Mocidade e Viradouro são favoritas

Estácio e Ilha enfrentam crise em plena avenida

Brasil Online 11/02/97 21h27
De São Paulo

CarnavalO desfile do Grupo Especial das Escolas de Samba do Rio de Janeiro em 1997 foi encerrado na manhã desta terça-feira. A Vila Isabel, última escola a desfilar, encerrou sua apresentação com o dia claro, às 7h25. Somando os dois dias foram quase 24 horas de samba. Duas escolas despontam como favoritas na maior parte das opiniões: Mocidade Independente e Viradouro.

A Mocidade foi a quinta a desfilar e mostrou o enredo "De Corpo e Alma na Avenida", do carnavalesco Renato Lage. A apresentação da atual campeã foi cercada de muita empolgação. O choro emocionado da porta-bandeira Lucinha, 21 anos, na entrada da Apoteose, foi a síntese do enredo que a Mocidade levou para a Sapucaí. O pas-de-deux imaginado pelo carnavalesco Renato Lage para Lucinha e Rogério, o mestre-sala, levou o público ao delírio.

Recebida na Apoteose sob gritos de "bicampeã", a Mocidade correu riscos. Com um desfile rápido, a escola precisou ser contida pelos diretores de Harmonia para não cruzar o portão antes dos 60 minutos mínimos previstos em regulamento. Com 72 minutos, o desfile acabou.

A empolgação dos desfilantes foi a marca da escola que escolheu contar a história do corpo humano. Ao entrar na avenida, à 1h38 de terça-feira, a Mocidade pagou o ônus de ser campeã e uma das favoritas deste ano. A pista foi invadida por dezenas de pessoas sem coletes. O empresário Ricardo Amaral, com uma camiseta da Beija-Flor, ao lado de um amigo, foi um dos muitos invasores.

A confusão que provocou troca de empurrões entre diretores da escola e fotógrafos atingiu até mesmo Dona Vilma, ex-mulher do bicheiro Castor de Andrade. Espremida em sua evolução, Dona Vilma acabou esbarrando em um dos integrantes da comissão de frente, pouco antes da primeira cabine de jurados. Saiu da embaraçosa situação com "fairplay" e a ajuda do presidente Jorge Pedro Rodrigues.

A comissão de frente representando homens-peixes exibiu plasticidade com enormes barbatanas em tons de verde. A altura dos 11 integrantes, que varia de 1,90m a 2 metros, ajudou a imponência da apresentação comandada pela professora de educação física Cláudia Ribeiro.

Em sapatilhas de ponta e roupa de bailarina do Lago dos Cisnes, Lucinha encantou a passarela e foi a responsável por um dos mais belos momentos da escola, ao lado de Rogério, 21 anos. Doze bailarinas do Teatro Municipal e da academia Johnny Franklin, freqüentada por Lucinha desde os 5 anos, fizeram o "coro".

A ensaiadora do Teatro Municipal, Sônia Vilela, foi a responsável pelos três meses de preparação do casal. "Tudo o que foi ensaiado eu fiz. Tudo vai depender da compreensão que os jurados tiverem dessa inovação", disse Lucinha, no fim do desfile. Pouco antes, ainda desfilando, a porta-bandeira extravasou sua emoção beijando Rogério na boca, aproveitando o refrão do samba, que pedia: "me beija na boca".

A rapidez do desfile da Mocidade fez com que a comissão de frente cruzasse o portão da Apoteose aos 26 minutos. Foi um risco calculado, segundo o vice-presidente de carnaval, José Manuel Leonor. "Nossa intenção era colocar toda a escola ao mesmo tempo na avenida, numa apresentação compacta", disse José Manuel.

Viradouro dá
a volta por cima

A Unidos do Viradouro, que passou depois de um desfile morno da Acadêmicos de Santa Cruz e sua homenagem às bandeiras, conseguiu duas façanhas na segunda noite de desfile na passarela do samba: fez uma apresentação de campeã, se tornando a primeira escola a empolgar o público, e patrocinou a volta por cima de Joãozinho Trinta. Há três anos na Viradouro, Joãozinho ainda não havia conseguido mostrar na escola de Niterói a genialidade que o tornou famoso na Beija-Flor. O desfile, no entanto, com o enredo "Trevas! Luz! A explosão do Universo", credenciou a Viradouro à disputa do título.

