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FHC deixa aos ministros tarefa de fazer promessas

AJB 11/01/97 14h06
Brasília

No gabinete da presidência fala-se apenas de reivindicações institucionais ou altruístas para convencer os indecisos. Mas uma investigação mais minuciosa revela que os ministros Sérgio Motta, Luís Carlos Santos e Paulo Renato Sousa passaram a semana fazendo promessas para deputados. Francisco Dornelles usa todos os artifícios para convencer os parlamentares do seu partido, o PPB, e o ministro do Planejamento, Antônio Kandir, usa o Orçamento da União para atender pedidos de verbas dos parlamentares, embora negue que esteja desfigurando o projeto de gastos do governo para 1997.

O deputado Delfim Netto (PPB-SP) acusa o governo federal de estar mobilizando empresas financiadoras de campanhas políticas para pressionar os parlamentares a votarem a favor da emenda da reeleição. "São banqueiros, empreiteiras que custearam a campanha de deputados na última eleição e agora estão chamando essas pessoas e mostrando o quanto lhes interessa a continuidade do governo Fernando Henrique", denuncia Delfim, integrante do grupo ligado ao ex-prefeito Paulo Maluf.

A acusação de Delfim, se verdadeira, é uma demonstração de que o governo Fernando Henrique Cardoso criou uma espécie de neofisiologismo - uma barganha sem a participação direta do presidente da República. Nas inúmeras audiências que teve com parlamentares, Fernando Henrique ofereceu apenas café, água e muito charme. Cargos, verbas ou qualquer outro sinal de barganha política estão sempre fora dessas conversas.

No gabinete da presidência, fala-se apenas de reivindicações institucionais, políticas altruístas ou ajuda para enchentes em Minas Gerais. A impressão de uma testemunha priviliegiada dessas audiências é que neste governo jamais existirá fisiologismo, como sempre prometeu o presidente. "Onde é que há barganha, me mostrem onde há, isso é conversa", repetiu várias vezes Fernando Henrique.

No entanto, uma investigação mais minuciosa na Esplanada dos Ministérios revela outra realidade. Os ministros Sérgio Motta, das Comunicações, Luís Carlos Santos, da Coordenação Política, e Paulo Renato Sousa, da Educação, passaram a semana fazendo promessas para deputados.

O ministro da Indústria e Comércio, Francisco Dornelles, usa todos os artifícios para convencer os parlamentares do seu partido, o PPB, prometendo até mesmo maior espaço no governo. O ministro do Planejamento, Antônio Kandir, usa o Orçamento da União para atender pedidos de verbas dos parlamentares, embora negue que esteja desfigurando o projeto de gastos do governo para 1997.

PEDIDOS NOVOS E VELHOS - O governo não se nega a examinar nenhuma reinvidicação. Alguns pedidos apresentados agora por deputados que estavam engavetadas há dois anos. "Tenho pedidos de verbas para hospitais públicos desde que Fernando Henrique era ministro da Fazenda, por isso não sei se estou disposto a negociar. Espero a reunião com o governador do estado e os senadores para decidir minha posição", anunciou o deputado José Aldemir (PMDB-PB), que se declara a favor da reeleição só para os futuros governantes, e consta da contabilidade do governo como indeciso com possibilidade de negociação em troca de verbas para os hospitais.

Os parlamentares estão reafirmando velhos pedidos e fazendo novos. Sabem, por exemplo, que haverá substituição na presidência da Fiocruz, no Rio. O nome preferido do governo para ocupar o cargo é o professor Paulo Buss, um dos criadores do programa Universidade Solidária, que tem apoio de 30 deputados federais de todos os partidos, menos do PPB. Mas a bancada do PPB do Rio reinvidica o cargo. Preocupado, o ministro da Saúde, Carlos César Albuquerque, que apóia a indicação de Buss, encaminhou ao gabinete Civil um pacote de nomeações para o seu segundo escalão, entre eles a substituição na Fiocruz.

"Sou a favor da reeleição, mas já me arrependi. Estaria valendo mais se continuasse contra", protestou o deputado Sílvio Pessoa (PMDB-PE), que teve sua audiência com o presidente Fernando Henrique desmarcada, segundo disse, depois que anunciou seu voto a favor da emenda.

No PTB, dos 24 deputados da bancada, 20 se renderiam à emenda da reeleição se tivessem seus pleitos atendidos pelo Executivo, revelou o deputado Paulo Cordeiro (PTB-PR). O líder do PTB na Câmara, deputado Vicente Cascione (SP) esteve 50 minutos com o presidente Fernando Henrique no palácio do Planalto, na quinta-feira, e prepara uma lista com as reinvindicações da bancada. Entre elas, manter os ministérios da Agricultura e do Trabalho. Hoje, 14 dos 24 votos do PTB são contrários à reeleição. "A bancada sempre foi maltratada. Agora o governo tem chance de mostrar se quer ou não o partido em sua base", anunciou o novo líder do PTB.

"A reforma ministerial deverá contemplar os partidos, proporcionalmente, aos votos que derem à emenda da reeleição", prometeu o líder do governo na Câmara, deputado Benito Gama (PFL-BA). O PSDB não quer ministério novo. Prefere indicar os três líderes do governo, na Câmara, no Senado e manter o do Congresso, além, evidentemente, de ter um novo mandato para o presidente. O PPB quer três ministérios: Agricultura, Transportes e Indústria e Comércio. O PMDB quer mais espaço, sem abrir mão do que já tem: Transportes, Justiça, e Secretaria do Desenvolvimento Regional. Entre os cargos novos pleiteados pelo partido estão o Ministério da Ciência e Tecnologia e o Ministério das Relações Exteriores, que não pertencem a nenhum partido político.

Até deputados favoráveis à reeleição estão aproveitando a votação da emenda para garantir o atendimento de alguns pleitos, entre eles a liberação de verbas no Orçamento. Leia abaixo uma lista dos deputados que esperam barganhas.

A LISTA DA BARGANHA

* José Aldemir (PMDB-PB) - tem pedidos de verbas para hospitais não atendidos desde que Fernando Henrique era ministro da Fazenda.

Albérico Cordeiro (PTB-AL) - quer dinheiro para combate à seca e a cólera e para a zona canavieira.

João Almeida (PMDB-BA) - está interessado na liderança do PMDB na Câmara, que negocia com o candidato à presidência da Casa, deputado Michel Temer.

Vicente Cascione (PTB-SP) - manutenção dos dois ministros do partido no governo (Trabalho e Agricultura) e atendimento dos pedidos de recursos para sua base eleitoral e dos demais deputados do partido que lidera na Câmara.

Ubiratan Aguiar (PSDB-CE) - quer garantir R$ 200 milhões para a construção do açude em Quixelo (CE) e outras verbas para o estado.

Mário Negromonte (PMDB-BA) - quer saber em qual palanque da Bahia o presidente Fernando Henrique Cardoso vai subir na eleição para governador em 98.

Welinton Fagundes (PL-MT) e Tetê Bezerra (PMDB-MT) - querem vagas nas diretorias do BASA, da Sudam, superintendências da Caixa Econômica e do Banco do Brasil em Mato Grosso.

Hélio Rosas (SP) - quer a criação da "frota verde" com todos os carros oficiais a álcool.

Luis Durão (PDT-ES) - quer uma lei proibindo o uso da máquina administrativa.

José Janene (PPB-PR) - também depende dos critérios que a emenda recomendará para impedir o uso da máquina.