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Padre assassinado a pauladas em Campos, RJ

AJB 18/10/98 18h53
Do Rio

O padre Oto Campos Braga, de 39 anos, da Paróquia de Santo Antônio de Guarus, em Campos, e que trabalhava com a recuperação de adolescentes viciados em drogas, foi assassinado a pedradas e pauladas na madrugada de hoje nesta cidade, que fica A 240 quilômetros ao norte do Rio. Policiais da 134ª DP ainda não têm suspeitos do crime cometido com requintes de crueldade, mas não descartam a hipótese de vingança, já que nenhum objeto foi levado do padre nem de seu carro.

O corpo de padre Oto foi encontrado de bruços, por volta das 5h30, na esquina das ruas Augusto Bessa e Alonso Coelho, no bairro do Turfe Clube, que fica muito perto do Centro da cidade. A cabeça estava deformada pelos golpes. O carro do padre, um Gol 91, foi achado queimado numa rua não muito distante do local onde estava o corpo, que foi necropsiado e liberado no fim da manhã de hoje.

O velório foi realizado à tarde na paróquia de Santo Antônio de Guarus, com missa de corpo presente. Em seguida, o corpo foi trasladado para ser velado na Matriz de São Sebastião, no município de Aperibé, de apenas 7.000 habitantes, a 280 km do Rio, perto de Santo Antônio de Pádua, Norte do Estado quase na divisa com Minas Gerais. O enterro foi marcado para amanhã, às 8h, em Aperibé, onde padre Oto nasceu e tinha a maior parte dos seus parentes.

Sacerdote ordenado padre diocesano (secular) há cerca de 10 anos, padre Oto foi motivo de polêmica no ano passado, quando a festa do padroeiro Santo Antônio quase deixou de ser realizada porque ele proibiu a presença de muitas barracas quase à porta da Paróquia de Guarus. Na ocasião, a diocese de Campos apoiou o padre Oto, compreendendo que aquele comércio quase dentro da igreja estava interferindo no caráter religioso do evento.

No local onde foi encontrado o corpo, entre dois postes sem luz, havia uma pedra e fios, aparentemente usados no crime. Também havia marcas de pneus de moto. Moradores disseram ter ouvido vozes altas e barulhos de motor de moto durante a madrugada. "Padre Oto lidava com esse trabalho de recuperação de dependentes de drogas e, aparentemente, era uma pessoa tranqüila, e aqui na diocese nunca soubemos de nenhum fato que pudesse representar uma ameaça a ele", disse consternado o Bispo Roberto Guimarães, que não liderava a diocese quando padre Oto proibiu as barraquinhas muito perto da igreja.

Indignado com tanta crueldade, Dom roberto observou que a morte de padre Oto é uma perda para Campos, que já enfrenta problema de escassez de vocação; "Para uma população de aproximadamente 400 mil habitantes, temos um clero muito pequeno e apenas oito paróquias", lamentou o bispo de Campos.

Sobre o incidente do ano passado, Dom Roberto insistiu que "foi contornado sem trazer reflexo que possa ser atribuído à causa do crime." Há seis anos na cidade, o padre secular era muito estimado em Campos, segundo Dom Roberto.


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