Foi uma apresentação digna dos velhos tempos de Joãozinho Trinta. O samba-enredo e a bateria também ajudaram a escola. O refrão "Vou cair na gandaia com a minha bateria" levantou o público. "A platéia caiu na gandaia literalmente", comentou Joãozinho no fim do desfile. A bateria do Mestre Jorjão inovou com uma paradinha funk, que fez o público delirar. No meio da Marquês de Sapucaí, a platéia gritava: "É campeã".

Junto com a Viradouro estava o patrono, o bicheiro José Carlos Monassa, emocionado em voltar para a avenida depois de três anos de ausência. Monassa responde em liberdade por um processo de formação de quadrilha, o mesmo que condenou 14 bicheiros em 1993.

A escola terminou seu desfile com um clima muito diferente daquele vivido na apuração de 1996, quando por pouco a escola não caiu para o segundo grupo. Desta vez é quase certo que volte à avenida no sábado para o desfile das campeãs. O desfile não teve nenhuma falha técnica e contou com a emoção da platéia.

União da Ilha entra
em crise em pleno desfile

A Ilha entrou na avenida para contar o enredo "Cidade Maraviilhosa, o Sonho de Pereira Passos". Pereira Passos foi prefeito do Rio entre 1902 e 1906 e realizou uma série de obras para modificar o perfil urbano da então capital brasileira. Foi um período conturbado da vida da cidade, em que o prefeito queria tornar o Rio uma espécie de Paris dos Trópicos. A escola começou com um abre-alas bonito, reproduzindo um daqueles ambientes da Belle Époque na frente. Na parte de trás do carro era mostrado o casario decadente da cidade, que foi sacrificado pelas obras de modernização.

Os carros da Ilha tinham concepção interessante e tinham detalhes de todos os lados que eram olhados. A escola fez um desfile correto, ainda que não tenha empolgado a platéia. No entanto, nos bastidores, a briga foi feia. O carnavalesco Roberto Szaniecki foi demitido na cabeçeira da pista pelo presidente da escola.

O clima esquentou antes mesmo de a bateria aquecer seus tamborins. Depois de muito disse-me-disse, a escola deixou culminar na avenida uma crise interna entre dirigentes e o carnavalesco, que já se arrasta há alguns meses. Os desentendimentos foram provocados por atrasos na confecção dos carros alegóricos. Resultado: a Ilha levou para a Sapucaí alegorias incompletas. Um perigo em um ano em que quatro escolas descem para o Grupo de Acesso A. "A escola não sabe fazer um carnaval de grande porte", disse o carnavalesco, que garantiu ter pedido demissão há uma semana.

Ao saber das declarações de Szaniecki, o presidente da Ilha, Jorge Taufie Gazelli, soltou o verbo. "Ele é um veado. A escola deu tudo que ele quis e muito mais. Mesmo que a Ilha ganhe o título ele está fora da escola. E acredito que não consiga mais trabalho em nenhuma outra do Grupo Especial", ressaltou Jorge, referindo-se aos problemas que o carnavalesco teve no Salgueiro e na Grande Rio. Apesar de contrariado com o trabalho de Szaniecki, o presidente disse que pediu aos integrantes da escola para não agredirem o carnavalesco.

"Ele queria desmontar carro que já estava armado na concentração. Mas não vou deixar baterem nele pois isto não acontece na Ilha", garantiu Jorge. Sorte de Szaniecki pois os ânimos estavam exaltados na escola. Ainda na armação, uma confusão quase terminou em briga na bateria da escola. Isto sem contar os xingamentos impublicáveis feitos ao carnavalesco na concentração, enquanto os integrantes da tentavam remendar os carros. "Ele acordava todos os dias às 15h e não botou a mão em um paetê. A escola só está na avenida porque ele atrasava de um lado e a gente adiantava do outro", afirmou o presidente.

Desanimado e visivelmente nervoso, Szaniecki justificou as acusações: "Você acha que estes carros inacabados são culpa minha? Quatro equipes de montagem abandonaram a escola depois de receber. Foi muita ingenuidade pagar a mão-de-obra antes do desfile". Segundo ele, o projeto do carnaval da Ilha que levou para a avenida o enredo Cidade Maravilhosa, o sonho de Pereira Passos, estava pronto meses antes e não foi mudado.

