|
|
Porto da Pedra comemora colocação
Imperatriz e Mangueira reclamam de notas
AJB 13/02/97 19h03
Do Rio de Janeiro
Quem chegasse por acaso à quadra da Unidos do Porto da
Pedra, em São Gonçalo, depois da apuração não teria a menor dúvida: a escola era
a campeã do carnaval. Só mesmo um louco para imaginar outra coisa.
Afinal de contas, fogos de artifício explodiam depois da leitura do último
quesito, o samba não parava de tocar e as pessoas se abraçavam
entusiasticamente. Mas a festa era apenas pelo quinto lugar, comemorado com uma festa que, assim como na Viradouro foi até de manhã.
Como se justificasse até o último momento o enredo defendido na avenida, "No reino da folia, cada louco com sua mania", as mais de 2 mil pessoas espremidas na quadra da escola comemoravam até as notas de outra
concorrente, a vizinha niteroiense Viradouro. "É tudo do lado de cá (do
outro lado da baía de Guanabara)", explicou o vice-presidente social Uberlan
de Oliveira, irmão do fundador da escola, Serginho, morto no ano
passado. "Este título é para ele", confundiu Uberlan, como se o Tigre
Gonçalense estivesse mesmo no alto do pódio.
O que não deixa de ser verdade: em seu segundo ano no Grupo Especial,
o ex-bloco carnavalesco chegou entre as primeiras. "As outras têm 50 anos,
sei lá. Nós somos um bebê de dois anos, estamos apenas engatinhando", disse
Uberlan, a maior autoridade presente -o presidente, o patrono e o
carnavalesco foram à Apoteose-, que chorava como uma criança de dois anos. A Porto da Pedra era um Bloco do Grupo Especial. Com a extinção deste desfile, os blocos foram convidados a se tornar escolas de samba, com o benefício de não terem de passar por todos os grupos inferiores. Foram alçados diretamente ao Grupo 1 (atual Grupo de Acesso A).
"É campeã!", repetiam os "loucos" da Porto da Pedra. Cada um dos
177,5 pontos conquistados foi encarado como um gol, tamanha a euforia.
Durante a apuração das notas, a escola se manteve no bolo do primeiro
lugar até o terceiro quesito. Quando perdeu meio ponto em alegorias e
adereços, o jurado foi xingado como se estivesse presente à quadra - aliás,
uma das mais belas e confortáveis que constrasta com a pobreza do bairro de
Porto da Pedra, que gira em função da escola.
A decepção só tomou conta da quadra quando três juízes decretaram a
perda de 1,5 ponto no quesito harmonia. A partir daí, a Viradouro ganhou uma
torcida ainda maior. Mocidade, Beija-Flor, Imperatriz e Mangueira vinham
sendo vigiadas à distância, mas a disputa com o Salgueiro -vencida-, que
também fez uma ode à loucura, mereceu a maior atenção.
O samba-enredo, que teve três notas 10, começou a ser cantado antes do fim
da apuração, com um breve intervalo para mais vaias aos dois juízes
que barraram a bateria gonçalense - mais meio ponto perdido. Mas não
o suficiente para tirar São Gonçalo do desfile das campeãs. O
que resultou em cerveja de graça, para todo mundo ficar ainda mais "maluco".
Imperatriz estava conformada com resultado
Nenhuma bandeira, pouca confiança e muita apreensão.
Menos de 300 leopoldinenses acompanharam a apuração do Grupo Especial na quadra da verde-e-branco de Ramos. Um clima de que este ano a vitória estava mais longe tomou grande parte dos torcedores, mas o sexto lugar surpreendeu até mesmo os mais descrentes.
Desde 1989, a Imperatriz Leopoldinense não ficava de fora das cinco
primeiras colocações.
"A primeira decepção foi não ter sido campeã, mas a
maior de todas foi não ter ficado entre as cinco", resumiu o presidente da Imperatriz, Wagner Araújo, ainda na Praça da Apoteose. Na verdade, a escola já esperava perder pontos em evolução e alegoria por causa da quebra do segundo carro, "Presépio", na entrada da
dispersão em frente a cabine de jurados. "Fiquei entregue ao gosto
dos jurados. Mas faço questão de ler as justificativas do júri para
entender, por exemplo, porque tivemos 9,5 em samba-enredo, fantasia e
bateria. Vão ter que me convencer", reclamou.
O bicheiro Luizinho Drumond, patrono da Imperatriz, também reclamou do
resultado, mas reconheceu que a Viradouro merecia ganhar. Luizinho -que
voltou a comandar o desfile da escola, na avenida, quatro anos depois de sua
prisão- acompanhou a apuração na Apoteose, ao lado dos filhos
Marquinhos, Cátia e Simone. Do outro lado da cidade, Rosa Magalhães
também não acreditou no que viu. A carnavalesca da Imperatriz viu a
apuração pela tevê, como de costume, em seu apartamento, em
Copacabana, Zona Sul do Rio. No final, Rosa foi seca: "Foi drástico".
A carnavalesca reconheceu que a quebra do carro tirou pontos da escola, mas
não se convenceu com duas notas 9,5 para a bateria. "Faltou carinho
na avaliação", lamentou ela. Na quadra da Rua Professor Lacê, grande
parte dos poucos leopoldinenses sequer acompanharam o desfile até o final.
Quando Jorge Castanheira anunciou a segunda nota baixa da escola em
Evolução -o nove do jurado Lula Bastos -, o choro e a tristeza tomou
conta dos torcedores. A partir daí, a quadra esvaziou. "Eu sabia que
não ia dar. Mesmo assim, vim de Três Rios para assistir à
apuração aqui. Lutamos o ano todo, mas tudo acabou em cinco minutos",
disse a dona-de-casa Eunice Valetim, sem conter as lágrimas. Para o diretor
social da Imperatriz, Oscar de Paula, a derrota trouxe uma lição à
Imperatriz: "O desfile técnico fracassou".
A cúpula da Mangueira também não ficou satisfeita com o resultado.
Apesar do bom terceiro lugar, o presidente Elmo José dos Santos criticou os
jurados que tiraram pontos da escola em alegorias e adereços. "Ainda
não descobrimos o caminho das pedras deste quesito. Nossas alegorias
são maravilhosas, mas não são entendidas pelos jurados.
Vamos reunir a diretoria e estudar mudanças para o ano que vem", disse Elmo,
que foi muito aplaudido pela aguerrida torcida mangueirense na Apoteose. Foi
de lá, também, que partiu o mais elegante gesto do dia. "Eu, eu, eu, a
Viradouro mereceu", gritaram os torcedores da verde-e-rosa, logo que o
resultado foi anunciado.
|