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Isso não pode acabar em Pitta

O prefeito Celso Pitta tem jeito de solução, mas é um embaraço. Seis meses atrás, não parecia pronto para entrar na campanha. Onze semanas depois da posse, está pobre. Foi tudo rápido em sua carreira. Agora, cada vez que ele dá as caras no noticiário passa a impressão de que se esqueceram de lhe pôr uma tarja sobre os olhos, como deveria prescrever para seu caso um estatuto do menor abandonado na vida pública.

Se como político ele é verde, como alvo está caindo de maduro. Já dispensa acusações. Enrola-se em seus próprios trunfos. Na quinta-feira passada, desguiando-se em O Globo de uma pergunta sobre o destino dos 607 milhões de reais que perderam o rumo na prefeitura de São Paulo, sacou esta resposta: "Peço que vocês procurem o secretário de Finanças, José Antônio de Freitas". Ou seja: quem sabe desses negócios é, por força do cargo, o titular da cadeira em que Pitta estava sentado quando aquele dinheiro todo atravessou o município sem que ele visse. O ex-prefeito Paulo Maluf não diria melhor.

Sozinho, Pitta faz estragos em sua linha de defesa. E ainda tem a codjuvá-lo a própria mulher, que detém o recorde de salto em distância entre os assuntos públicos e privados na administração pública brasileira. Para explicar o que andou fazendo num carro alugado pelo intermediário da malversação de títulos públicos, classificou como "obra assistencial" acompanhar ao hospital parentes do marido.

Assim, fica fácil para qualquer comissão de inquérito. E é aí que se entoca o perigo. A CPI dos Precatórios está indo tão bem que corre o risco de ir bem demais e acabar em Pitta. Um prefeito de São Paulo é, em si, troféu de bom porte. E esse ainda traz de brinde a candidatura Paulo Maluf à Presidência da República. Maluf sofreu uma recaída. Em 1984, derrubá-lo da sucessão serviu até para fundar o regime civil e foi uma festa.

Mas em 1997, depois de passar por uma Constituinte em que era dando que se recebia, pelo governo Collor e pelos anões do Orçamento, o Brasil não pode mais acreditar que se livrará de seus males enterrando-os junto com um sapo. Treze anos atrás, nas diretas já, a última coisa em que o brasileiro poderia acreditar era a hipótese de um dia ver o inimputável Miguel Arraes sorrindo ao lado de Maluf na mesma galeria de suspeitos. Mas é exatamente isso que a atual CPI tem de superior a todos os escândalos que a antecederam: ela não tem lado.



  • "Veja" - 26/03/97