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93% dos moradores do Rio dizem que há racismo no Brasil

11/05/2000 21h15
CRISTINA GRILLO
da Folha de S.Paulo

Pesquisa feita pelo Ceap (Centro de Articulação das Populações Marginalizadas), uma organização não-governamental ligada ao movimento negro, mostra que 78% da população do Estado do Rio acredita que existem problemas de convivência entre negros e brancos no país.

O local onde mais se manifestam os problemas é no ambiente de trabalho, de acordo com 53% das pessoas ouvidas. Para 93% deles, há preconceito contra negros no Brasil.

O levantamento “O Racismo no Rio de Janeiro em Números” foi feito em parceria entre o Ceap, o DataUff (instituto de pesquisas da Universidade Federal Fluminense), com o apoio da Fundação Ford. Foram ouvidas, entre janeiro e abril, 1.172 pessoas de 41 dos 91 municípios do Rio, com idades entre 18 e 60 anos.

“A pesquisa mostra que há racismo no país e que ele é percebido pela população. A mentalidade que negava sua existência não existe mais”, diz Ivanir dos Santos, secretário-executivo do Ceap.

Constatação

Santos e os pesquisadores do Ceap ficaram impressionados com outra constatação obtida a partir da análise da pesquisa.

“Ninguém assume ser racista. O preconceito é sempre do outro, nunca de si mesmo. Este caráter inconsciente é uma característica peculiar do nosso racismo. Primeiro, as pessoas não viam o racismo. Agora elas vêem, mas sempre no outro”, diz.

A afirmação de Santos fica nítida quando se comparam as respostas a algumas perguntas.

Enquanto 93% dos entrevistados afirmam haver racismo no país, 87% dizem não ter, pessoalmente, nenhum preconceito.

A diferença de respostas se repete quando a pergunta faz referência à reação ao fato de estar submetido a um chefe negro. À pergunta direta _ “você se importaria de ter um chefe negro? ”_ , 96% dos entrevistados respondem que não.
Um dos tópicos da pesquisa dedicou-se à questão educacional e ao mercado de trabalho.

Para 60% dos entrevistados, a discriminação racial impede que os negros consigam bons empregos e melhorem de vida e para 59% deles há discriminação no sistema educacional brasileiro.

Por conta disso, a maioria dos entrevistados disse ser favorável à implantação de um sistema de cotas para os negros: 58% acham que deveria haver reservas de vagas para negros no mercado de trabalho e 55% disseram ser favoráveis à reserva de vagas nas universidades públicas.

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