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Deputado coordenava movimento para adiar votação

Agência Folha 28/01/97 21h58
De Brasília

Reeleicao O PFL ameaçou expulsar nesta terça-feira (28) o deputado Ricardo Barros (PR), que, além de decidir votar contra a reeleição, coordenava um movimento para adiar a votação. A Executiva Nacional pefelista recuou da decisão à tarde. Não teria como expulsar o deputado antes da votação. Outro empecilho era o fato de o PFL não ter fechado questão a favor da reeleição, mas apenas feito uma recomendação de voto.

"Achamos melhor não expulsar o deputado e cancelamos a reunião por falta de problemas", comunicou o presidente do PFL, deputado José Jorge (PE). "Estou sendo o bode expiatório", reagiu Barros contra a cúpula pefelista. "Se o governo tem certeza de que tem os votos necessários, não sei por que sair à caça de quem pensa diferente", criticou.

O deputado disse que foi procurado duas vezes pela Presidência da República para mudar de voto. Não mudou: "Não me compensaram, não me prestigiaram e ainda querem armar uma desculpa para que o partido não tenha defecções".

Apesar da aparente tranquilidade, os líderes governistas não pararam de tentar convencer os indecisos até durante a votação. Exemplo: a internação do deputado Benedito Domingos (PPB-DF), pouco antes do meio-dia, foi contabilizada imediatamente nos computadores da liderança do governo. O deputado estava listado entre os indecisos. Apesar de haver prometido se alinhar ao governo e ao ex-prefeito Paulo Maluf, era um dos apoios cobiçados pelos governistas.

Domingos não chegou a sofrer um infarto. Mas ficará, pelo menos, 48 horas na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Prefeitos pressionam
deputados por aprovação

Cerca de 300 prefeitos pró-reeleição que desembarcaram nesta terça em Brasília passaram o dia fazendo marcação cerrada junto aos deputados de seus Estados, tentando convencer os indecisos a aprovar a emenda e evitar o que chamavam de "golpe do alfaiate". Os prefeitos temiam que deputados interessados em disputar as próximas eleições estaduais e municipais apresentassem proposta de modificação limitando o direito da reeleição ao Presidente da República.

"Isso é golpe. Ou a reeleição é boa e vale para todos ou não vale para nenhum. Os deputados que defendem a reeleição só para presidente estão colocando seus interesses pessoais acima de tudo", disse o deputado Welson Gasparini (PSDB-SP), coordenador do grupo de prefeitos.

O suposto golpe foi apelidado de "alfaiate" porque teria sido encomendado sob medida para permitir a reeleição de Fernando Henrique Cardoso.

Pelo menos um deputado admitiu abertamente que havia mudado seu voto por causa da pressão dos prefeitos. É o caso de Nelson Marquezelli (PTB-SP), que no último levantamento da Folha de S.Paulo era contra a reeleição. "A maioria dos prefeitos da minha área é a favor da reeleição nos três níveis. Tenho de ouvir as bases", disse.

O prefeito de Cascavel (PR), Salazar Barreiros, também acreditava que conseguiria convencer o deputado conterrâneo Dilceu Sperafico (PPB), que estava indeciso, a aprovar a reeleição. "Estou indo me encontrar com ele agora e acho que meus argumentos serão ouvidos. O deputado precisa do apoio dos prefeitos se quiser se reeleger. Nós conhecemos os eleitores muito melhor do que eles", disse Barreiros.

Como ele, que é do PPB, muitos prefeitos que vieram a Brasília defender a reeleição são filiados a partidos contrários à emenda. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, 103 dos 126 prefeitos assinaram moção favorável à reeleição. Entre eles, 18 dos 23 prefeitos do PDT e 23 dos 27 do PMDB.

Governadores tentam
convencer indecisos

Os governadores passaram todo o dia tentando convencer deputados ainda indecisos a votarem a favor da emenda da reeleição. A maioria deles ficou em gabinetes conversando com esses parlamentares.

Uma das tarefas mais difíceis coube ao governador José Maranhão (PMDB), da Paraíba. Ele conseguiu 5 dos 7 votos do PMDB estadual. As exceções são os deputados Gilvan Freire e Ivandro Cunha Lima, irmão do senador Ronaldo Cunha Lima (PMDB-PB). O senador Cunha Lima é um dos principais líderes da resistência do PMDB à reeleição. Os dois outros senadores paraibanos -Humberto Lucena e Nei Suassuna, ambos do PMDB - também são contra.

"Política é a arte do possível", disse o governador da Paraíba, após ter viajado a Brasília por três horas com Ivandro no avião do governo do Estado. Segundo Maranhão, "não conversamos sobre a emenda porque não adiantaria".

Ao contrário do governador da Paraíba, o governador do Rio Grande do Norte, Garibaldi Alves Filho (PMDB), estava tranquilo. Logo cedo, chegou ao gabinete do senador Fernando Bezerra (PMDB-RN). Os oito deputados de seu Estado, segundo Alves, estavam "fechados" com a reeleição. Às 12h, recebeu telefonema de FHC agradecendo o apoio.

Os governadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Antônio Britto (PMDB-RS) também articularam votos pró-reeleição. Tasso ficou reunido no gabinete de Beni Veras (PSDB-CE). Britto ficou no escritório do governo gaúcho em Brasília.

Ao meio-dia, alguns governadores almoçaram no Piantella, restaurante tradicional de Brasília. Marcello Alencar (PSDB), do Rio, almoçava com sua bancada. Eduardo Azeredo (PSDB), de Minas, também reunia parlamentares mineiros. Do Piantella, Azeredo foi para o gabinete do segundo secretário da Câmara, Leopoldo Bessone (PTB-MG). Ali, continuou recebendo deputados. Hugo Rodrigues da Cunha (PFL-MG) saiu da posição de indeciso para pró-reeleição. Foi festejado pelos colegas.

Mário Covas, que tinha retornado na noite de segunda a São Paulo, após reunião de governadores com FHC, era aguardado na tarde desta terça em Brasília para novas articulações. Wilson Martins (PMDB), do Mato Grosso do Sul, também articulava a favor da reeleição.

Segundo Martins, os quatro deputados do PMDB de seu Estado iam votar com FHC. Pela manhã, ele reuniu esses parlamentares no Hotel Naoum. Dante de Oliveira (PDT), do Mato Grosso, e Roseana Sarney (PFL), do Maranhão, também pediam que indecisos de seus Estados votassem na reeleição.

Durante almoço com a bancada maranhense, Roseana Sarney teve dificuldades para conquistar votos de última hora. Inclusive o do seu irmão, deputado Sarney Filho (PFL), contrário à reeleição. Ele teria mudado de posição, segundo um governador amigo de Roseana.

Mas o deputado Antonio Joaquim Araújo (PFL-MA), por exemplo, saiu da casa de Roseana do mesmo jeito que nela entrou -contra a releição. "Esse homem (FHC), com a garantia da reeleição, pode desestabilizar o país", disse Araújo.

O governador do Pará, Almir Gabriel (PSDB), dedicou-se à conquista de dois votos pemedebistas -Mário Martins e Asdrúbal Bentes. 'Èles temem contrariar a decisão da convenção do PMDB, e eu pedi para que refletissem", afirmou ele.