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Proteger ou arruinar o meio ambiente?

Primeiro ato - Defensor ferrenho do meio ambiente, sócio da Audubon Society, o casal Hartung-Coles, muda-se para um cenário idílico nas vizinhanças de Washingtom.

Segundo ato - Os castores cortam 100 carvalhos e constroem uma gigantesca represa na propriedade. Os seus descendentes mudam-se rio acima para construir outra. O casal acaba de fuzilar o sexto castor e há outros na alça de mira.

Com a proibição de sua caça, os crocodilos da Flórida estão começando a aparecer nos quintais. Os gigantescos ursos cinza começam a fazer footing em alguns vilarejos no Alasca. Com a matança de lobos, lá pelo princípio do século, houve uma explosão demográfica nos veados do Colorado. Como nada se fez para contê-la, os bichos comeram até a raiz no capim, destruindo o seu habitat. O resultado foi o seu desaparecimento completo.

A lição é clara. Depois que o homem alterou o equilíbrio original da natureza, foi-se a idéia de que é possível parar de interferir. Certamente, se não bulir mais, a natureza vai chegar a algum equilíbrio. Mas esse equilíbrio bem pode ser um deserto, como parece haver sido o caso no Oriente Médio. Ou pode ser a invasão dos coelhos na Austrália, ou a dos gafanhotos na África.

A floresta virgem está em equilíbrio. Mas, depois que interferimos, ou administramos um novo equilíbrio, ou o equilíbrio que espreita pode ser altamente indesejável. Como já bulimos em quase tudo, nada nos resta senão a alternativa de bulir mais, de forma inteligente e bem informada.

Os italianos, que adoram passarinho frito, liquidaram com quase todos. Os franceses criaram uma legislação inteligente, e hoje têm superprodução de lenha para as lareiras. Os alemães matam mais caça do que seus vizinhos e têm o maior rebanho silvestre. Com precisão germânica, os animais são contados anualmente e caçados dentro de cotas restritas. O proprietário da terra é obrigado a caçar exatamente o número indicado pelo governo, nem mais nem menos. Somente assim se mantém o rebanho no nível máximo que pode ser sustentado pela terra. Em outras palavras, o equilíbrio é fruto de uma engenharia deliberada e inteligente.

Desde e Idade Média, os europeus administram os seus bosques. Nem passam o trator nem os transformam em museu. Nas reservas florestais há sempre algumas árvores marcadas com tinta vermelha. São as mais velhas ou que estão próximas de outras, competindo pelo sol. Serão cortadas para que brotem novas. E a madeira terá seu destino comercial, sem chiliques das patrulhas ecológicas.

Infelizmente, nas terras tupiniquins ainda estamos na era das confrontações entre os ecologicamente irresponsáveis e os que querem congelar a natureza em sua pureza original. Uns não se importam se a floresta for arrasada, desde que seja lucrativo. Outros querem parar tudo no tempo, em vez de preparar-se tecnicamente para administrar a presença do homem.

Mas estamos começando a aprender. Há trinta anos, meu amigo Klaus Hering tinha duas alternativas para vastas reservas de mata atlântica. Ou cortava as suas madeiras e palmitos - como os vizinhos -, ou transformava tudo em santuário da natureza. Mas Klaus achou que poderia fazer a mata produzir e, ao mesmo tempo, preservar a sua integridade e riqueza de espécies. Em vez de arrasar, mantém a delicada estrutura original da floresta, leia-se equilíbrio, propiciando sua regeneração natural com cortes seletivos, rentáveis em ciclo de três anos para o palmito e quinze para a madeira. Lapidando hectare após hectare, garante um fluxo contínuo de produtos nobres, ganhando dinheiro e gerando emprego ao longo do tempo. Vejam só, o palmito dos vizinhos acabou. Klaus tem mais do que antes. Fizemos as contas com cuidado. Realmente é bom negócio. Vendem-se os ovos de ouro e a galinha continua pondo. Quem quiser aprender, Klaus ensina (Klausgh@nutecnet.com.br).

A lição principal é uma só. Depois que bulimos no equilíbrio, estamos condenados a administrar. Não adianta fingir que não vemos a destruição ou deixar a natureza tomar conta, pois o curso natural desencadeado pela nossa intervenção inicial pode ser catastrófico.



  • "Veja" - 12/03/97