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Prova para professores

Teste rápido de orientação para fugir da PM: onde começam os problemas do sistema educacional brasileiro, no mau ensino dado aos alunos ou no salário ruim pago aos professores?

Quem hesitou nessa encruzilhada deve guiar-se pela cartilha que o Conselho de Secretários Estaduais de Educação está tirando do forno. Vem quente e vai queimar a garganta dos sindicatos com recheios do gênero:

  • "Não se pode dizer que os professores ganham mal". Isso não significa que ganhem bem. Mas, trocados em salários-hora, seus vencimentos atravessam a sociedade pela linha mediana dos assalariados de escolaridade equivalente. Ou seja: "A população brasileira em geral ganha mal e isso também ocorre com os professores".
  • "Os salários miseráveis são exceção e ocorrem apenas em alguns municípios". Segundo o autor do relatório, João Batista Araújo e Oliveira, "são típicos dos grotões e é provável que estejam em extinção".
  • "Quanto mais rico o Estado, maior o salário relativo dos professores". Nesses casos, "o professor tende a ganhar proporcionalmente mais" do que profissionais de qualificação semelhante.
  • Há uma diferença marcante entre a carreira dos professores no setor público e no setor privado". No público, os aumentos salariais são pura obra do tempo. No privado, por mudança de emprego, trocando escolas que pagam mal pelas que pagam bem. Mas, "de modo geral, não há valorização do desempenho e da produtividade".

    Em resumo, o dossiê conclui que, no Brasil, os 27,5 milhões de alunos da rede pública recebem menos da escola que seus 800 000 professores. Portanto, por mais que o magistério se ofenda, o problema do ensino é estatisticamente pior que o dos salários.

    "Eu sempre soube disso, mas agora temos como provar", diz João Batista. Fala do alto de trinta anos de tarimba no ramo. Fez parte da equipe que na década de 70 inoculou a educação na pauta de assuntos econômicos do Ipea. Agora mesmo está ocupado com um programa para acelerar o aprendizado de 40 000 repetentes. São os alunos que a escola básica costuma deixar para trás e derrota pelo cansaço. Neste momento, quase 17 milhões de brasileiros estão sob essa ameaça que, embora não dê manchetes, também recai sobre direitos humanos explicitados na Constituição.

    Às escolas no Brasil pode faltar tudo, menos professores indignados com os policiais militares que, depois de fazer o que fizeram em Diadema e na Cidade de Deus, caem nos braços de seus juízes especiais. A PM também afirma que o soldo é o pai de todos os males da corporação. Por isso, convém que os professores aprendam a separar os assuntos da educação e os do magistério. Aprendendo, eles talvez ensinem a sociedade brasileira a botar PM na cadeia.



    • "Veja" - 16/04/97
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