Mocidade defende seu título nesta segunda

Viradouro recebe gritos de "já ganhou"

Brasil Online 11/02/97 01h21
De São Paulo

Especialmente para o folião que foi à Marquês de Sapucaí, o domingo de carnaval das escolas de samba do Grupo Especial carioca superou as expectativas. Ao final do desfile, às 7h30 quatro agremiações estavam com certeza na luta pelo título: Mangueira, Porto da Pedra, Imperatriz e Salgueiro. Se a história se repetir e o desfile de segunda superar em emoção o de domingo, os carnavalescos vão se esbaldar. Promessas não faltam: as favoritas desta segunda são Mocidade, que defende o título de campeã, Portela, com o samba mais popular do carnaval, e Beija-Flor.

A noite começou com a Santa Cruz, escola que volta ao grupo Especial, onde não desfilava desde 1992. O carnavalesco Albeci Pereira escolheu como enredo a história das bandeiras: "Não se vive sem bandeira". O desfile começou às 19h35 e durou pouco mais de uma hora.

Ainda na armação, a Santa Cruz deu o tom de polêmica da noite: ameaçada de perder um ponto por ferir o regulamento que proíbe a genitália desnuda na avenida, a escola teve que vestir, às pressas, as três madrinhas de bateria -as meninas da vinheta de carnaval da Rede Manchete- que vinham com o corpo pintado e apenas com um band-aid cirúrgico no local do tapa sexo.

Resultado: Kelly Cristina, Marcela Milk e Jullie Alves desfilaram com camisetas de malha como mini-saias e foram acompanhadas o tempo todo por dois integrantes da Comissão de Obrigatoriedades da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa).

Os pontos altos da escola foram a descontração dos componentes, que cantaram o samba-enredo com empolgação, ajudados pela exibição da bateria, que manteve o ritmo de forma segura. A falha principal foi no desenvolvimento do enredo. O carnavalesco esqueceu de mostrar vários tipos de bandeiras, inclusive algumas que prometera na sinopse. Muitas bandeiras no começo e poucas no final. Alegorias e fantasias tinham bom gosto e no nível das médias escolas em termos de luxo.

Viradouro faz
desfile vibrante

A Viradouro, segunda a entrar, prometia um show de impacto. O carnavalesco Joãosinho Trinta e sua escola foram recebidos pela platéia com muito carinho. Conseguiu arrancar aplausos do público nas arquibancadas populares, graças ao carisma do carnavalesco Joãosinho Trinta. "É o povo que faz o carnaval, é ele quem merece tudo isso", disse Joãosinho. A Viradouro foi saudada aos gritos de "é campeã".

O bicheiro José Carlos Monassa, patrono da Viradouro, esteve na concentraçâo para acompanhar a armação da escola, mas se disse incapaz de acompanhar todo o desfile: "Acho que ainda não tenho condições de ver a Viradouro na avenida. Nestes últimos anos, fui muito humilhado", disse Monassa, referindo-se aos processos que correm na justiça contra ele.

O abre-alas da escola era todo negro, simbolizando a escuridão antes do Big-Bang. O segundo carro era todo branco e os refletores da avenida ajudaram a melhorar o efeito e tornar o efeito da criação do mundo estonteante.

A platéia já estava conquistada. Seguiu-se um desfile de muito brilho mas, ao contrário do que se imagina de Joãosinho Trinta, obtido de materiais baratos como o selofane, pompons, bolinhas e isopor. O enredo sobre a criação do universo foi desenvolvido de forma fácil e com soluções originais como no carro em que guerra e paz se misturavam.

A bateria da escola inovou, fazendo uma paradinha em ritmo de funk. Comandada por mestre Jorjão sustentou o bom samba-enredo, facilitando a harmonia da escola. No entanto, a Viradouro pecou na evolução. Errou nos cálculos no início do desfile e foi obrigada a mudar de ritmo no final para não estourar o tempo. Alguns carros começaram a passar rapidamente pelas arquibancadas.

Mas, com o tempo sob controle, a escola voltou a empolgar, levando a platéia dos setores 4 e 11 ao delírio. A Viradouro se redimiu de seu desfile confuso de 1996 e pode ficar nas primeiras posições.

