Corregedoria aponta indício de crime militar no Rio

PMs do caso Diadema devem depor na sexta

Agência Folha 10/04/97 22h16
Do Rio de Janeiro

Violencia A Corregedoria da PM (Polícia Militar) concluiu haver indícios de que os seis policiais flagrados espancando moradores da favela de Cidade de Deus, em Jacarepaguá (zona oeste do Rio), cometeram crime militar. O relatório com a conclusão das investigações da Corregedoria foi recebido nesta quinta pela promotoria da Auditoria Militar do Rio.

Com base no relatório e nas imagens do vídeo gravado por um cinegrafista amador e exibido no "Jornal Nacional", da Rede Globo, a promotora Gizelda Teixeira pretende denunciar na sexta os seis PMs. Ela deverá acusá-los da prática de até seis diferentes crimes. O juiz Marcius Ferreira, da Auditoria Militar, disse que, assim que receber a denúncia, decidirá se haverá ação penal (processo) contra os PMs.

As agressões a pelo menos 11 pessoas ocorreram na madrugada de 23 de março, quando seis PMs do 18º BPM (Batalhão de Polícia Militar) realizaram blitz na Cidade de Deus. Um morador da favela filmou os espancamentos em fita de vídeo, divulgada no início da semana. Os seis PMs estão presos.

PMs do caso Diadema
devem depor na sexta

Os PMs envolvidos no caso de tortura e assassinato na favela Naval, em Diadema (Grande São Paulo), devem depor na sexta-feira no Fórum de Diadema para a juíza Maria da Conceição Pinto Vendeiro. Advogados dos PMs ainda estão tentando adiar o depoimento.

Os advogados dos PMs acusados de violência policial em Diadema (SP) têm três estratégias para tentar reduzir a força das acusações. A primeira consiste em descaracterizar os agredidos como vítimas. Para isso, os advogados estão levantando antecedentes criminais dos acusados, em busca de indícios que possam mostrar que estariam em Diadema atrás de drogas.

Segundo o advogado Evandro Fabiabi Capano, da Associação dos Cabos e Soldados, há um morador da favela disposto a dizer à Justiça que o vídeo foi uma armação de traficantes. Capano sugere que todas as vítimas dos policiais sabiam que havia uma gravação e provocaram os policiais. "Isso não justifica a ação dos policiais, mas os descaracteriza como 'monstros', como a sociedade os está chamando."

Sobre a morte de uma das vítimas da violência, o conferente Mário José Josino, Capano tem duas versões. "Ele pode ter armado a cena e ter se dado mal". A outra versão é de que Josino não foi morto pelo tiro dado por um dos PMs.

A segunda parte da estratégia é levantar dados sobre a criminalidade na favela Naval. A violência no local, segundo eles, justificaria uma atitude mais enérgica dos policiais.

Por último, os advogados pretendem assistir às três horas de duração do vídeo feito pelo cinegrafista amador e que motivaram o processo contra seus clientes.

Nas sequências que não foram ao ar na edição veiculada pela TV, eles pretendem encontrar passagens em que os policiais estariam fazendo o trabalho rotineiro.

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