"Há dois meses estou morando no barracão lutando pela escola", garantiu o carnavalesco. Diretores da escola, no entanto, contaram que Szaniecki teria rejeitado a idéia de fazer um mutirão para terminar o carnaval da Ilha, alegando que ninguém entendia nada de carnaval. "Ninguém trabalha com ele. É um canalha, humilha os outros", criticou o presidente. Para o carnavalesco, apesar de todo o tumulto -que começou na concentração, pois os carros que deveriam chegar às 3h só apareceram às 12h e inacabados-, o desfile foi bom.

"Só cumpri meu papel de terminar o carnaval. Foi muita sujeira junta, mas o carnavalesco é sempre culpado. Eles esquecem que a gente projeta e supervisiona o trabalho. Quem faz e paga são eles", desabafou Szaniecki. Segundo o carnavalesco, a equipe dele voltou para o Salgueiro. Na verdade, Szaniecki é cria da casa na Ilha: trabalhou lá durante sete anos. "É minha escola de coração, trabalhar aqui era meu sonho dourado", ressaltou Szaniecki.

Estácio desfilou
falta de dinheiro

De todas as previsões apocalípticas a respeito do carnaval de 1997 a única que parece ter se tornado verdadeira foi, em parte, a sobre a Estácio de Sá. Sem quadra de ensaios, foi a campeã de 1992 que mais sofreu para colocar o carnaval na rua. O presidente Acyr Pereira Alves chegou a dizer que a escola corria o risco de não desfilar. As co-irmãs mais ricas, como Mocidade e Imperatriz, deram uma mão de última hora.

A Estácio de Sá pode amargar o rebaixamento. A vermelho-e-branco refletiu na avenida a crise financeira que enfrentou nos últimos meses e apresentou um desfile pobre, com carros baixos, mal acabados e com poucos adereços. As alas também não escaparam. Dos 320 ritmistas da bateria, pelo menos 80 estavam com fantasias incompletas. Segundo Mestre Ciça, os próprios ritmistas confeccionaram suas roupas. Apenas 70 das 120 baianas passaram pela avenida. Motivo: a escola não conseguiu terminar as fantasias das outras 50 baianas por falta de dinheiro.

As alegorias poderão tirar preciosos pontos da Estácio. O carro três, "Egito", estava com a parte traseira desforrada e com ferros à mostra. As duas esfinges, que ilustraram a frente da alegoria, descolaram. O carro sete, "Oxalá, lavagem do Bonfim", não deixou por menos. Com um único destaque, ele apresentava quatro baianas gigantes e mal acabadas, além de uma espécie de cobra em espuma. Apenas a alegoria quatro, "A França", trazia algum luxo ao reproduzir o ambiente de cabaré, com vedetes e garçons.

Para piorar a situação, o carnavalesco Max Lopes não deu às caras na Sapucaí. "Ele passou mal e assistiu o desfile no barracão", disse o presidente da Estácio, Acyr Pereira Alves, na dispersão. O dirigente agradeceu a todos os presidentes de escolas que o ajudaram com doação de materiais para colocar seu carnaval na rua. Já o puxador, David do Pandeiro, preferiu agradecer aos componentes mais dedicados da escola. "Tem muita gente aqui que trabalhou de graça para colocar a escola na avenida", lembrou.

Abalados pela crise que chegou à passarela do samba, componentes da Estácio de Sá iniciaram o desfile chorando.

O começo do desfile também foi tenso para os integrantes da comissão de frente da escola. A fantasia chegou quase na hora da Estácio entrar na avenida. Mas não ficou só nisto. O adereço de cabeça em forma de leão - símbolo da escola - veio com a boca fechada, impedindo a visão dos integrantes da comissão. Às pressas e com a ajuda de outros componentes da escola, o coreógrafo, Milton Carvalho, conseguiu abrir a boca e resolver o problema.

"O caminhão que trouxe as fantasias ficou preso em um engarrafamento, por isto que elas demoraram a chegar", explicou o coreógrafo. Como se não bastasse os problemas na concentração, a comissão de frente simplesmente andou na pista. Não exibiu nenhum movimento nem mesmo em frente à cabine dos jurados.

Mas nem tudo foi ruim na escola. A bateria de Mestre Ciça deu um show à parte ao inovar com uma coreografia em que os ritmistas sentavam na pista. A cada repetição da coreografia, o público da Sapucaí ia à loucura, principalmente o dos setores seis e 11. A exibição da bateria no fim do desfile fez o presidente da Estácio relaxar um pouco. Empolgado, Acyr levantou as mãos para o alto e cantou o samba junto com o público.

