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É só o país querer

O Brasil corre o sério risco de se globalizar em quase tudo, menos no que interessa. Agora mesmo ficam os reitores ruminando a polêmica sobre a conveniência do provão do MEC nas universidades, enquanto o mundo digere os resultados do Terceiro Estudo Internacional de Matemática e Ciências. Trata-se de um teste para avaliar o que as escolas conseguem enfiar de essencial na cabeça de seus alunos, antes de atirá-los numa economia em que a fronteira entre ricos e pobres se mistura cada vez mais com o divisor de águas da qualidade do ensino. Participaram adolescentes de 13 anos em 41 países, inclusive Kuwait, Lituânia e Chipre. A África do Sul classificou-se em último lugar. A América Latina garantiu o penúltimo, graças à Colômbia. O Brasil não entrou no teste.

Mesmo fora do placar, os brasileiros deveriam dar um pouco de atenção a seus resultados, que mereceram a capa da revista inglesa The Economist. Não é todo dia que se vê um mapa-múndi organizado segundo provas de matemática, em que o primeiro país é Cingapura e os Estados Unidos, o vigésimo oitavo. Nele, encontrar a Coréia do Sul em segundo lugar, o Japão em terceiro e Hong Kong em quarto parece confirmar o que se ouve dizer dos Tigres Asiáticos. Mas, para complicar as coisas, também estão bem colocados países que despencaram recentemente do comunismo, quando a União Soviética caiu aos pedaços. A República Checa, por exemplo, ficou com o sexto lugar em matemática e o segundo em ciências. A Eslovênia está muito acima da França nas duas tabelas. A Bulgária ganha da Inglaterra. Tudo isso contraria décadas de teoria educacional. Eis as crenças que balançam:

  • Os governos que melhor educam são os que gastam mais dinheiro com as escolas. Alguma dúvida? Sim, muitas. Nos testes, há países remediados com sistemas educacionais melhores que os ricos. Coreanos e checos dispararam à frente dos Estados Unidos com um orçamento por aluno três vezes menor que o americano.
  • Turmas pequenas funcionam melhor do que as grandes? Não parece, porque as escolas orientais entopem suas salas de crianças e apesar disso elas aprendem mais do que as francesas ou inglesas em classes limitadas a vinte alunos.
  • Nem sequer a carga escolar mostrou ser decisiva. Os meninos da Nova Zelândia, com suas longas horas de aula, praticamente empataram com os noruegueses, cujo ano letivo é muito curto.

Sem esses mitos por cima, vislumbra-se uma boa notícia: o que dá resultado comprovado em educação é a escola que aplica com modéstia, perseverança e rigor velhos métodos de ensino. E isso, se quiser, até o Brasil pode ter.



  • "Veja" - 14/05/97