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Putin vence eleição presidencial na Rússia

Da Folha de São Paulo 27/03/2000 04h19
Em Moscou

Vladimir Vladimirovich Putin, 47, é o presidente eleito da Rússia. Quase dez anos após o fim do comunismo no país, esse ex-espião formado nos quadros do serviço secreto da ex-União Soviética assume o poder com a promessa de instalar a "ditadura da lei».

Presidente em exercício desde janeiro, Putin (pronuncia-se Pútin), com 84,1% dos votos apurados, tinha 51,9% dos votos, marca considerada suficiente para garantir a vitória antes mesmo do final da apuração. Em entrevista coletiva, ele evitou se declarar vencedor, mas o curso da votação era inevitável.

O líder neocomunista Gennadi Ziuganov, 56, vinha em segundo, com 29,9%. Ele prometeu acompanhar a apuração até o fim e disse que havia fraude no pleito.

Havia dúvidas se Putin conseguiria ganhar no primeiro turno devido aos resultados iniciais da apuração nas áreas orientais do país (com 11 fusos horários), que encerraram a votação mais cedo.

A incerteza se dissipou na madrugada de hoje (noite de ontem no Brasil), quando ficou claro que ele teria os 50% dos votos mais um necessários.

Em terceiro lugar, vinha o liberal Grigori Iavlinski, 47, com 5,8%. O governador da região de Kemerovo, Aman Tuleiev, 56, tinha 3,2%.

"Putin terá de mostrar agora a que veio», afirmou Oksana Antonenko, especialista russa do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, que monitora o pleito com outros 980 observadores.

Putin ainda não deixou claro qual é seu projeto para a Rússia. Foi eleito basicamente por sua jovial imagem de "homem de ferro», que conhece o sistema por dentro desde seus tempos de KGB (serviço secreto da era soviética), e pode assim acabar com o caos institucional que assola o país desde o final da União Soviética, em 1991.

Apesar de seu passado, o novo presidente, o segundo eleito da história russa, trabalhou junto a reformistas liberais após o fim do comunismo. Até agora, tudo o que se sabe das intenções de Putin está em uma carta de intenções publicada neste mês e em idéias vagas transmitidas por discursos e entrevistas.

Ele fala em recolocar a Rússia numa posição de destaque e limpar o país da corrupção e do crime com a mesma energia com que vem combatendo os separatistas da Tchetchênia.

É o último item que assusta o Ocidente. Seu primeiro ato quando assumiu a Presidência, após a renúncia de Boris Ieltsin em 31 de dezembro, foi proteger o antecessor e sua família de investigações.

Sua luta contra a corrupção pode ser seletiva. E a violência de sua ação no Cáucaso traz temores sobre pendores totalitários.

De qualquer forma, a votação de Putin é impressionante. Ao ser apontado premiê por Ieltsin, em agosto de 1999, era desconhecido do grande público e tinha menos de 2% das intenções de voto.

Sua guerra na Tchetchênia é muito popular, mas era apenas o quarto tema mais importante para o eleitorado, segundo apontou pesquisa recente. A explosão de um carro-bomba no vizinho Daguestão, logo após a vitória de Putin parecer inevitável, mostra que o tema seguirá no noticiário russo por algum tempo.

Um dos principais temores de seu time de campanha foi vencido já no encerramento da votação. Foi apurado um comparecimento mínimo de 66%, entre 108 milhões de eleitores registrados.

Se fosse inferior a 50%, o pleito seria invalidado. O Kremlin levou a sério o risco. Alto-falantes convocavam os russos a votar ontem.

Ieltsin reapareceu ontem, ao votar em Moscou, e fez a primeira declaração política desde que renunciou: "Estou confiante que Vladimir Putin será um grande presidente. Eu lhe desejo boa sorte», afirmou Ieltsin, cuja ausência durante a campanha foi vista como uma forma de desvincular sua imagem impopular da de Putin.

(Igor Gielow, enviado especial)


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