"A escola fez tudo para fazer uma exibição bonita. E o resultado está aí", disse o dirigente, apontando para a platéia que cantava o samba-enredo "Através da fumaça, o mágico cheiro do carnaval". "Vamos chegar entre as dez primeiras", afirmou Acyr.

Como teve deficiências de enredo e não contou com bons aspectos visuais a Estácio corre sério risco de ter de desfilar no sábado de carnaval no ano que vem, uma vez que as quatro últimas vão cair, de acordo com o regulamento. A Estácio vai à apuração torcendo para que os jurados levem mais em consideração o samba, a evolução e alegria proporcionados pela exibição de gala da bateria.

Portela entra com pata
da águia 'fraturada'

Desfilar depois do espetáculo inesquecível proporcionado pela Mocidade era uma tarefa penosa para a Portela. Sobretudo porque o público costuma ser frio com as escolas que desfilam após apresentações muito bem sucedidas.

Só mesmo a experiência de quase 70 carnavais poderia fazer com que uma escola de samba superasse com a valentia que a Portela superou a apresentação da Mocidade. Sem desrespeito, mas com a autoridade de quem sabe do que é capaz -"Nem sei quem passou na minha frente", chegou a ironizar o presidente Luís Carlos Scafura-, a Portela entrou na Marquês de Sapucaí pronta para brigar pelo título. Nem mesmo o atraso provocado pela quebra de um carro da Mocidade, na dispersão, foi capaz de diminuir o ímpeto da águia portelense.

A escola veio no pique. Com a águia gritando e batendo asas, os componentes cresciam -e a Portela invadia a avenida. Efeitos especiais e personalidades não faltaram. Mosquetes atiravam, Valéria Valenssa e Adriane Galisteu diziam no pé (uma à frente, outra atrás da Ala dos Estudantes), e a bateria comandada por Mestre Paulinho fazia o que queria. Brincando, ele retirou em segundos seu pessoal do primeiro recuo e tocou o barco, sem problemas. O samba, de Doutor, Renato Valle, Tonico da Portela e Eli Penteado deu o ânimo suficiente para os componentes e a escola evoluía sem pressa.

Foi, aliás, essa falta de pressa que quase causou um mal enorme àquele que poderia ser o desfile da redenção da Portela. Quando os diretores se deram conta, faltavam apenas 12 minutos para o término da apresentação e muita escola ainda precisava cruzar a linha de fim de desfile da Sapucaí. Começou, então, uma verdadeira guerra. Harmonia, compositores e diretoria tocando as alas para fora da pista e contando com a rapaziada da força (os empurradores de carro) para retirar as alegorias do caminho. Na confusão, um carro acabou com a suspensão quebrada e quase atrapalha de vez a saída de todos.

Mesmo assim, os portelenses não precisam se desesperar. Até o início do desespero contra o relógio a escola vinha muito bem. Como o último módulo de julgadores reúne apenas quatro quesitos - e, é bom não esquecer, as menores notas são eliminadas, da mesma forma que a mais alta -, a esperança de retornar no desfile do sábado das campeãs permanece inalterada. Nada mal para uma agremiação que mudou de porta-bandeira um mês antes do desfile e era apontada pelas rivais como uma forte candidata ao rebaixamento. Heresia de quem não sabe do que a escola que mais vezes venceu o carnaval é capaz.

As notas tristes do desfile portelense ficaram por conta da águia do abre-alas que entrou com uma das patas amarradas porque havia despencado na concentração. Depois de muito nervosismo, o problema foi contornado. O outro problema foi provocado pelo excesso de bicões.

Diretor de harmonia que se preza se faz entender pelo componente com um olhar. Um sorriso. Um toque de dedos. Diante de tais explicações, nada mais fácil do que Paulinho da Viola executando as funções de diretor de harmonia da Portela, sua escola do coração.

Depois de ouvir ‘Foi um rio que passou em minha vida’, o segundo hino portelense, ser cantado no esquenta da escola Paulinho ficou no cantinho, fumando um charuto e se preparando para o desfile. Delicadamente, recusou-se a fingir que cantava o samba para um fotógrafo. Da mesma forma, não negava autógrafos, cumprimentos ou fotos para fãs e componentes da Portela.

