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Pefelista promete acelerar reformas

Agência Folha 04/02/97 21h13
De Brasília

Lula Marques/Folha Imagem
ACM
Iris cumprimenta ACM após a votação, na terça-feira
Prometendo cooperar "o máximo" com o governo, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) tomou posse nesta terça-feira (4) na presidência do Senado assumindo o seguinte compromisso: acelerar as reformas constitucionais, inclusive a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. "Vou cooperar o máximo com o governo, mas isso não significa que o Executivo vai fazer o que quiser aqui dentro", anunciou ACM, informando que adotará um estilo próprio para comandar o Senado nos próximos dois anos.

O novo presidente foi eleito por 52 votos contra 28 dados ao candidato do PMDB, Iris Rezende (GO), e um voto em branco. O placar só foi possível graças a pelo menos cinco "traições" na bancada do PMDB e do bloco da oposição, que haviam se comprometido com Rezende. "Não é preciso ser nenhum Oswald de Souza (matemático) para saber que tive votos no PMDB e na oposição", contabilizou ACM.

"Com o voto secreto, fica difícil descobrir quem foi, mas seguramente houve traição no bloco PMDB com a oposição", reconheceu o líder do PMDB, Jader Barbalho (PA). O líder do PT, José Eduardo Dutra (SE), defendeu o fim das votações secretas no Congresso. "Não estou preocupado em estabelecer caça às bruxas", disse.

À saída do plenário, ACM foi cumprimentado, por telefone, por FHC. "Agradeci a maneira isenta, mas simpática, com que ele viu minha candidatura", contou o senador, que seguiu logo depois para o Palácio do Planalto.

O resultado da eleição no Senado favorecerá a candidatura do peemedebista Michel Temer (SP) na disputa desta quarta pela presidência da Câmara. Tanto a eleição de ACM como a de Temer são defendidas pelo comando político do governo. Fazem parte de um acordo para dividir o comando do Congresso entre PMDB e PFL.

Senado tritura votos
para evitar identificação

Para evitar que os eleitores dos dois candidatos fossem identificados, a direção do Senado mandou destruir todas as 81 cédulas de votação imediatamente após o anúncio do resultado. A papelada foi triturada.

Antes disso, Iris Rezende fez o primeiro gesto de aproximação com ACM. Anunciado o 41º voto, que garantiria a vitória do adversário, Iris foi cumprimentá-lo. "Não tenho o direito de guardar mágoa, uma vez que a eleição foi limpa e transparente", disse.

Como a vitória de ACM se deu por 24 votos de diferença, ela não pôde ser debitada exclusivamente na conta do apoio do PSDB -partido de FHC, que detém 13 votos. Mas os tucanos contribuíram, certamente, para criar o clima de "já ganhou" pró-ACM. "A marola levou o resto dos votos", computou o líder do governo, Elcio Alvares (PFL-ES), vendo aumentar o placar na última hora.

O novo presidente tratou de colocar em prática o que chamou de "estilo ACM" de administrar. "Vamos conviver bem com todos (os senadores), mas claro que não posso deixar de ser grato aos que me elegeram", disse, tentanto amenizar a fama de truculento.

ACM recebe apoio
de conterrâneos

Poucos minutos antes da votação, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) recebeu um exemplar do amuleto mais famoso de seu Estado natal: "É sempre bom ganhar uma fita do senhor do Bonfim". A fita que ACM ganhou era uma das 300 distribuídas no Senado pelo médico baiano Vespasiano Santos. "A fita branca que dei a ele foi benzida no domingo passado na igreja do Bonfim, em Salvador", contou o médico.

Além do talismã, ACM contou com apoio político maciço de seu Estado. O governador da Bahia, Paulo Souto (PFL), e o prefeito de Salvador, Antônio Imbassahy (PFL), foram até Brasília para ver de perto a vitória do padrinho.

Diferença de votos
decepciona Iris Rezende

Iris Rezende ficou surpreso e decepcionado com os 24 votos de diferença com os quais perdeu a eleição para o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Mesmo declarando que não se sentia traído, Iris atribuiu sua derrota à pressão do governo e à decisão do PSDB de formalizar o apoio a ACM.

"Até ontem à noite (terça) eu esperava ganhar. Mas sou democrata, e aprendi ao longo da vida a me curvar a todos aqueles que têm o poder de decisão", afirmou. Até segunda-feira à tarde, antes da decisão dos tucanos, Iris dava como certa a sua vitória, por 42 votos -apenas um a mais que o necessário.

Depois que o PSDB se declarou favorável ao candidato pefelista, Iris reconsiderou. "Houve uma descompensação, principalmente daqueles de outras siglas que pensavam em dar o voto a mim, na expectativa da vitória."

Governo afirma que
não influenciou votação

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse hoje, por meio de seu porta-voz, Sergio Amaral, que espera manter com o novo presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), o bom relacionamento que tinha com seu antecessor, José Sarney (PMDB-AP). "O presidente está certo de que encontrará no senador Antonio Carlos o apoio necessário para a continuidade e aceleração das reformas", disse Amaral. Segundo ele, FHC afirmou que ficaria satisfeito com qualquer que fosse o resultado da eleição para a Presidência do Senado.

"O presidente havia dito que não iria intervir e não interveio", completou Amaral. FHC telefonou para ACM logo que o resultado foi proclamado. Segundo Amaral, o presidente queria "transmitir os parabéns". ACM esteve à tarde no Palácio do Planalto, uma hora depois de ter sido empossado.

Vitória fortalece
família Magalhães

O resultado da eleição no Senado fortaleceu o projeto de poder da família Magalhães -a que Antonio Carlos Magalhães se refere como a "pauta comum", dividida com o filho, e até esta quarta presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães PFL-BA). O apoio à reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, a eleição de ACM para a presidência do Senado, e a candidatura de Luís Eduardo ao governo da Bahia em 1998 são os pontos mais imediatos da pauta, negociada desde o ano passado com FHC.

A candidatura de Luís Eduardo ao Palácio do Planalto em 2002 é o projeto de longo prazo do novo presidente do Senado. "É um fato que nunca houve na política mundial: por um dia, pai e filho presidiram as duas casas do Congresso", destacou ACM logo depois de ser cumprimentado por Luís Eduardo.

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