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Petrelluzzi admite que há corrupção no Depatri e no Denarc

CRISPIM ALVES 09/04/2000 22h12
Coordenador de Cidades da Folha Online

O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Marco Vinicio Petrelluzzi, admitiu, em entrevista exclusiva à Folha Online, que existe corrupção no Depatri (Departamento de Investigações sobre Crimes Contra o Patrimônio) e no Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos), órgãos da Polícia Civil paulista.

Ele afirmou que a corrupção não atinge os departamentos como um todo, mas sim policiais. Em virtude disso, Petrelluzzi declarou que poderá fazer reformulações nos órgãos. Sem muita convicção, disse ainda que nada impede que o Depatri seja extinto. “Pode acabar qualquer coisa. Eu já extingui três departamentos, mas não passa pela minha cabeça, agora, fazer isso.”

“É lógico que tem (corrupção no Depatri). É um departamento que mexe com isso. Você não vai encontrar isso no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), pela natureza do trabalho. É muito mais fácil você ter problemas envolvendo corrupção no local onde se investiga crimes contra o patrimônio. No Denarc, a mesma coisa. É natural que você vai encontrar. Se o cara quer fazer coisa com droga, e ele consegue uma colocação na polícia, onde é que ele vai querer ir? No Denarc. Ele não vai querer ir no DHPP, ele não vai querer ir para distrito”, declarou o secretário.

O Depatri já foi alvo de diversas denúncias de corrupção nos últimos anos. Na semana retrasada, policiais do órgão foram denunciados por Laércio Cunha (nome fictício de um ex-informante da polícia paulista ouvido pela CPI do Narcotráfico no Rio) de extorquir dinheiro de criminosos para não prendê-los.

Por esse motivo, a CPI do Narcotráfico, que chega nesta terça-feira a São Paulo, deverá decretar a quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico de 15 policiais, a maioria do Depatri.

Na semana passada, nove carcereiros do departamento foram afastados do cargo por suspeitas de facilitar a fuga do assaltante Alexandre Pires Ferreira, que acabou roubando o prédio onde mora o jornalista Paulo Henrique Amorim.

Apesar das declarações, Petrelluzzi fez questão de deixar claro que não está colocando todo o Depatri em suspeição.

“Estou dizendo o seguinte: Da mesma forma, você vai encontrar, por exemplo, corrupção por parte de político, no meio da imprensa, com jornalista de política. Ou você acha que um político que quer corromper um jornalista vai procurar um cronista esportivo? É a mesma coisa, é isso que estou dizendo. Então, é evidente que você vai encontrar gente que faz coisa (corrupção) na área de patrimônio num departamento de patrimônio. Não coloca o departamento sob suspeita, coloca o ser humano, ele é que é o problema.”

Ao comentar o fato de alguns especialistas na área de segurança defenderem a extinção de departamento como o Depatri e perguntado se isso poderia acontecer algum dia, Petrelluzzi afirmou o seguinte: “Pode. Pode acabar qualquer coisa. Eu já extingui três departamentos, mas não passa pela minha cabeça, agora, fazer isso. Eu sempre disse que departamento especializado tem que existir onde tem crime organizado. Você tem que ter uma organização diferenciada para combater o crime organizado. Depatri e Denarc, por exemplo, são departamentos, no meu modo de ver, que têm razão de ser. Não quer dizer que eles sejam perfeitos, nem que não possam ser modificados, possam ter sua estrutura mexida. Não tenho nenhum receio de mexer em estrutura. Já extingui três departamentos, mudei completamente a feição da polícia no interior. Não sou um conservador nesta questão”.

Mesmo com as críticas, o secretário elogiou a produção do Depatri, considerada satisfatória. “(A produção) é muito boa. Tem áreas que produzem mais, outras produzem menos. Por exemplo, eu dei uma prioridade para o Depatri no ano passado e eles cumpriram, que era tentar desarticular o roubos de cargas, cujos índices caíram no ano passado. Não posso criticar o departamento pela sua produção. Talvez esse departamento, como outros, precisem de algumas reformulações. Isso eu não discuto.”

Petrelluzzi não quis dizer quais seriam essas reformulações. “Não sei, se soubesse já tinha feito. Estou dizendo que não tenho amor... esse compromisso de que não tenho que mudar. Pode mudar sim. Se for para melhorar muda. Apenas não tenho nada pensado no momento. Não está nas minhas cogitações mexer agora, o que não quer dizer que não possa existir uma outra mudança. Pode sim.”

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