Tuma diz que BC 'está sob suspeita'

Senadores vão ao Banco do Estado de Rondônia

Agência Folha 10/03/97 19h59
De São Paulo, Brasília, Curitiba e Florianópolis

CPI O senador Romeu Tuma (PFL-SP) disse que o "Banco Central está sob suspeita", por não ter detectado irregularidades na agência do Beron (Banco de Rondônia), em São Paulo. "O movimento das contas na agência era muito alto para uma agência do porte do Beron."

Tuma foi nesta segunda-feira (10) ao Beron acompanhado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) para buscar extratos bancários da empresa "laranja" SMJT Assessoria Empresarial, que movimentou R$ 12 milhões em sua conta. O Beron era o banco usado pelos "laranjas" da corretora Negocial, liquidada pelo Banco Central em fevereiro.

A Negocial e a distribuidora Split são apontadas pela CPI dos Precatórios por "lavagem" de dinheiro dos lucros das operações com títulos públicos. O dono da SMJT, Sérgio Derneka, disse à CPI ter entrado como "laranja" por pressão do ex-gerente do Beron, João Maury Harger Filho. Ele afirmou que devia R$ 15 mil ao banco.

O ex-gerente, em depoimento à PF na semana passada, negou a versão de Derneka. Tuma pretende fazer uma acareação entre Werneka e Harger Filho. À tarde, Tuma e Suplicy foram dar uma blitz na casa de câmbio Wechsel, à rua Oscar Freire (Jardins). Harger Filho disse, segundo Tuma, que a Wechsel pertencia ao dono da Split, Enrico Piccioto.

A Wechsel foi fechada há um mês, segundo seguranças da empresa. Tuma vai pedir que a PF lacre a Wechsel. Lojistas vizinhos à casa de câmbio informaram que no local havia uma placa da Split.

Dois novos "laranjas" foram detectados pelos senadores no esquema de "lavagem" de dinheiro. Um cheque no valor de R$ 700 mil, do Banco Dimensão, de Ibrahim Borges Filho, outro "laranja" do esquema, foi depositado na conta de Maria Del Sol Domarco e Mário Sérgio Cavalheri.

Os dois são sócios sócios da RDP (Rede Distribuidora de Peças) e possuem conta no Beron. Os senadores acabaram levando também extrato da RDP.

CPI procura provas
contra "chefes" do esquema

Depois de desvendar a participação de "laranjas" no esquema de venda irregular de títulos públicos, a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Precatórios se empenha agora na busca de provas para determinar os "chefes" do grupo. O suposto mentor das operações irregulares, Wagner Baptista Ramos, prestará um segundo depoimento na quarta e participará de uma acareação com diretores de empresas que movimentaram grandes somas -bancos Vetor e Maxi-Divisa, distribuidora Negocial e corretora Perfil. "Temos de sair da fase das suspeitas para a das provas. Não adianta a CPI fazer alarido se depois a Justiça fizer silêncio, por falta de provas", disse o senador Geraldo Melo (PSDB-RN), vice-presidente da comissão.

Apesar de vários indícios e depoimentos apontarem Wagner Ramos como o "cérebro" das operações, a CPI dispõe de poucas provas materiais contra ele. Está comprovado apenas o pagamento de uma comissão de R$ 150 mil do Banco Vetor por 'àssessoria" na montagem da emissão de títulos de Pernambuco e a existência de uma conta nos Estados Unidos, com saldo superior a US$ 1 milhão.

As demais suspeitas da CPI estão baseadas em depoimentos de supostos "laranjas". Na semana passada, Luiz Calábria e Gérson Martins, diretores da corretora Perfil, afirmaram que Ramos 'àlugava" a empresa para receber comissões. Se a alegação for comprovada, o total recebido por Ramos em comissões salta de R$ 150 mil para cerca de R$ 41 milhões, apenas levando-se em conta as operações de Pernambuco, Santa Catarina e Alagoas.

Além de Ramos, outro alvo prioritário da CPI é a distribuidora Negocial, comandada por Fábio Pazzanase Filho e José Priolli. Na semana passada, eles foram acusados de tentativa de suborno pelo proprietário da SMJT, Sérgio Derneka, um dos "laranjas" confessos do esquema. Em seu depoimento, Derneka disse que recebeu uma proposta de R$ 1 milhão da Negocial para assumir a culpa das irregularidades e fugir do país.

O nome da distribuidora também apareceu no depoimento dos donos da Perfil. Calábria e Martins afirmaram terem sido apresentados a Wagner Ramos "pelo pessoal da Negocial". Os depoimentos marcados para esta terça-feira (11) são os de Fausto Solano Pereira (dono da corretora Boa Safra, que terá de explicar por que recebeu R$ 9,5 milhões da "laranja" IBF Factoring) e José Pereira de Souza, secretário da Fazenda de Alagoas. A emissão de títulos de Alagoas, no valor de R$ 301,6 milhões, é a campeã de irregularidades -até documentos foram falsificados para justificar a operação.

Como a lista de envolvidos não pára de crescer, quase todos os senadores admitem que a CPI vai prorrogar seus trabalhos, cujo término estava previsto para 22 de abril. O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), disse que a comissão poderá trabalhar aos sábados e domingos, "se houver necessidade".

CPI aguarda relatório
sobre operações

A CPI espera ter em mãos, até quarta-feira, relatório em que constará todo o caminho percorrido pelos títulos públicos sob suspeição, desde sua emissão pelos Estados e municípios até seus compradores finais. O relatório está sendo elaborado pela senadora Emília Fernandes (PTB-RS), que irá ajudar a comissão a encontrar os responsáveis pelo esquema de compra e venda de papéis de Alagoas, Pernambuco, Santa Catarina, Osasco e Guarulhos.

O relatório, segundo o senador Roberto Requião (PMDB-PR), vai conter os números dos títulos emitidos por Estados e municípios. Com esses números, a CPI irá descobrir por quantas instituições esses títulos já passaram. "A partir daí, vamos saber quem vendeu, quem comprou e quem ficou com o lucro do prejuízo do Banestado e do Bradesco", disse.

Prefeitos fazem ato de
apoio a governador de SC

Prefeitos de cerca de 200 dos 293 municípios catarinenses participaram na tarde desta segunda de um ato de apoio ao governador do Estado, Paulo Afonso Vieira (PMDB), no Palácio Santa Catarina. O movimento foi organizado pela Fecam (Federação Catarinense dos Municípios) (Fecam). O governo de Santa Catarina está sendo acusado pela CPI do Senado de ter falsificado documentos para solicitar a emissão de títulos para pagamento de precatórios.

Prefeitos do PPB e do PFL participaram do ato. "Vim reivindicar que o que é de Santa Catarina fique em Santa Catarina", disse o prefeito de Salto Veloso, Geraldo de Bórtoli (PPB). A grande maioria dos cerca de 200 prefeitos presentes era do PMDB.

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