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Morte dos Mamonas completa um ano
Justiça ainda busca responsáveis pela tragédia
Agência JB 01/03/97 14h54
São Paulo
Um ano após o desastre aéreo que matou os cinco
integrantes do grupo Mamonas Assassinas, no dia 2 de março de 1996, a
Justiça ainda patina, em busca dos culpados da tragédia. As famílias das
vítimas até hoje não receberam um tostão de
indenização, porque a ação cível se arrasta na Justiça por
motivos burocráticos. Só na semana passada começaram a ser liberados os
papéis requeridos pela promotoria - como as certidões de nascimento das
vítimas e os laudos oficiais -, que darão andamento aos processos
indenizatório e criminal.
Segundo o advogado da banda, Carlos Lima, a Telesp, companhia telefônica
paulista, entregou, também na semana passada, os documentos que demonstram
que o celular encontrado na aeronave estava sendo usado no momento da
tragédia. A promotoria havia enviado, em novembro, um ofício ao delegado
José de Gouveia, responsável pelo inquérito policial, para que apurasse
primeiro a quem pertencia o celular, para então descobrir se o
aparelho fora usado ou não.
Depois de o delegado ter averiguado que o celular pertencia ao vocalista
Alecsander Alves, o Dinho, a Justiça requereu à Telesp, em janeiro, o
horário em que o telefone foi usado. "Finalmente, chegou o ofício da Telesp,
mostrando que o aparelho foi usado no dia 2 de março, às 22h24, meia hora
antes de o avião bater na Serra da Cantareira", desabafou Lima.
A investigação do Ministério da Aeronáutica já afastou a hipótese de
a ligação do telefone celular ter interferido nos instrumentos do
avião. Mas, ainda assim, a informação foi pedida pela Justiça.
"Durante 40 dias, investigamos o assunto para a promotoria e, em janeiro,
foi informado que Dinho era o dono do aparelho", contou o delegado Gouveia.
"É mesmo um processo lento, com muito vaivém", arrematou.
Além da demora na entrega dos papéis sobre o uso do telefone, apenas no dia
21 de fevereiro a promotoria recebeu cópias das certidões de nascimento de
todas as vítimas que ainda não constavam do processo. As certidões
são necessárias para definir o valor da indenização, que,
segundo o advogado da família, Carlos Lima, deve ficar em torno de R$ 200
mil por cada vítima. "A indenização é definida com base na
expectativa de vida que as vítimas tinham no momento do acidente", explica o
advogado.
O processo criminal também se arrasta, devido ao pedido de outros documentos
pela promotoria. Há cerca de 15 dias, a Justiça requisitou ao Centro de
Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa)
dados para avaliar se o avião teve algum problema técnico antes do
dia do desastre. O laudo foi entregue à promotoria na semana passada.
A possibilidade de a Justiça requerer uma fita de vídeo que está em poder da
viúva do piloto, Cristiane Martins - e mostra o último diálogo do comandante
com os controladores de vôo, na noite do acidente -, poderá atrasar ainda
mais o processo. A fita terá de ser analisada por peritos do Instituto de
Criminalística de São Paulo.
O inquérito criminal foi entregue pelo delegado José de Gouveia ao
Ministério Público em outubro de 1996. Depois de ouvir o depoimento de 23
pessoas, entre parentes e oficiais da Aeronáutica, foi definido que
serão indiciados o piloto, o co-piloto, dois operadores de
rádio-radar e um controlador de vôo.
O dono da Madri Táxi Aéreo, Antônio Nunes Leme Galvão, não foi
indiciado, porque o inquérito concluiu que o piloto Jorge Martins estava
habilitado para comandar o Learjet. Além disso, as investigações do
Ministério da Aeronáutica definem como culpado o piloto Martins. Ele fez uma
tentativa de pouso em Guarulhos, mas, como o avião estava em
velocidade muito alta, optou por arremeter. A torre de controle mandou que
Martins fizesse uma curva à direita, para reiniciar a aterrissagem, mas ele
virou à esquerda. Cinqüenta segundos após a arremetida, o Learjet chocou-se
contra a Serra da Cantareira. Eram 23h15 do dia 2 de março, quando o
avião se espatifou. Morreram Alecsander Alves (o Dinho), Júlio César
Barbosa, Sérgio Oliveira, Samuel Oliveira e Bento Hinoto, além do piloto e
do co-piloto Alberto Takeda, e de dois funcionários da banda.
Programas especiais relembram
história do grupo
A morte dos músicos provocou comoção no país, especialmente entre as crianças,
principais
fãs das músicas escrachadas do conjunto e responsáveis pela compra de
1 milhão e 800 mil CDs do único trabalho do grupo, "Mamonas
Assassinas". A queda do avião na Serra da Cantareira interrompeu a carreira
de um conjunto que desapareceu
tão rápido quanto surgiu e estourou nas paradas de sucesso.
Relembrando a história do grupo, a Rádio Cidade reapresenta amanhã às
12h, no programa "Invasão da Cidade", um show gravado ao vivo em
dezembro de 95. Às 15h05, a Rede Globo exibe o especial "Mamonas
Assassinas", apresentado por Fátima Bernardes. À noite, outro especial,
na TV Manchete, também rememora o conjunto. Com reportagens de Rodrigo
Vianna, o programa da Globo é na verdade uma reprise atualizada do "Globo
Repórter" levado ao ar na semana do acidente, com o clip "Pelados em
Santos" e imagens inéditas dos shows da banda, além de depoimentos das
famílias dos cinco músicos, um ano depois da tragédia.
O especial também
mostra cartas dos fãs aos pais do vocalista Dinho, líder dos Mamonas
e o mais querido entre as crianças, e o quarto dos irmãos Sérgio
(baterista) e Samuel Reoli (baixista), intocado desde o desastre. A equipe
do programa foi ao bar onde os Mamonas faziam ponto quando o conjunto sequer
se chamava Utopia nem sonhava com o sucesso.
O especial abre espaço para as crianças, que ainda cantam e se divertem com
as letras debochadas do quinteto de Guarulhos. Para completar o programa, o
repórter Rodrigo Vianna ouviu um time no mínimo eclético para comentar a
carreira e o desaparecimento dos Mamonas Assassinas.
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