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Discurso do ex-governador inflamou convencionais contra reeleição

AJB 12/01/97 21h17
Brasília

Contrário à reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-governador Orestes Quércia usou hoje a Convenção Nacional do PMDB como palanque para voltar ao centro das decisões do partido. Com toda a cúpula do PMDB no Congresso, foi Quércia quem conseguiu ocupar o primeiro plano na decisão que atrapalhou o governo e o PFL. Fez um discurso inflamado contra Fernando Henrique e, em seguida, por votação simbólica e unânime, os convencionais que o seguem aprovaram a moção que adia a votação da emenda da reeleição para depois das eleições dos presidentes da Câmara e Senado.

Na hora da decisão, o plenário estava sob a presidência também de um quercista, o deputado Marcelo Barbieri, que como primeiro vice-presidente do PMDB levou a moção à votação. Os convencionais fiéis ao ex-governador de São Paulo enchiam o plenário da Câmara e foram decisivos nesta votação. Embora a moção não tenha força de lei interna do partido contra a reeleição, ela constrange os parlamentares pemedebistas a votarem a emenda esta semana como queria o governo.

O fato de estar Orestes Quércia controlando o plenário no momento da votação da moção, aparentemente, aconteceu à revelia dos principais políticos do partido. Mas toda a cúpula, do presidente aos líderes, dos ministros aos candidatos à presidência da Câmara e do Senado, sabiam que o plenário estava tomado pelos quercistas, com Barbieri na presidência. Mesmo assim, foram todos para uma reunião fechada em sala distante do plenário.

Quércia chegou à Convenção por volta das 13 horas, duas horas após a abertura do encontro pelo presidente do partido, deputado Paes de Andrade (PMDB-CE). Sentou-se à mesa da presidência e logo depois fez o discurso contra o governo Fernando Henrique e contra os governadores pemedebistas e lideranças do PMDB na Câmara e no Senado que estavam reunidos. "Manifesto meu repúdio à tentativa dos governadores e dos líderes de pressionarem o resultado desta convenção", discursou Quércia. A cada palavra sua, uma claque barulhenta de militantes quercistas o aplaudia freneticamente e gritava palavras de ordem contra a reeleição.

Assim que Quércia acabou de discursar, Marcelo Barbieri não perdeu tempo: disse que o quórum de convencionais, naquele instante, era de 457 pessoas e, portanto, estava colocando em votação a moção determinando que deputados e senadores só devem apreciar a emenda da reeleição na próxima legislatura, que começa em 15 de fevereiro. Em segundos, a moção era aprovada em votação simbólica. "Foi uma molecagem o que o Barbieri fez", acusou o governador do Rio Grande do Sul, Antônio Brito. "Eles são uns incompetentes porque não conseguiram ninguém que fosse discutir essa moção no plenário", rebateu Barbieri.

Quércia, muito assediado ao final de sua participação no plenário, e sem convite para a reunião da cúpula do partido, posava para fotos e abraçava seguidores pelo salão verde da Câmara.