Opiniões sobre Darcy Ribeiro



Agência Folha/AJB 17/02/97 21h04
De São Paulo e do Rio de Janeiro

Oscar Niemeyer, arquiteto: ''Era um homem tão bom, um brasileiro fantástico, cheio de idealismo. Era um amigo, um irmão. É uma perda irreparável, vai fazer muita falta.''

Hélio Bicudo (PT-SP), deputado federal: ''Conheci Darcy Ribeiro quando ele era reitor da UnB (Universidade de Brasília) e desde os tempos do governo de João Goulart desenvolvemos uma amizade sólida. Eu queria muito bem a ele. Darcy era um homem moderno -no sentido original da palavra- e viveu de acordo com o tempo dele. Toda sua trajetória foi vivida de maneira muito intensa, pra valer. Ele deixou dois grandes legados: como antropólogo, foi fundamental para a história e cultura do Brasil e, como educador e político, deixou a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação.''

Dias Gomes, dramaturgo: ''Darcy Ribeiro foi uma das pessoas mais inteligentes que eu conheci e uma das pessoas mais inteligentes que já nasceram abaixo da linha do Equador. Era de uma inventividade imensa e em tudo que fazia punha a mesma paixão que tinha pela vida. Foi um sujeito que enfrentou a morte de peito aberto, sorrindo como um guerreiro. Acho que a bruxa está sendo muito inclemente com a cultura brasileira. Primeiro foi Ênio Silveira, depois o Callado e agora o Darcy... Com eles três lá em cima, Deus que se cuide''.

Jorge Amado, escritor: "Lastimo imensamente a morte de Darcy. Ele vai fazer muita falta. Foi meu amigo da vida inteira. Participamos juntos de várias campanhas, de vários combates. Ele era um homem inteligentíssimo, muito vivo. Podia errar, esteve errado várias vezes, mas nunca se omitiu. Teve uma presença muito grande, das mais prestigiosas, na vida do país, sempre opinando, brigando, participando, a cada momento."

Lygia Fagundes Telles, escritora: "Darcy escrevia extraordinariamente bem, porque acreditava nas coisas sobre as quais escrevia. Disse a ele certa vez que ele era a reencarnação de Gonçalves Dias. Os índios perdem com sua morte, e também perdem os que amam os advogados das causas puras, das causas perdidas."

Francisco Weffort, ministro da Cultura: "Com a morte de Darcy, o Brasil perde uma de suas maiores personalidades, que se notabilizou pela fundamental contribuição para a educação, literatura e antropologia. Isso, além de ser um grande animador da cultura brasileira e um notável líder político."

Michel Temer (PMDB-SP), presidente da Câmara: "Muito mais que o Congresso, que tinha um grande senador, perde o Brasil. Darcy Ribeiro era, não somente um intelectual de grande importância, mas um homem que dedicou toda sua energia criadora à defesa das melhores qualidades do caráter brasileiro."

José Aníbal, líder do PSDB na Câmara dos Deputados: "Era uma figura luminosa, estimulante. Fez um trabalho fantástico na fundação da Universidade de Brasília. É uma grande perda para o Brasil."

Orlando Villas Boas, sertanista: "O Darcy pertence a uma geração que mostrou à sociedade brasileira que índio não é bicho. Não era um antropólogo de gabinete. Ajudou muito a criar a Universidade de Brasília e o Parque Nacional do Xingu."

Cândido Mendes de Almeida, professor: "O Brasil não perde apenas um cientista social múltiplo, um dos fundadores da nossa modernidade, da universidade ao Ciep. Perde sobretudo o fundador do novo humanismo do nosso tempo: o de enfrentar a morte a cada dia, como fez nos últimos dois anos, e de nos dar, também a cada dia, o exercício de um resgate permanente, fruto de sua paixão de viver e do exercício supremo da própria liberdade".

Roberto Da Matta, antropólogo: "O que fica na obra do Darcy, não só na antropologia, não é a vontade de estudar e entender o mundo, mas de mudá-lo. Lévi-Strauss fala de duas lógicas contraditórias, e eu tive uma relação contraditória com Darcy. Tentei ser amigo dele, mas não consegui. Pensávamos diferente, apesar de termos pontos comuns."

José Murilo de Carvalho, historiador: "O Darcy teve um papel de agitador de idéias. Ligava muito a paixão e a razão. E tinha uma enorme paixão pelo Brasil. O fato de se eleger senador tirou ele da política local do Rio e o recolocou no debate nacional."

Roberto Mangabeira Unger, professor da Universidade de Harvard (EUA): "A generosidade era a face mais marcante da personalidade do Darcy. Conseguiu desenvolver uma obra que mostrava um pensamento social que jamais cedeu aos deslumbramentos dos modismos estrangeiros. Tinha uma visão completamente original do país."

