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E S P E C I A L
Ernesto Geisel
1908-1996


Geisel será enterrado no Rio nesta sexta

Ex-presidente morre de câncer aos 88 anos

AJB 12/9/96 22h41
Do Rio de Janeiro

Quarto e penúltimo presidente do regime militar, o general Ernesto Geisel, 88 anos, será sepultado às 11h desta sexta (13) no Cemitério São João Batista. Geisel morreu na quinta (12) às 11h52, de câncer generalizado, aos 88 anos, na Clínica São Vicente, na Gávea, onde estava internado desde 22 de agosto. Era a oitava internação do presidente. O câncer foi diagnosticado em maio do ano passado. Geisel esteve inconsciente nas últimas 48 horas.

Filho de pai prussiano e mãe bávara, militar de formação ortodoxa rígida e temperamento autoritário e autoconfiante, Ernesto Geisel protagonizou a distensão da ditadura. Queria esse abrandamento de forma 'lenta, gradual e segura', como proclamava. Mas suas decisões políticas foram sempre radicais, de extrema dureza contra as resistências à esquerda e à direita. Cassou mandatos parlamentares, pôs o Congresso em recesso, impôs uma reforma do Poder Judiciário, interveio em Assembléias e Câmaras e assistiu ao 'desaparecimento' de pelo menos metade da cúpula do Partido Comunista, ao mesmo tempo em que destituiu chefes militares envolvidos na tortura de presos políticos e demitiu o ministro escalado pelos ultras para substituí-lo e deter a marcha rumo ao regime democrático.

Geisel abrandou a Lei de Segurança Nacional e acabou com a censura à imprensa. Revogou o Ato Institucional n° 5, o instrumento ditatorial que aprisionava o país, não sem antes usá-lo, quando julgou conveniente.

O general assumiu o governo quando o chamado milagre econômico definhava e anunciava-se a crise internacional do petróleo. Nesse quadro de preocupação energética, tomou medidas polêmicas, como a assinatura dos contratos de risco com corporações multinacionais para a pesquisa de campos petrolíferos e acordos de cooperação nuclear com a Alemanha. Houve frustração nos dois casos. Houve também algum estímulo ao investimento de capital estrangeiro, mas os projetos de desenvolvimento nos setores básicos foram em geral submetidos à hegemonia estatal.

Em política externa, os atos de maior repercussão do governo Geisel foram o reatamento de relações diplomáticas com a China, em 1974, e a denúncia, em 1977, do acordo militar com os Estados Unidos, que datava de 1952. Tão criticado e louvado como essas duas decisões foi o reconhecimento, em 1975, do governo de Agostinho Neto em Angola, quando nem haviam terminado ainda os combates entre as facções que lutaram contra o domínio português.

O general Geisel eliminou a censura aos meios de comunicação mas não dava entrevistas. Sua única conversa com os jornalistas brasileiros foi num vagão de trem, durante viagem pelo Japão. Disse aos repórteres: 'A presidência é um fardo terrível'.


Morre no Rio Ernesto Geisel

Ex-presidente sofria de câncer

Agência Folha 12/9/96 13h00
Do Rio de Janeiro

O presidente Ernesto Geisel, 88, morreu nesta quinta-feira (12) na Clínica São Vicente, na Gávea (zona sul do Rio), após 21 dias de internação. O general _que, durante seu governo (1974-79), promoveu a distensão política no regime militar_ tinha câncer e morreu de insuficiência respiratória.

Segundo o atestado de óbito assinado pela médica Maria Teresinha Calocchio, Geisel morreu às 11h55, de insuficiência respiratória, broncopneumonia e mieloma múltiplo (câncer generalizado). Foi a sexta internação do presidente neste ano. Em 95, Geisel foi internado outras duas vezes. A derradeira internação, em 22 de agosto passado, foi causada por uma infecção pulmonar originada por uma broncoaspiração (aspiração acidental de alimento para o sistema respiratório). O câncer, inicialmente, era ósseo, mas atingiu outras áreas.

Humberto Barreto, ex-assessor de Geisel e amigo da família, disse que o presidente estava em estado de pré-coma nas 48 horas que antecederam a morte. O corpo foi velado no Palácio Laranjeiras.