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Ex-prefeito de São Paulo volta a sonhar com presidência

AJB 01/01/97 18h30
De Brasília

A partir de amanhã Paulo Salim Maluf, que deixou hoje a Prefeitura de São Paulo, vai dedicar tempo integral para tentar impedir que a emenda da reeleição seja votada no primeiro semestre de 1997. Para atazanar a vida do presidente Fernando Henrique Cardoso e frustrar seus planos de reeleger-se para mais quatro anos de mandato, Maluf não vai poupar esforços. A primeira medida será na semana que vem, quando o seu partido, o PPB, entra com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a emenda da reeleição.

O argumento malufista - que tem o apoio dos partidos de oposição - é o de que a reeleição não pode valer para quem já está no exercício do mandato. A regra só se aplica, tem sustentado o ex-prefeito paulistano, para quem for eleito depois da promulgação da emenda. E é com esse argumento que Paulo Maluf pretende desencadear a segunda etapa de sua estratégia para tirar Fernando Henrique da disputa presidencial em 1998: bater insistentemente na tecla de que reeleição só com plebiscito. Maluf e seus aliados estão certos de que, com isso, conseguirão adiar uma decisão sobre o assunto para o ano da eleição.

"O negócio é empurrar a votação da emenda para o segundo semestre; depois passar a exigir a realização de um plebiscito por emenda constitucional para autorizar o Congresso a regulamentar o assunto", orientou Maluf, numa recente reunião com parlamentares do PPB. "Em 1998, o governo vai estar tão mal, o Plano Real vai estar fazendo água e que ninguém vai querer saber de reeleição", disse, sarcástico.

Um importante auxiliar de Maluf garante que, mesmo estando disposto a trabalhar full time contra a reeleição, o ex-prefeito vai tentar primar pela discrição. Vai agir mais nos bastidores e expor-se menos às críticas dos adversários. Mas, para manter-se no noticiário, Maluf pretende engrossar as críticas ao governo federal e fazer visitas periódicas a Brasília. Uma delas, por exemplo, está prevista - mas não confirmada - para o dia 8 de janeiro. É nesse dia que os governistas querem votar a emenda da reeleição na Comissão Especial da Câmara, apesar das dificuldades.

Dois amigos do ex-prefeito garantem que ele vai aproveitar essa visita para escolher o escritório que pretende instalar em Brasília. A quem o pergunta sobre o assunto, Maluf responde com bom-humor: "Depois que inventaram o fax e o telefone não preciso de escritório em Brasília". Oficialmente, o QG malufista permanecerá em São Paulo. Está instalado no número 437 da elegante Avenida Europa. Logo em seguida, na segunda quinzena de janeiro, Maluf viaja para os Estados Unidos onde assiste a posse do presidente Bill Clinton na condição de ilustre convidado da direção nacional do Partido Democrata.

Paralelamente às conspirações contra a reeleição de Fernando Henrique, Maluf tratará de ajudar para embolar o já confuso jogo das eleições para as presidências da Câmara e do Senado. Na semana que vem, já como ex-prefeito de São Paulo, Maluf vai contatar deputados descontentes com o governo para tentar buscar apoio à candidatura Prisco Viana (PPB-BA). Mesmo acreditando pouco nas chances de vitória de Prisco, ele faz questão de mapear o grau de descontentamento para garantir lugar de destaque e influência a seu partido.

Um dos articuladores da estratégia de Maluf no Congresso conta que a idéia é insuflar ainda mais a briga entre PMDB e PFL. Com os dois principais aliados engalfinhando-se pelas presidências da Câmara e do Senado, o presidente Fernando Henrique não encontrará a unidade necessária na base de sustentação política do governo para iniciar a votação da emenda da reeleição.