Luiz Carlos Bresser Pereira, ministro da Administração: "Darcy Ribeiro era um grande intelectual, um notável escritor, um incansável político-patriota, que lutou por seu ideal de Brasil até o último momento."

Aloysio Nunes Ferreira (PMDB-SP), deputado: "O Darcy estava brincando de esconde-esconde com a morte há mais de 20 anos. Era um homem que representava uma geração de inconformismo na política brasileira. Infelizmente, essa geração vai se extinguindo. É uma grande pena."

Cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns: "Conheci Darcy Ribeiro pessoalmente, porque ele me deu a honra de me visitar ao voltar do exílio. Conheci-o também como pesquisador da vida de nossos índios e como um grande patriota, com um desejo enorme de manifestar sempre amor à liberdade. Creio que foi um de nossos maiores talentos. Além de grande escritor, era um pensador e formador de idéias. Lastimo imensamente a perda de Darcy Ribeiro para o Brasil, embora não tenha concordado inteiramente com o novo sistema de educação que ele elaborou e que foi aprovado há pouco".

João Pedro Stédile, dirigente do MST: "Foi uma perda irrecuperável para o povo brasileiro. Um homem lúcido, inteligente e coerente em defesa das causas nacionais e do povo, que deixa também uma contribuição científica à cultura brasileira. Particularmente, nós perdemos um militante porque ele sempre apoiou o movimento e fez uma defesa contundente da reforma agrária. Esperamos que o governo se espelhe na grandeza de Darcy Ribeiro e passe a ter um mínimo de coerência".

Ailton Krenak, índio da nação Krenak do Vale do Rio Doce, diretor do Núcleo de Cultura Indígena: "Ao ouvir a notícia da morte de Darcy Ribeiro, comecei a fazer uma breve meditação, pensando na vida dessa pessoa maravilhosa. Estou pensando na luminosidade dele. Que tenha muita luz e se integre na origem divina, seguindo o seu caminho. Darcy Ribeiro foi uma pessoa muito especial, pela sua relação com os índios. Qual outra pessoa desse século viveu tão comprometida, política e pessoalmente, com o povo indígena? Darcy Ribeiro reconheceu no povo indígena a matriz do que pode ser o povo brasileiro. Estou muito comovido".

Eduardo Azeredo (PSDB), governador de Minas Gerais: "Darcy Ribeiro foi uma das figuras mais brilhantes que Minas deu ao Brasil. Sua inteligência, cultura e o interesse pelo estudo da antropologia, especialmente no que se refere aos indígenas e africanos, base da nação brasileira, fizeram dele um cientista respeitado internacionalmente. A sua contribuição ao sistema educacional do nosso país, simbolizada na implantação da Universidade Brasília e na aprovação do projeto da Lei de Diretrizes e Bases, um de seus últimos e mais importantes trabalhos, além da participação em importantes episódios da vida política, colocam Darcy Ribeiro num lugar de destaque da nossa História, dando uma dimensão ainda maior à perda que sua morte representará para o Brasil. O Governo de Minas, refletindo o sentimento do povo mineiro, se solidariza com a sua família e seus amigos nesse momento de pesar."

Célio de Castro (PSB), prefeito de Belo Horizonte: "O Brasil perde com a morte de Darcy Ribeiro uma de suas mais marcantes personalidades deste século, uma figura absolutamente definitiva em nossa contemporaneidade. Multifacetado, o mineiro Darcy Ribeiro reuniu em si desde a profundidade de análise do antropólogo estudioso da vida brasileira até o brilhantismo do homem de letras, para fazer a síntese quase perfeita no político de idéias vigorosas. Além de tudo, deu à humanidade um exemplo de como encarar a própria morte. Sua resistência à doença, demonstrada nos últimos meses de vida, repetiu sua existência política, também de permanente resistência aos regimes de opressão. Enfrentou a morte da mesma maneira que viveu a vida: com alegria, sem jamais desistir dos próprios projetos e dos próprios prazeres. A morte de Darcy deixa o Brasil mais triste".

Marcello Alencar (PSDB), governador do Rio: "Todo o nosso povo deve sentir-se consternado. Darcy foi uma presença viva na vida do país, de especial significação. Teve uma obra cósmica. As suas inquietações em relação aos problemas do nosso país o levaram a uma permanente ação buscando soluções estruturais. Como antropólogo, soube compreender bem as questões das origens de nosso povo. Na educação, ele fez muito com sua paixão pelas questões educacionais, logrando inclusive notável atuação internacional. O que me impressionou na personalidade de Darcy foi ele ter buscado ser livre, independente com relação às suas convicções. Convivi com ele em alguns momentos da vida política do país - quando tive a oportunidade de ver um homem de coragem moral e pessoal. Depois que deixei o partido (PDT) tive a oportunidade de demonstrar o meu respeito por ele, mantendo-o com chanceler da Universidade do Norte Fluminense".