De sua garganta só se ouviu o ‘Linda, eternamente Olinda’ no momento em que o portão se abriu. Antes, preocupado, Paulinho procurara saber o motivo pelo atraso e quase se desesperou ao ver que a garra direita da águia quebrara segundos antes de a escola iniciar sua apresentação. E o coração nestas horas, como fica? "Apertadinho, apertadinho", dizia, entre tímidos sorrisos.

Sua estratégia de desfile era simples: aguardaria a chegada dos integrantes da Velha Guarda, ao lado de quem planejava passar pela Sapucaí. Como que em deferência, os componentes vinham cumprimentá-lo, saber sua opinião... Quando um dos carros teve problemas para entrar na pista, um colega de harmonia correu até ele e pediu: "Segura a escola que um carro tá parado". Como num passe de mágica, tudo se resolveu e o desfile prosseguiu.

Chegando à Apoteose, e após centenas de acenos para camarotes, tapinhas de incentivo em empurradores de alegoria e poses para fotos - além, é claro, da constante preocupação com a mulher, Lilla, que de vez em quando sumia de sua constante vigilância -, a preocupação passou a ser o possível estouro do tempo disponível para a apresentação. Em segundos Paulinho ía e voltava, ía e voltava...

"Revivi meus velhos tempos, mas valeu a pena", brincou. Mas, e os problemas na harmonia? "Sinceramente não vi nada não, mas acho que, se aconteceram, não foram suficientes para atrapalhar o desempenho da escola". Palavra de um bamba, que demorou para acertar seu retorno, mas quando o fez, brilhou.

Beija-Flor faz
desfile bonito

O enredo sobre as festas do calendário brasileiro -"A Beija-Flor é festa na Sapucaí"- rendeu belos momentos visuais, facilitados pela alegria dos componentes. A escola que comemorava os 50 anos da emancipação de seu município sede -Nilópolis- deve voltar a desfilar no sábado das campeãs, mas dificilmente nas primeiras posições. O enredo era fácil de entender mas não tinha nada de original, apenas uma sucessão de alas multicoloridas. O jejum de 14 anos sem vitórias da escola deve permanecer.

Ainda por cima, a evolução da escola ficou prejudicada. Com medo de estourar o tempo, a escola passou alguns carros correndo. A presença de Ronaldinho e sua namorada Suzana Werner tumultuou a escola, uma vez que um batalhão de fotógrafos tenou registrar o momento.

Um dos melhores momentos foi no carro do Halloween, inexplicavelmente incluído como festa do calendário brasileiro. A meia-irmã do carnavalesco Milton Cunha veio pendurada em argolas e com um minúsculo tapa-sexo.

Vila encerra desfile
espantando falta de dinheiro

Uma pena que poucos tenham sido os privilegiados -e menos ainda, entre esses, os sóbrios- que assistiram ao encerramento do desfile deste ano, a cargo da Vila Isabel. Nada para entrar para a história da Avenida, mas poucas vezes o enredo e a performance de uma escola caíram tão bem como pano final desta festa. Um bloco animadíssimo atravessou a Sapucaí quando o sol da terça-feira gorda chegou neste carnaval.

Bloco porque este era o espírito do enredo Não deixa o samba morrer: resgatar fantasias, a alegria e, principalmente, o clima de tempos atrás, do Bloco do Zé Pereira, das Grandes Sociedades, enfim, dos antigos carnavais. Ao fim, sempre em tom de muito bom humor, a Vila, claramente com um carnaval de poucos recursos, conseguiu se dar outro tipo de luxo: o de criticar a forma e o conteúdo dos desfiles de hoje, apresentando, por exemplo, pessoas com movimentos robotizados e ligadas a um carro por tubos de prata - referência explícita ao estilo renatolagiano de fazer carnaval.

Sempre que a história e o passado do carnaval é enredo de uma agremiação, o desfile vira uma espécie de baile de fantasias, com pierrôs, colombinas, clóvis... Desta vez não foi diferente. Alas como as dos Blocos de Sujos, que relembravam o Cacique de Ramos e o Bafo da Onça, misturavam diversos tipos de foliões de rua, fantasias de pirata, de diabos, numa algazarra só. Os carros? Simples e honestos, como os antigos carnavais.

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