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Presidente reúne-se com líderes do partido

Agência Folha 13/01/97 21h01
De Brasília e de São Paulo

Sérgio Lima/Folha Imagem
FHC FHC e os líderes durante reunião no Planalto, na 2ª
Um dia após a derrota na convenção do PMDB, o presidente Fernando Henrique Cardoso resolveu pressionar o partido e exigiu a votação para terça-feira (14) da emenda da reeleição na comissão especial da Câmara. Segundo FHC, a votação servirá para o partido mostrar se realmente faz parte da base governista no Congresso ou se prefere partir para a oposição.

FHC convocou nesta segunda uma reunião com os principais líderes peemedebistas no Palácio do Planalto. Questionou diversas vezes se o partido continua ou não apoiando o governo. Em seguida afirmou que a resposta do partido deveria "se traduzir em gestos concretos". O recado foi claro: em vez de retórica, FHC quer ver o apoio do partido traduzido em votos a favor da reeleição.

Segundo o porta-voz Sergio Amaral, o presidente disse que a decisão da convenção do PMDB, que recomendou o adiamento da votação da reeleição e o voto contra a reeleição, "foi uma atitude diferente do que se havia combinado". Irritado, disse que ele "não pode aceitar condicionantes" enquanto presidente da República.

Segundo Amaral, a decisão do partido significou uma pressão que FHC considera "inaceitável". Amaral disse ainda que o presidente do Congresso, senador José Sarney (AP) -presente à reunião-, afirmou que a decisão da convenção "foi um episódio lamentável". O porta-voz disse que Sarney pediu a FHC que o resultado da convenção -"um desentendimento do PMDB"- não gerasse uma crise do partido com o governo.

Participaram da reunião, entre outros, o líder do PMDB na Câmara, Michel Temer (SP), e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) e o ministro da Justiça, Nélson Jobim. O presidente do PMDB, Paes de Andrade, não foi convidado para a reunião. Paes disse que os aliados do presidente não compareceram à convenção para defender a reeleição.

No domingo (12), o PMDB decidiu em sua Convenção Nacional recomendar a seus parlamentares que votem contra a emenda da reeleição. O partido também aprovou um requerimento propondo o adiamento da votação da emenda para depois de 15 de fevereiro. Está marcado para esta terça-feira (14) o início da tramitação da emenda da eleição, com votação na Comissão Especial da Câmara.

O Palácio do Planalto não descartou a possibilidade de os ministros do PMDB serem afastados dos cargos em função da decisão da convenção do partido.

A recomendação contra a reeleição dos atuais presidente, governadores e prefeitos foi aprovada por grande maioria: 343 votos contra 229. Apenas um convencional votou em branco. Dois convencionais não participaram da votação. O apoio à reeleição apenas para os atuais governantes, incluindo o presidente Fernando Henrique Cardoso, teve 190 votos; 136 convencionais do PMDB apoiaram a proposta de reeleição apenas para os futuros governantes. A proposta de referendo ou plebiscito sobre o tema foi rejeitada por 236 votos.

O requerimento sobre o adiamento foi aprovado num golpe do vice-presidente do partido, deputado Marcelo Barbieri (SP), que presidia a convenção e é ligado ao ex-governador paulista Orestes Quércia. Foi aprovado por voto simbólico, enquanto os governadores e líderes do partido negociavam numa sala da Câmara.

Os governistas tentaram derrubar o requerimento. Chegaram a pensar em aprovar outra moção (ou requerimento) que tornasse a primeira sem efeito. Desistiram por questões regimentais e porque tinham minoria em plenário.

Os governadores e líderes foram surpreendidos pela votação quando procuravam uma saída consensual sobre o calendário da reeleição. Os governadores e o líder na Câmara, Michel Temer (SP), candidato a presidente da Casa, queriam votar nesta semana.

PMDB de Minas pode
apoiar reeleição

O prefeito de Contagem (MG), Newton Cardoso (PMDB), disse que "a convenção não é um retrato da votação do PMDB na Câmara". Newton disse ao ministro de Assuntos Políticos, Luiz Carlos Santos, que a bancada mineira deverá votar a favor da reeleição. Mas fez uma cobrança: no preenchimento dos ministérios do PMDB, Minas deve ter preferência.

Newton Cardoso articulou a moção aprovada na Convenção Nacional do PMDB, domingo, que propôs o adiamento da votação da reeleição para após 15 de fevereiro. Na convenção, o PMDB decidiu também não apoiar a emenda da reeleição.

Maluf diz que governo
perdeu bonde do plebiscito

O ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PPB) disse que o presidente Fernando Henrique Cardoso deveria trocar a reeleição por "um pacto de governabilidade" com os partidos. O pepebista também recuou na defesa que fazia sobre um plebiscito referente à emenda da reeleição. Segundo Maluf, o resultado da convenção peemedebista é mais uma prova de que o Palácio do Planalto não tem votos para aprovar a reeleição.

"Garanto a adesão do PPB a um pacto de governabilidade sem pedir nenhum cargo. Damos apoio para aprovar todas as reformas: a tributária, a administrativa e a da Previdência. O presidente sairia do governo em 98 como o maior estadista da República", disse Maluf. O ex-prefeito afirmou que FHC tem de "escolher entre a obsessão pelo cargo e a obsessão pela biografia".

Ainda segundo Maluf, os governistas "perderam o bonde do plebiscito". "O Fernando Henrique, o (vice-presidente) Marco Maciel, os tucanos e o PFL eram contra. Agora que viram que vão perder no Congresso, não podem defender isso. É casuísmo."

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