Cinegrafista do caso Diadema depõe na CPI

Vanni relata que testemunhou outras cenas 'sádicas'

AJB 29/04/97 21h58
De São Paulo

Violencia O cinegrafista Francisco Romeu Vanni, que gravou as imagens da violência policial na favela Naval, em Diadema, contou nesta terça-feira (29) que testemunhou outras cenas "sádicas" na favela, que não chegou a registrar.

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembléia Legislativa que investiga o episódio de Diadema, Vanni disse que, na noite do dia 1° de março, os PMs Otávio Lourenço Gambra, o Rambo, João Batista Queiróz, Rogério Neri Bonfim e Nelson Soares da Silva, fizeram um homem carregar seu próprio carrinho de ferro velho que estava sendo puxado por um cavalo. Nessa noite, Vanni não havia levado a câmera. Era sua primeira visita à favela, quando foi checar se era procedente a informação sobre os abusos da polícia. "O homem tinha uns cinqüenta anos e colocaram ele para puxar o carrinho", contou o cinegrafista.

No dia seguinte, o cinegrafista voltou ao local, com a câmera, para registrar as cenas. Vanni não quis revelar quem lhe passou a informação sobre a ação dos PMs na favela. "Ele disse apenas que esse colega conversou com ele numa danceteria e a partir daí ele teve a idéia de filmar", disse o deputado estadual Elói Pietá (PT). Vianna também não quis falar sobre a família que cedeu o espaço para as filmagens nas madrugadas do dia 3, 5 e 7 de março. "Aquela história da entrega da fita para a Rede Globo também não foi esclarecida. Temos a certeza apenas de que foi ele que filmou", disse o deputado.

Em seu depoimento, o cinegrafista repetiu que não recebeu nada pelas imagens e que não foi um trabalho encomendado por traficantes. Disse que queria ganhar algum dinheiro e denunciar os agressores. Ele afirmou que tinha duas fitas com as imagens (original e uma cópia), sendo que a cópia foi enviada para um batalhão da PM, conforme já havia relatado. A original ficou na sua casa.

Segundo o relato do cinegrafista, um homem que dizia ser amigo do repórter Marcelo Rezende, autor da reportagem que fez a denúncia no Jornal Nacional, foi à casa de Vanni e disse a um sobrinho do cinegrafista - o único que estava na casa - que tinha a autorização para pegar a fita. A CPI ainda têm algumas dúvidas para esclarecer antes de fechar os seus trabalhos. "Há peças que não encaixam", disse Elói Pietá. A versão do cinegrafista sobre a entrega da fita à Rede Globo e o suposto pagamento de R$ 10 mil pelo material não convenceram a comissão.

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Som Ouça protestos da população de Diadema trecho da reportagem de Lúcia Soares, de 02/04/97, da Rede Bandeirantes)
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