Corpo de Darcy Ribeiro é enterrado no Rio

Cerca de 200 pessoas acompanham cortejo

Agência Folha 19/02/97 19h59
Do Rio de Janeiro

Patrícia Santos/Folha Imagem
Darcy
Cortejo deixa a ABL
Centenas de pessoas acompanharam nesta quarta-feira (19) o cortejo que levou o corpo do antropólogo e senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ) ao cemitério São João Batista, em Botafogo (zona sul do Rio). O cortejo levou duas horas para percorrer os 7 km até o cemitério. À frente do caminhão do Corpo de Bombeiros que levava o caixão de Darcy, cerca de 200 pessoas fizeram o percurso a pé. Outras pessoas se juntaram ao grupo. Das janelas dos prédios da avenida Rui Barbosa e da praia de Botafogo, muitas pessoas acenavam e aplaudiam a passagem do cortejo.

Darcy morreu de câncer na segunda-feira, em Brasília. Seu corpo foi velado durante a noite de terça e o dia de quarta no Salão dos Poetas Românticos da ABL (Academia Brasileira de Letras), no centro do Rio.

O enterro estava marcado para as 16h30. Nesse horário, com 30 minutos de atraso, o cortejo iniciou seu trajeto, saindo da ABL. O atraso foi causado pela demora na chegada do carro do Corpo de Bombeiros que transportaria o caixão. Diante da demora, o caixão foi colocado em uma Kombi. Amigos e militantes do PDT barraram a saída do carro, exigindo a presença do caminhão, que só chegou às 16h15.

No enterro, realizado à noite, houve um discurso de Leonardo Boff, a pedido de Darcy. Sua amiga e assessora, a professora Ligia Costa Leite, disse que Darcy queria acreditar em Deus. Em janeiro, ele convidou Boff a visitá-lo em seu apartamento, em Copacabana (zona sul do Rio). "Ele queria que o Leonardo o convencesse que a vida era uma passagem, que existe vida após a morte", disse Ligia.

No velório na Academia, o corpo de Darcy Ribeiro foi visto por pelo menos 2.170 pessoas, que assinaram o livro de presença. A presidente da ABL, escritora Nélida Piñon, fez o discurso de despedida. Estiveram presentes -e acompanharam o cortejo fúnebre até o cemitério- o ex-governador do Rio Leonel Brizola, os governadores de Brasília, Cristovam Buarque (PT), e de Minas Gerais, Eduardo Azeredo (PSDB).

Coroa
de Fidel


Parlamentares e políticos, como os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Francelino Pereira (PFL-MG), também foram ao velório. O presidente de Cuba, Fidel Castro, enviou uma coroa de flores ''ao eterno amigo''. Em meio a políticos e pessoas mais conhecidas, familiares e militantes do PDT faziam fila para ver o corpo de Darcy. ''O Darcy era um homem feito só de amor. Ele não tinha ódio no coração'', disse o escritor Dias Gomes.

A pedido do próprio Darcy, seu corpo foi velado ao som de Bach. Dois violinistas, um violoncelista e um flautista executaram trechos da composição ''Oferenda Musical''. Também a seu pedido, Darcy foi enterrado sem sapatos. ''Ele adorava andar descalço'', disse Ligia. Como era imortal da ABL, o corpo do antropólogo foi vestido com o fardão da academia, embora Darcy não tivesse dado qualquer orientação nesse sentido. (Mário Moreira e Roni Lima)