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Senadora Benedita da Silva provoca nova polêmica no julgamento

Brasil Online 23/01/97 22h59
De São Paulo

O maior destaque do segundo dia de julgamento do ator Guilherme de Pádua, 27, pela morte da atriz Daniella Perez, no Rio, foi o comportamento irônico do réu durante a leitura dos depoimentos de seus ex-colegas da Rede Globo, os atores Alexandre Frota e Maurício Mattar. Guilherme riu, balançou a cabeça, aplaudiu de modo debochado e chegou a abaixar a cabeça até a altura dos joelhos como se estivesse manifestando a intenção de não continuar ouvindo os depoimentos. O juiz José Geraldo Antônio, 55, não advertiu o réu.

Daniella foi assassinada na Barra da Tijuca (zona sul do Rio) em 28 de dezembro de 1992.

A leitura de 49 depoimentos contrários ao réu e à sua ex-mulher Paula Thomaz, 23, foi pedida ao juiz pelo promotor José Muiñoz Piñeiro Filho, 39. O julgamento de Paula ainda não está marcado.

Pádua começou a demonstrar irritação quando foi lido o depoimento que o ator Alexandre Frota, 33, prestou na 16ª DP (Delegacia de Polícia), na Barra da Tijuca (zona sul), dois dias após o crime.

No depoimento, Frota chama Pádua de ''pessoa invejosa, ciumenta e agressiva''. O ator acusou Pádua de ameaçá-lo com um pedaço de pau após disputarem uma luta de judô no palco do Teatro da Galeria (Flamengo, zona sul). Os dois atuavam no elenco da peça de teatro ''Blue Jeans''. Ao ouvir a leitura, o réu riu, ao mesmo tempo em que balançava a cabeça. A seguir, bateu palmas.

O depoimento lido em seguida foi o do ator Maurício Mattar, prestado na 16ª DP dias após o assassinato. No trecho em que Mattar afirma que Pádua costumava passar a mão ''nos órgãos genitais'' de colegas de teatro, o acusado tentou demonstrar um ar de incredulidade. Levou a mão direita ao queixo, passando a olhar fixamente para o juiz. A seguir, balançou a cabeça, como se estivesse reclamando do conteúdo do depoimento.

Em seguida, foi lido o depoimento de Fabiana de Sá, que à época do crime era mulher de Maurício Mattar. Ela classificou Pádua de ''violento'' e Paula, de ''ciumenta''. Durante a leitura do depoimento de Fabiana, o acusado fechou os olhos e apoiou o rosto na palma da mão direita, dando a impressão de que estava dormindo.

As leituras pedidas pela promotoria começaram às 12h30 e terminaram às 18h15. Os depoimentos, lidos por funcionários do Tribunal aos jurados, foram prestados à Polícia Civil e à Justiça nos últimos quatro anos.

Depois da leitura dos depoimentos, concluída às 18h15, os jurados passaram a analisar as fotos do cadáver de Daniella e do local do crime e os laudos periciais. Essa etapa foi encerrada às 19h15, quando o juiz suspendeu o julgamento novamente.

Entrevista dada à revista ''Veja'' pela senadora Benedita da Silva (PT-RJ) gerou nova crise no julgamento de Guilherme de Pádua. A senadora era testemunha relacionada pela promotoria. Ao falar com a jornalista Paula Autran, da sucursal carioca da ''Veja'', ela quebrou a incomunicabilidade das testemunhas exigida por lei.

A participação da senadora no julgamento se deve ao seu envolvimento com o frentista Antônio Clarete. Ela teria convencido Clarete a prestar depoimento. O frentista diz que removeu manchas de sangue no Santana usado por Pádua na noite do crime.

A conversa com a jornalista ocorreu na tarde de quinta, por meio de telefone celular. A jornalista ligou para Benedita a fim de entrevistá-la sobre o Senadinho (repartição do Senado no Rio). Apesar de já estar no espaço reservado a testemunhas, a senadora a atendeu e deu a entrevista.

Ao ser informado do fato, nesta quinta à tarde, o advogado de Pádua, Paulo Ramalho, pediu aos promotores que dispensem o testemunho de Benedita. A promotoria concordou com o argumento e dispensou a senadora.

Se os promotores insistissem em ouvir Benedito, Ramalho pediria a exclusão da testemunha ao juiz José Geraldo Antônio. Caso o juiz não atendesse o pedido, o advogado de Pádua planejava pedir a anulação do julgamento. ''Se ela prestar depoimento, eu ganho de presente uma nulidade no caso de Guilherme ser condenado'', afirmou Ramalho.

Acusação de Guilherme

irrita ex-mulher

Paula Thomaz, 23, ficou indignada com o depoimento do ex-marido, Guilherme de Pádua. Na noite de quarta, ela acompanhava os noticiários sobre o julgamento, quando Pádua a acusou novamente de ter matado a atriz Daniella Perez. Segundo a Folha de S.Paulo apurou, durante o banho de sol das presas da carceragem feminina da Polinter de Niterói (a 15 km do Rio) na quinta de manhã, Paula criticou o ex-marido e garantiu às sete companheiras de cela que não matou Daniella. Para Paula, Pádua deveria ir para o manicômio judiciário.

