatura o título. Era a primeira vez desde 1937 que a campeã do carnaval não era uma das quatro grandes, Portela, Mangueira, Império Serrano ou Salgueiro. A pequena Em Cima da Hora, desfila "Os Sertões", samba que está entre os mais citados como melhor de todos. Acabou em último lugar.

Fevereiro de 1977: A Mangueira resolve voltar às tradições e apresenta na Comissão de Frente todos os seus fundadores mais ilustres. As escolas tradicionais resolvem investir em suas qualidades para combater a riqueza de Beija-Flor ou Mocidade. A Beija-Flor é bicampeã.

1978 e 1979: Em 1978, pela primeira vez o desfile aconteceu no seu local definitivo, a rua Marquês de Sapucaí. Venceu de novo a Beija-Flor. Império Serrano e Vila Isabel são rebaixados para o segundo grupo. Neste mesmo ano morreu Candeia, apressando o fim da Quilombo. No ano seguinte foi a vez da Mocidade com a escola de Nilópolis em segundo. O ilustre mangueirense Cartola anunciou que não iria desfilar pela Mangueira porque não aguentava correr. "Isto não é carnaval, é parada militar", protestava contra a obrigatoriedade de desfilar em 80 minutos.

Fevereiro de 1980: Três escolas vencem o carnaval: Beija-Flor, Imperatriz Leopoldinense e, pela primeira vez em 10 anos, a Portela. Novembro de 1980: Morre Cartola, um dos maiores nomes da Mangueira.

Fevereiro de 1981: No bicampeonato da Imperatriz que se incorporou ao grupo das grandes, a surpresa foi a colocação do Império Serrano e da Vila Isabel, nas últimas duas posições. Mas a confusão na pista havia sido tão grande que as escolas resolveram não rebaixar ninguém.

Fevereiro de 1982: O Império Serrano sai do último para o primeiro lugar, com o enredo "Bum, bum, paticumbum, prugurundum", que criticava as "Escolas de Samba S.A.". Naquele ano foi proibida a presença de destaques nos carros alegóricos. Beija-Flor e Imperatriz desrespeitaram a regra e perderam pontos.

Fevereiro de 1983: A Beija-Flor consegue seu último título num enredo sobre negros ilustres como Pelé e Clementina de Jesus. Naquele ano a luz apagou durante o desfile da Caprichosos de Pilares. Assim, ficou decidido que ninguém desceria.

Julho de 1983: Os sambistas sugerem a divisão do desfile em dois dias, cada um com 7 escolas.

Setembro de 1983: O governador Leonel Brizola resolve erguer um local definitivo para acabar com o monta e desmonta de arquibancadas metálicas. O projeto de Oscar Niemeyer foi erguido em apenas 4 meses.

Final de 1983: A escola de samba Unidos de São Carlos, fundada em 1955, resolve mudar de nome para Estácio de Sá, para levar o nome que é conhecido no Rio de Janeiro como berço do samba. Coincidência ou não, depois da mudança, a escola que era considerada um "iôiô" (aquela agremiação que alterna com frequência desfiles no primeiro grupo e no segundo grupo) nunca mais caiu.

Março de 1984: Este carnaval teria duas campeãs. Uma para cada dia. Para dar haver uma campeã inventaram que no sábado seguinte haveria um supercampeonato com as três melhores de cada dia. As escolas estreiaram o "Sambódromo", como ficou popularmente conhecido em dois dias de desfile. O desafio enfrentado pelas escolas foi a praça da Apoteose, um local muito amplo que faziam as escolas se desmontarem todas. A Portela foi a campeã do domingo. A Mangueira venceu na segunda e resolveu ignorar a praça da Apoteose. Quando a escola toda havia entrado nela, livre do julgamento, a escola deu meia volta e voltou pela avenida, levando o povo ao delírio.

Julho de 1984: As escolas fundam a Liga Independente das Escolas de Samba com o objetivo de cada vez mais assumir a organização dos desfiles.