Há três anos na Viradouro, Joãozinho ainda não havia conseguido mostrar na escola de Niterói a genialidade que o tornou famoso na Beija-Flor. Com o enredo de 1997, "Trevas! Luz! A explosão do Universo", ele credencia a Viradouro à disputa do título.

Foi uma apresentação digna dos velhos tempos de Joãozinho Trinta. O refrão "Vou cair na gandaia com a minha bateria" levantou o público. "A platéia caiu na gandaia literalmente", comentou Joãozinho no fim do desfile. No meio da Marquês de Sapucaí, a platéia gritava: "É campeã".

União da Ilha chega
à avenida dividida

A União da Ilha, terceira escola a desfilar, chegou à avenida com a maior parte dos seus oito carros incompletos. Os painéis que compõem o carro abre-alas estavam sendo grampeados ainda na concentração, quando faltava pouco mais de uma hora para o desfile da escola. Muitos componentes culpavam o carnavalesco Roberto Szaniecki pelo atraso na confecção dos carros e temiam pelo desempenho da escola na avenida.

Szaniecki chegou a receber proteção de alguns diretores da escola, receosos de que o carnavalesco fosse agredido em plena Marquês de Sapucaí. "Realmente, aconteceram brigas, mas isso é muito comum no carnaval. Quando a escola entra na avenida, tudo se esquece", botou panos quentes o diretor Maurício Gazelli.

O diretor de comunicação da escola, Tárcio Santos, no entanto, culpou Szaniecki pelos problemas: "Ele fez um carro abre-alas que não passava pelo barracão. Isto só pode ser responsabilidade dele".

A Ilha faz uma homenagem a Pereira Passos, prefeito do Rio entre 1902 e 1906, responsável por obras que modificaram o perfil urbano da cidade no começo do século e transformaram a então capital brasileira na "Cidade Maravilhosa". "Cidade Maravilhosa, o sonho de Pereira Passos" é o enredo.

Apesar da tensão antes de entrar na avenida, a Ilha fez uma boa apresentação. A comissão de frente tinha uma capa com painéis que não foram bem manejados pelos componentes. Logo depois, o abre-alas desfez a eventual má impressão. Um luxuoso cenário belle époque, todo prateado com lustres de cristal no alto. Na parte de trás do carro reproduzia o casario decadente que as obras de Pereira Passos derrubou.

A escola levou o público de volta à epoca em que o Rio viveu um momento de muita mobilização. As alegorias todas tinham bom acabamento e as fantasias, também luxuosas e completamente dentro do enredo, ajudavam a contar a história.

Em termos de ritmo, harmonia e evolução a escola não teve problemas. O maior problema foi o samba, que embora descritivo não tinha nenhum refrão que tenha caído na boca do povo. Por isso, a escola passou sem ser muito aplaudida pelas arquibancadas.

No final da pista, passado o susto e provado que a Ilha fizera uma apresentação muito boa tecnicamente, o presidente da escola revelou que o carnavalesco fora demitido. Ele trouxe a escola até a pista e não desfilou. "Ele é muito temperamental", justificou.

Estácio recorre à
garra contra crise

A Estácio de Sá, quarta escola a desfilar, foi a que mais enfrentou problemas financeiros durante a fase pré-carnavalesca. O presidente Acyr Pereira Alves, chegou até a dizer que ela não teria condições de desfilar. Ficou sem quadra no ano passado e a Prefeitura pagou indenização que foi consumida pelas dívidas do desfile de 1996.

A história do perfume foi o enredo da escola, que não foi bem contado. A dificuldade financeira fez-se sentir no aspecto visual. As alegorias e fantasias eram provavelmente as mais simples do desfile apesar de terem bom gosto e estarem respeitando as cores.

Para compensar a falta de apelo visual, a escola recorreu ao que sabe fazer melhor: cantou o bom samba-enredo com garra, facilitada pelo excelente desempenho da bateria. O carnavalesco Max Lopes não compareceu ao desfile. Segundo a CBN, ele teve um estafa e não conseguiu ir à avenida.

A segunda metade do desfile das escolas, segundo os especialistas será a fase decisiva, com o desfile da Mocidade Independente, da Portela e da Beija-Flor.

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