Anterior | Índice | Próxima

Deputados e pesquisadores procuram fumo supernicotinado no RS

AJB 11/01/98 13h58
DE PORTO ALEGRE

Deputados e pesquisadores iniciam nesta semana buscas para tentar localizar plantações de fumo supernicotinado, da variedade Y-1, proibida no Brasil e Estados Unidos e que continuaria sendo plantado na região da grande Santa Cruz do Sul (RS), conforme denúncia recente da agência de notícias Associated Press.

Com base em informação inicial do prefeito de Gramado Xavier, o presidente da Comissão da Agricultura da Assembléia Legislativa, deputado Paulo Azeredo (PDT), chegou
a anunciar publicamente que 20% da produção de fumo daquele município seria do tipo Y-1, que produz mais folhas e nicotina. Mas o próprio prefeito Rui Berté (PT) corrigiu depois a sua informação inicial: ao conversar com agricultores e com o sindicato das indústrias do
fumo, afirmou que "este tipo de fumo daqui é o NF, que é permitido legalmente. Não é o Y-1".

Diante das denúncias da AP, o deputado Paulo Azeredo começou a telefonar para entidades e prefeituras até que o prefeito Rui Berté lhe disse que haveria plantações do Y-1 no seu município, de Gramado Xavier, e que os colonos mesmo sabendo ser proibido, o plantavam por render mais que outras variedades.

Ao ser procurado pelo JB, o prefeito Rui Berté disse ter se informado melhor e que a variedade plantada é o NF e não o Y-1. O NF produz mais folhas (35 contra a média normal de 20) e aumenta a produtividade de fumo por pé, mas seu tipo rústico, de qualidade inferior a outros, "não agrada as indústrias fumageiras", contou o prefeito. Mas os colonos misturam essa variedade NF a outras ao venderem para as indústrias.

Se fosse verdade a plantação de Y-1, a produção seria impressionante: 20% da produção em cada uma das mil estufas de fumo existentes em Gramado Xavier, o que permite a produção de 700 quilos do suposto Y-1 em cada estufa. Mas o prefeito voltou atrás da informação que passou ao deputado.

O NF floresce de forma mais tardia e todo o fumo que cresce mais tarde tem o apelido, no meio dos agricultores, de ‘fumo louco’, como explicou o agrônomo Sérgio Brem, da Profigen, única empresa nacional a produzir sementes de fumo fora das indústrias fumageiras.

O teor de nicotina do NF é mais baixo, mas pelo seu tamanho maior e mais quantidade de folhas do que a planta normal de fumo "leva muita gente a confundir o NF com o Y-1", acrescentou Sérgio Brem. É exatamente este argumento, de confusão de variedades, que as indústrias fumageiras como a Souza Cruz se baseiam para contestar a agência AP e garantir que não há produção do Y-1 ou de seus descendentes genéticos entre os 55 mil fumicultores que
plantam para a empresa.

Mesmo assim, o deputado Paulo Azeredo já marcou para quinta-feira uma reunião de todos os setores na Câmara Municipal de Gramado Xavier para debater a questão do fumo louco e da existência, ou não, da variedade Y-1 na região. Pesquisadores, como o agrônomo Sebastião Pinheiro - autor de denúncias sobre presença de gens do Y-1 em variedades subseqüentes de fumo - e outros parlamentares pretendem iniciar nessa semana visitas a agricultores. O objetivo é localizar o Y-1 ou suas variedades nas plantações gaúchas de fumo.

A produção nacional de fumo atinge a 500 mil toneladas. Só a última safra da Souza Cruz atingiu a 160 mil toneladas nos três estados sulinos (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), com predominância do fumo tipo Virgínia, das quais 50% são exportadas para 50 países.


Anterior | Índice | Próxima



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo
desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso,
sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.