Acidente com avião da TAM
mata um em São Paulo


Vítima embarcou em São José dos Campos;
polícia diz que há traços de explosivo


AJB 09/07/97 21h36
de São Paulo

  • Veja as fotos do acidente
  • O acidente, passo a passo
  • Passageiros dizem ter sentido cheiro de pólvora
  • Explosão é causa mais provável do acidente
  • TAM afirma que houve explosão
  • Fokker enviará técnicos ao Brasil para analisar avião
  • Destroços do avião se espalham por 4 km em Suzano

    Mapa
    Uma explosão em pleno ar abriu um rombo na fuselagem de um Fokker 100 da TAM, matou um engenheiro de 38 anos e deixou outras nove pessoas feridas. O avião sofreu uma despressurização repentina depois da explosão e o engenheiro Fernando Caldeira de Moura Campos, de 38 anos, foi projetado para fora do Fokker. Caiu a uma velocidade estimada em 100 metros por segundo, de uma altitude de 2.400 metros. O impacto de seu corpo contra o solo abriu um sulco na terra de um metro de profundidade.

    O avião, prefixo PT-WHK, fez um pouso de emergência no Aeroporto de Congonhas, dez minutos após a explosão. Uma das hipóteses é a de atentado a bomba. Foram encontrados vestígios de elementos químicos perto do rombo na fuselagem. Passageiros relataram que sentiram cheiro de queimado, mas o cadáver de Campos, segundo a autópsia, não trazia sinais de queimadura.

    O Ministério da Aeronáutica divulgou nota recomendando que sejam intensificadas as medidas de segurança nos aeroportos brasileiros. A Polícia Federal abriu inquérito para apurar a explosão e reteve o cadáver do engenheiro para tentar esclarecer a explosão. O resultado da investigação sai em 90 dias. Além do atentado a bomba, avalia-se a hipótese de que um equipamento explosivo levado por algum passageiro tenha sido detonado por acidente. Uma falha estrutural do avião é a hipótese menos provável, porém não completamente descartada pelas autoridades.

    Os feridos foram levados a hospitais da região sul de São Paulo. Nenhum deles corre risco de vida. A TAM divulgou uma nota, na tarde desta quarta-feira, informando que a explosão aconteceu no lado direito do avião, na altura do 16ª fileira. O engenheiro Campos, que deveria estar ocupando uma poltrona na sétima fileira, ocupou um outro lugar em vez da poltrona que lhe cabia, aproveitando que o Fokker, com capacidade para 100 passageiros, só levava 55.

    O Fokker 100, pilotado pelo comandante Humberto Angel Scarel, decolara às 06h55 do Aeroporto de Vitória, com destino a São Paulo. Fez uma escala em São José dos Campos, onde 25 passageiros, entre eles o engenheiro Campos, entraram no avião, que decolou às 8h32. O trecho entre São José e São Paulo é curto e o vôo dura apenas 20 minutos. Cerca de oito minutos depois da decolagem, segundo depoimentos de passageiros, ouviu-se o estrondo da explosão que abriu o rombo de dois metros de largura na fuselagem.

    Às 8h45, Scarel comunicou à torre do aeroporto de Congonhas que teria de fazer um pouso de emergência. Quinze minutos depois o Fokker desceu normalmente na pista do aeroporto, na cidade de São Paulo, em meio ao esquema de emergência acionado pelo aeroporto. O piloto contou que ouviu a explosão, quando apareceu no painel do avião aviso de que a porta do compartimento de bagagem estava aberta e ocorrera a despressurização da aeronave. Imediatamente, pediu aos passageiros que permanecessem sentados e com os cintos afivelados. E, seguindo os procedimentos recomendados para situações como essa, começou a operação de descida. Avisou Congonhas que pousaria no nível 2 de emergência. Obteve prioridade e aterrissou sem incidentes. O avião não perdeu estabilidade durante os dez minutos de vôo após a explosão.