1985: A Liga cria um selo próprio para fazer o disco dos sambas-enredo e passa a negociar a transmissão de TV. Estava acabada a "fase romântica das escolas de samba", segundo os especialistas.

Fevereiro de 1988: A Vila Isabel surpreende com um desfile sem brilho materiais brilhantes mas inegavelmente bonitos e muita garra. A escola conseguiu seu primeiro título com o enredo "Kizomba, a Festa da Raça".

Fevereiro de 1989: Os especialistas se animaram. Os sambas-enredo sem jeito de marchinha foram os vencedores neste ano assim como no anterior. Mas a grande surpresa não foi da campeã, a Imperatriz. O maior impacto foi pela Beija-Flor. A Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro soube que a escola traria o Cristo Redentor de abre-alas do enredo "Ratos e Urubus, rasguem a minha fantasia". O arcebispo conseguiu que a Justiça proibisse a alegoria de ser mostrada. No dia do desfile, Joãozinho Trinta apresentou o Cristo coberto em plástico e com uma faixa: "Senhor olhai por nós". Embaixo dele uma gigantesca ala de mendigos num tema que abordava o lixo e o luxo da vida brasileira.

1990: A Mocidade Independente conta um enredo sobre membros ilustres da sua história como o Mestre André, diretor que fez a fama da bateria da escola, o puxador Ney Vianna e o carnavalesco Fernando Pinto. A escola vence o carnaval.

1991: Mocidade e Beija-Flor instituem o computador para organizar o desfile. A Mangueira escapa por pouco de um vexame, acabando o carnaval em 11º lugar. A Mocidade se sagra bicampeã.

1992: A Liga começa a brigar com a Riotur para assumir totalmente a organização do desfile. Como a Riotur não concordou, as escolas ameaçaram não desfilar na Marquês de Sapucaí. Mas o acordo acabou sendo feito. A Estácio, com um enredo sobre os 70 anos da Semana de Arte Moderna (de 1922) venceu seu primeiro carnaval, tirando da Mocidade a chance do tricampeonato. O desfile teve dois fatos marcantes. Um foi o incêndio em um carro da Viradouro que fez a escola praticamente ficar presa na pista. O carro foi totalmente destruído e a escola acabou perdendo a chance de boa colocação com um enredo sobre os ciganos. Depois dela passou pela avenida um modelo completamente nu na Beija-Flor. O rapaz disse que o tapa-sexo caiu. Mas a comissão de carnaval acabou punindo a escola, uma vez que o regulamento proibe "a genitália desnuda".

Fevereiro de 1993: O samba-enredo do Salgueiro "Peguei o Ita no Norte" se tornou o grande sucesso do carnaval, sendo cantado por toda a avenida. A escola vence o carnaval e interrompe um jejum de 18 anos sem vitória.

Maio de 1993: A Justiça condena 13 grandes bicheiros do Rio por formação de quadrilha. Durante o ano foi debatido se as escolas conseguiriam sobreviver sem a ajuda de seus patronos.

1994: Quando todos esperavam que o título do ano fosse ser decidido entre Salgueiro, Portela, Beija-Flor ou Mangueira, que empolgaram a platéia, venceu a Imperatriz, com um desfile considerado técnico pelos comentaristas mas que não empolgou o público. Depois de abertos os envelopes dos jurados a Imperatriz ficou conhecida como "escola de resultados". Ficou provado que o esquema empresarial das escolas podia sustentar as escolas.

1995: O grande evento do carnaval era a volta à Portela de pessoas ilustres, sambistas da velha guarda que voltaram com grande empolgação. A escola ficou a apenas 0,5 ponto da bicampeã Imperatriz, apesar da revolta do público no desfile das campeãs.

1996: A Mocidade volta a vencer com um enredo sobre a criação do mundo. A escola entrou de manhã devido a um atraso no desfile. A Portela teve problemas com carros durante o desfile, perdeu pontos de cronometragem e abandonou os carros na dispersão causando um congestionamento de carros alegóricos.