''Ele (Pádua) é maluco. Nada do que fala é verdade. Eu não tenho culpa de nada. Ele está querendo tirar o corpo fora e jogar a culpa do assassinato para cima de mim'', disse Paula Thomaz às presas da Polinter, segundo relato do plantonista identificado como Castro.

O banho de sol começou por volta das 9h e durou uma hora e meia, como acontece todas terças e quintas-feiras. Durante todo o período, Paula não desligou o rádio de pilha, sintonizado numa emissora que transmitia o julgamento.

O policial contou que Paula está atenta a todos os noticiários sobre a audiência. Hoje de manhã, ela chegou a pedir jornais emprestados aos plantonistas para ler as reportagens sobre o caso. Paula leu dois jornais. Ela gostou de reportagens que tratavam Guilherme de Pádua como cínico. Reprovou as reportagens que reproduziam o depoimento dele. Ela chegou a questionar ''como a mídia pode dar ouvidos às coisas que ele fala''.

Na quarta, depois que saiu do 1º Tribunal do Júri, Paula Thomaz foi direto para a Polinter, onde ficou assistindo TV até às 21h -horário em que as TVs das celas são desligadas. O rádio já estava ligado e assim permaneceu, até pouco depois das 23h40, quando o juiz José Geraldo Antônio suspendeu o julgamento.

''A Paula é tranquila, não cria problema. Ela é muito reservada. Quase não fala. Dificilmente sai da cela'', afirmou Castro. Segundo uma presa contou ao policial, Paula perdeu a calma quando Guilherme de Pádua a acusou de assassina diante do júri. Nesse momento, ela o teria chamado de ''cretino'' e ''mentiroso''. Irritada e ansiosa, Paula teria dito às presas que ''mal pregou o olho'' durante toda a noite.

Preocupada com as consequências que as declarações do ex-marido possam trazer à causa dela, Paula telefonou para seu advogado, Carlos Eduardo Machado. Ela pediu a ele que convocasse uma entrevista coletiva para que pudesse contar aos repórteres a sua versão sobre os fatos. Mas o advogado não aprovou a idéia.

''Desde o dia 22 de outubro de 96, a Paula está proibida de dar entrevistas. Foi o juiz (José Geraldo Antônio) que a proibiu. Ela só pode exercer o direito de resposta, que é assegurado pela Constituição Federal. Eu disse isso a ela, mas ela teimou em ligar para o advogado. Ligou e ele falou exatamente o que eu já tinha dito'', disse Castro.

Família de Guilherme
acusa Rede Globo

A família de Guilherme de Pádua acusa a Rede Globo de ''irresponsabilidade'' na cobertura do julgamento do ator pela morte da atriz Daniella Perez. Segundo Dirceu Thomaz Rabello, 50, primo do pai do ator, José Antônio Salvador Thomaz, a cobertura da emissora estaria ''jogando o povo contra dois seres humanos''.

Rabello mora em Dom Joaquim (a 209 km de Belo Horizonte), cidade natal dos avós e do pai de Guilherme de Pádua. Ele disse que a família toda ''acredita na versão do menino''. Os pais de Guilherme, José Antônio e Leda Pádua, estariam acompanhando o julgamento do caso no Rio de Janeiro, segundo Rabello.

Mãe de Daniella chama
Guilherme de serial killer

A novelista Glória Perez, mãe de Daniella, chegou ao 1º Tribunal do Júri do Rio às 8h58 desta quinta-feira (23), informa a rádio CBN. Glória considerou que o depoimento do ator Guilherme de Pádua, acusado pela morte de sua filha, foi "frio". O depoimento durou 5h20. Glória Perez comparou Pádua a um "serial killer".

Na quarta-feira, Guilherme de Pádua acusou sua ex-mulher, Paula Thomaz, de ter matado a atriz Daniella Perez, em 1992. Pádua começou a depor no final da tarde desta quarta-feira, no 1º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, depois do início tumultuado de seu julgamento.

Pádua fez a acusação e disse que, no momento do crime, ele estava adulterando a placa de seu carro, com uma fita adesiva, para evitar que o mesmo fosse identificado. Em seu depoimento, dado com voz calma e pausada, Pádua sustentou que tinha um relacionamento amoroso, "de homem e mulher" com Daniella e que Paula a matou por ciúmes. A versão de Guilherme de Pádua só acabou de ser ouvida por volta das 23h20. Paula Thomaz será julgada em outra data.

Noite no
fórum

O julgamento foi encerrado no final da quarta. As pessoas que participaram do julgamento tiveram de passar a noite no fórum: o juiz José Geraldo Antônio, 13 funcionários de apoio ao juiz, dois seguranças, sete jurados, 13 testemunhas e o advogado de Guilherme de Pádua, Paulo Ramalho. A falta de acomodações no local para todas as pessoas, fez com que algumas testemunhas fossem dispensadas.

Neste segundo dia de julgamento a maioria das entidades que faziam prostestos pedindo a condenação de Guilherme de Pádua e Paula Tomás se desmobilizaram.

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