    O engenheiro Fernando Caldeira de Moura Campos era dono da Amix Integração de Sistemas, de São José dos Campos. Seu corpo foi encontrado às 8h40 da manhã numa fazenda no bairro de Tijuco Preto, município de Suzano, a 35 km de São Paulo, pela agricultora Maria Aparecida da Costa, 44 anos, que colhia repolhos a cem metros do local da queda. "Parecia uma bomba. Olhei para o céu e vi alguma coisa caindo de um avião. O objeto desceu fazendo um grande chiado e se espatifou a poucos metros de onde eu estava", conta ela. "Quando em aproximei, pensei que fosse um boneco, não havia sangue em volta,"acrescenta.

    Maria Aparecida chamou imediatamente a polícia de Suzano que enviou uma equipe do 17° Batalhão da Polícia Militar. Às 9h10m a PM chegou ao local. "Eles desviraram o corpo que estava de bruços. Me deu até dor de barriga. As pernas haviam penetrado no corpo e havia muito sangue no chão", conta a agricultora.

    O médico Renato de Macedo Pereira, legista do Instituto Médico Legal de Suzano, afirmou que o empresário pode ter morrido na queda ou no impacto. Pelo funcionamento normal do organismo, o coração funciona no ar normalmente e ele pode ter chegado vivo ao chão, como um pára-quedista. Politraumatismo foi diagnosticado. Nenhum membro foi arrancado. O corpo apresentava quadro de afundamento craniano e as fraturas mais fortes ocorreram nas costas e na região do glúteo. Não havia marcas do cinto de segurança.

    A pedido da viúva, Selma de Moura, o caixão foi lacrado e, depois de feita a necrópsia, chegou a ser liberado por volta das 15h20. Mas foi retido, no final da tarde, pelas autoridades aeronáuticas, que resolveram periciar novamente o cadáver, em busca de possíveis vestígios da explosão.

    No bolso do empresário, o Corpo de Bombeiros encontrou um bilhete da TAM, comprado com um cartão Diners Club nesta quarta para o trecho São José dos Campos São Paulo, no valor de R$ 41,79. Ele estava indo para o Rio a negócios, segundo informou o funcionário da Amix, e tomaria uma Ponte Aérea no Aeroporto de Congonhas. Segundo o capitão Falcone, do Grupamento Aéreo da Polícia Militar, que pilotou o helicóptero de busca Aguia 4, destroços do avião se espalharam num raio de três mil metros, nos arredores da fazenda onde o corpo de Campos foi achado.

    Durante toda a manhã familiares de passageiros buscaram informações em Congonhas e, de início, nenhum diretor ou assessor da TAM apareceu para dar informações sobre o acidente, ao contrário do que ocorreu no dia 31 de outubro do ano passado, quando o vôo 402 caiu após decolar de Congonhas. Esta quarta foi feriado em São Paulo e o comandante Rolim Adolfo Amaro, presidente da TAM, estava fora da cidade, assim como boa parte da diretoria da empresa.

    Por volta das 8h40m a agricultora Maria Aparecida da Costa, colhia repolhos na fazenda Mandiaca, no bairro de Tijuco Preto, em Suzano, quando ouviu uma explosão. No local onde o empresário caiu, ficou aberto um buraco de 30 centímetros de profundidade, por 1 metro de diâmetro. Num raio de 300 metros do local, foram encontrados pedaços do avião.

    Segundo o major Odim, todo o material recolhido - pedaços da fuselagem, pedaços de bancos, a parte de cima dos bancos onde ficam os visos de não fumar e apertar cintos - serão levados para o aeroporto de Congonhas, onde serão remontados com o objetivo de descobrir as possíveis causa da explosão.

    No final da manhã, começaram a circular rumores de que a explosão teria sido causada por uma bomba de fabricação caseira. No aeroporto, informava-se que uma primeira vistoria do avião teria detectado vestígios de pólvora entre dois bancos de passageiros. Entre os passageiros, as versões eram desencontradas. Um deles declarou que o barulho da explosão foi semelhante ao de uma bomba, outros declararam ter sentido cheiro de pólvora, mas outros disseram que ouviram a estrutura do avião se rompendo.

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