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Desolação atinge escolas rebaixadas
Império Serrano entra em crise
Brasil Online/AJB 13/02/97 19h34
De São Paulo e do Rio de Janeiro
No ano em que quatro escolas do Grupo Especial descem para o
Grupo de Acesso A, as notas dos jurados foram minuciosamente calculadas.
Ninguém queria participar da contagem regressiva. No fim da apuração
na Apoteose, sobrou para a Acadêmicos da Rocinha, Acadêmicos de Santa
Cruz, Estácio de Sá e Império Serrano.
A desolação atingiu
principalmente os integrantes da verde-e-branco da Serrinha, que levou
para a avenida o enredo "O mundo dos sonhos de Beto Carrero". Além das
notas baixas, todas as escolas rebaixadas perderam pontos devido a punições
impostas pela omissão de Regulamentação de Obrigatoriedades da
Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba).
O Império, por exemplo, perdeu três pontos por apresentar marca comercial
nas camisetas de integrantes que carregavam adereços -isto só é permitido
aos empurradores de carros alegóricos- e um ponto por atraso na
dispersão. Incomformados, os imperianos choraram incontrolavelmente.
O carnavalesco da escola, Jerônimo Guimarães, não escondeu sua
decepção: "Estranhei todas as notas. Todo mundo achava que ficaríamos
entre as cinco primeiras".
Ao ser anunciada a punição, o presidente José Marcos da Silva, o
Marquinhos, avisou que iria entrar com recurso. "Achamos que as pessoas que
conduzem alegorias podem usar comisetas promocionais, como os empurradores
de carros", disse Marquinhos. No fim da apuração, no entanto,
Marquinhos não quis falar nada. "Agora não", esquivou-se,
antes de sair em disparada para seu carro.
Com o Império Serrano, deixam o Grupo Especial 50 anos de história. É mais ou menos como um grande clube de futebol como o São Paulo ou o Vasco fosse rebaixado para o grupo inferior. O fato, uma das maiores desonras do mundo do samba parece ter virado uma dolorosa rotina para os imperianos, nove vezes campeões do carnaval. O primeiro rebaixamento ocorreu em 1978. A escola desfilou em 1979 no Grupo 1-B e subiu no ano seguinte. Em 1981, tirou o último lugar, mas não foi rebaixada porque os presidentes das outras escolas consideraram injusto o Império perder pontos por causa de invasão da pista, que o fez estourar o tempo de desfile. Ficou entre as grandes e foi campeão no ano seguinte.
Parecia que a má fase havia sido espantada de vez. Mas desde 1988 o Império começou a ter problemas de novo. Até que em 1991 caiu de novo, pelo mesmo problema que o derrubou desta vez: merchandising. Só conseguiu voltar ao Grupo Especial em 1994 e não fosse brigas políticas no Grupo 1 teria caído mais uma vez. Durante seu desfile naquele ano, a escola teve quatro carros quebrados e perdeu pontos. De novo, em 1996, a escola fez um belo desfile e ficou em sexto lugar. Parecia que a má fase estava superada de vez...
Membros do Conselho Deliberativo e da Velha Guarda da Império
Serrano querem o impeachment do presidente da escola de samba, o
estivador aposentado José Marcos da Silva, 47, o Marquinhos. ''Já que
vão pedir o meu impeachment, que peçam agora'', disse Marquinhos, que
preside a escola há um ano e oito meses.
Além do descontentamento com o enredo ''O mundo dos sonhos de Beto
Carrero'' -que levou o Império ao rebaixamento-, conselheiros e
componentes da escola teriam supostas provas de mau uso de verbas da
agremiação. Segundo Marquinhos, o desfile da Império custou R$ 1,2
milhão. Componentes acham que a escola veio pobre demais para ter gasto
esse valor.
''Há 30 anos a Império não apresenta um Carnaval tão bonito. Não
entendo por que caiu'', afirmou Marquinhos. Componentes querem que ele
apresente notas fiscais para comprovar os gastos com o Carnaval. Se
Marquinhos for deposto, a Império será administrada provisoriamente por
uma comissão formada por membros da escola, até que sejam convocadas
eleições para presidente. Em 95, Marquinhos foi eleito pela primeira vez
presidente da Império. Se o impeachment não for aprovado, as próximas
eleições serão em 98.
Estácio fica conformada
Já outra
rebaixada, a Estácio de Sá, carrega a herança da primeira escola fundada no
Rio, a Deixa Falar, nascida em 1928. "Não vou recorrer de nada. Se
errei tinha mesmo que ser punido", disse o presidente Acyr Pereira Alves.
A
Estácio perdeu um ponto por ter menos baianas do que as 100 determinadas
pelo regulamento e três por merchandising indevido. A falta de baianas foi
provocada pela falta de dinheiro para a confecção das roupas, mesmo
problema que obrigou a bateria a desfilar com apenas metade da fantasia.
A penúria da Estácio já havia sido revelada por Acyr uma semana antes do desfile, quando ele ameaçou até não
desfilar. "Se a escola ficasse no Grupo Especial, eu sairia da presidência.
Como desceu, eu continuo. Não ia ser covarde de abandonar o barco
agora", disse Acyr, que, no entanto, acha que a embarcação vermelha e
branca vai perder o carnavalesco Max Lopes. "Ele é do Grupo Especial. Acho
que não vai querer ficar."
Única escola da Zona Sul que estava no Grupo Especial, a Acadêmicos da
Rocinha foi punida em três pontos por trazer marca comerical nas camisetas
de apoio a destaque. Para seu carnavalesco, Flávio Tavares, o resultado
geral foi mais ou menos justo. "Só não concordo em tirar a mesma nota
que a Estácio em alegoria. Ficou provado que o nome ajudou. Além disto, a
Rocinha bancou 17 alas e ainda teve que doar 50% das fantasias", justificou.
Para o carnavalesco da Santa Cruz, Albeci Pereira, a escola -que perdeu um
ponto em tempo de dispersão- pagou o preço por ser pequena.
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