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Tenente-coronel depõe em CPI e vê fita de Diadema

Agência Folha 09/04/97 21h30
De São Paulo

Depois que todos os policiais militares envolvidos no episódio de tortura e assassinato na favela Naval, em Diadema (Grande São Paulo), se recusaram a falar na CPI do Crime Organizado, afirmando que somente prestarão depoimentos em juízo, os deputados ouviram nesta quarta-feira o depoimento de outros oficiais acusados de envolvimento no caso.

O primeiro a depor, o aspirante a oficial Wilson Góes Júnior, também recusou-se a falar e foi ameaçado de prisão pelo presidente da CPI, Afanasio Jazadji. Mal informado, Jazadji recuou em sua ameaça assim que soube que Góes Júnior já estava sob prisão administrativa -que termina às 22h15 desta quarta.

O segundo convocado foi o tenente-coronel Edson Pimenta Bueno Filho, 45, que acabou se tornando o primeiro oficial a falar sobre o caso na CPI. Há uma outra CPI exclusiva sobre o caso na Assembléia de São Paulo, chamada CPI de Diadema. Membros dessa comissão participaram dos depoimentos.

Bueno Filho foi também o primeiro oficial a assistir à fita de vídeo. Comandante do 8º Batalhão da PM, ele detalhou aos deputados seus procedimentos, com os horários em que ocorreram, desde que a fita chegou às suas mãos, na manhã do dia 25 de março. Segundo o comandante, às 12h desse dia ele comunicou o conteúdo da fita ao coronel Luiz Antônio Rodrigues, estão comandante do Policiamento Militar do ABCD.

Segundo ele, às 18h do dia 25, Rodrigues telefonou para informá-lo que já tinha tomado todas as medidas punitivas contra os envolvidos. O tenente-coronel justificou o fato de ter informado o caso inicialmente ao comandante do ABCD, e não ao seu superior imediato, em São Paulo, ''por uma questão ética e porque o caso envolvia a região do ABCD, e não a capital''.

Mesmo agindo de acordo com o regulamento da PM em casos de violência policial comprovada (decretou o afastamento e prisão dos envolvidos e comunicou os fatos a seus superiores), o coronel Rodrigues foi destituído do cargo de comandante do ABCD pelo comandante-geral da PM no Estado, Claudionor Lisboa.
O coronel Rodrigues afirmou que agiu corretamente dentro da hierarquia. Documentos apresentados por ele comprovaram isso. Rodrigues reiterou aos deputados que às 14h30 do dia 25 já havia informado a Corregedoria, o Ministério Público e seus superiores imediatos. Também informara o tenente-coronel Matheus, comandante do 24º Batalhão (de Diadema), chefe dos PMs envolvidos no caso, pedindo o cumprimento de suas ordens. Esses procedimentos foram tomados, apesar de ele não ter visto a fita ainda naquele momento, afirmou.

Mesmo sabendo do que tratava a fita e que a TV Globo a exibiria à noite, Lisboa não teria dado nenhuma informação ao secretário da Segurança Pública, José Afonso da Silva. Por causa disso, foi repreendido pelo secretário. À CPI, Lisboa disse não ter conhecimento de nada até a exibição do vídeo na TV.



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