E S P E C I A L
Reeleição

Sobe apoio à disputa da reeleição por FHC

Pesquisa Datafolha mostra crescimento de sete pontos entre os que defendem o direito já; 54% são contra

Folha de S.Paulo 29/12/96
De São Paulo

Opinião sobre o direito de reeleição do presidente

38%
contrários à reeleição

38%
a favor para FHC

16%
a favor para os próximos

7%
Não sabem

1%
Outras respostas

Fonte: Datafolha

Cresce entre os eleitores brasileiros o apoio à possibilidade de o presidente Fernando Henrique Cardoso disputar a reeleição, apesar de a maioria (54%) ainda ser contra. Manifestaram-se a favor de que o atual presidente já tenha direito de disputar a reeleição 38% dos consultados pelo Datafolha entre os dias 11 e 13 de dezembro.

Esse percentual representa um aumento de sete pontos em comparação com o levantamento anterior, realizado entre 18 e 20 de setembro, e de 13 pontos na análise das sondagens dos últimos seis meses. A evolução da opinião sobre o direito de reeleição é medida pelo Datafolha desde dezembro de 95.

A porcentagem dos que são favoráveis à reeleição para FHC é exatamente igual à dos que são contra a reeleição agora ou em qualquer outro momento. A esses 38%, somam-se os 16% que aceitam o princípio, mas querem que ele só vigore para os futuros mandatários. Chega-se a uma maioria de 54% contra o direito de reeleição para Fernando Henrique Cardoso.

Os 38% dispostos a aceitar que o presidente tenha a chance de disputar um segundo mandato coincidem, praticamente, com os 35% que votariam em FHC, se a eleição presidencial fosse agora. Há um ano, 61% opunham-se à reeleição de FHC, divididos entre os que rejeitavam o princípio da reeleição (49%) e os que o aceitavam, mas apenas para os futuros presidentes (12%). Em junho último, eram 67% os contrários ao direito de Fernando Henrique Cardoso disputar um segundo mandato, porcentagem que caiu para 62% em setembro e, agora, recuou para 54%.

A antipatia pela tese da reeleição aumenta em relação a governadores e prefeitos. Dos 12.510 entrevistados pelo Datafolha, 41% são contra a aplicação do princípio da reeleição para governadores, e outros 19%, embora o admitam, querem que ele só valha para o futuro. Dá, portanto, 60% contra o direito de os atuais governadores disputarem um segundo mandato (contra 54% no caso do presidente da República).

Já para os prefeitos eleitos em 96, 35% opinam que a lei deve mudar para que eles possam disputar novo mandato no ano 2000. Mas 57% são contra, entre os 43% que não querem reeleição nunca e os 14% que a aceitam, desde que seja para os sucessores dos sucessores dos atuais prefeitos.

Embora dentro da margem de erro (dois pontos percentuais), a maior rejeição ao princípio da reeleição, agora ou no futuro, ocorre no caso dos prefeitos. Parece refletir o temor de que o uso da máquina pública, em favor dos detentores do cargo, seja menos controlável nos municípios, principalmente pequenos, do que no âmbito estadual e federal. Essa hipótese combina com o fato de que é no Nordeste que aparece a maior rejeição ao princípio da reeleição para prefeitos (46%).

No caso da reeleição para presidente, o Datafolha capta um dado curioso: é na Bahia que aparece o menor índice de aprovação à reeleição para FHC (apenas 29%, contra a média nacional de 38%). Os dois grandes líderes políticos baianos (o senador Antonio Carlos Magalhães e seu filho, Luís Eduardo, presidente da Câmara) são dois dos maiores defensores da reeleição.

O apoio à reeleição para o atual presidente cresce exponencialmente na razão direta da renda e da escolaridade do pesquisado. São 52% os eleitores de nível universitário que apóiam o direito de FHC disputar um segundo mandato, contra apenas 34% dos que concluíram no máximo o primeiro grau.

Dos eleitores que ganham mais de 20 salários mínimos, são 51% os que aprovam a reeleição já para FHC, contra apenas 36% daqueles cuja renda não ultrapassa dez mínimos. Entre os consultados que declararam ter preferência pelo PSDB, 41% são contra a reeleição já para FHC. Entre os petistas, 29% se disseram favoráveis à tese.

Sem o presidente,
sucessão embola

A pesquisa do Datafolha sobre intenção de voto para presidente explica com a mais absoluta clareza por que os potenciais rivais de FHC são contra a reeleição: sem ele no páreo, o jogo fica totalmente aberto. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Paulo Maluf (PPB) e José Sarney (PMDB) empatam estatisticamente, com, respectivamente, 21%, 20% e 18%.

A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos em cada candidatura. Ou seja, Lula tanto pode ter 23% como 19%, Maluf pode subir para 22% ou cair para 18% e assim por diante. Mesmo Itamar Franco (sem partido) estaria na disputa, pois tem 15% das intenções de voto. Não chega a um empate estatístico nem com Lula nem com Maluf, mas embola de uma vez o panorama.

Já com FHC concorrendo a um novo mandato, seu favoritismo é nítido: 35% contra 18% de Lula, 13% de Maluf e 12% de Sarney.

Mais: na comparação com a pesquisa anterior, feita em setembro, FHC ganhou seis pontos percentuais, roubados dois de cada um de seus três principais rivais (Lula, Maluf e Sarney). A vantagem de FHC diminui algo quando a pesquisa retira o nome de Lula e introduz o do prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, como candidato do PT. Nesse caso, o atual presidente teria 33% contra 17% de Maluf, empatado com Sarney (16%).

Tarso Genro teria apenas 3%, fruto quase exclusivo de sua votação no Rio Grande do Sul, onde vai a 19% e quase encosta nos 24% do presidente.

O ministro da Educação, Paulo Renato, apresentado como candidato do PSDB, na hipótese de não passar a reeleição, tem desempenho idêntico ao de Tarso Genro: apenas 2% das intenções de voto.

Uma terceira simulação pressupõe que nem FHC nem Lula sejam candidatos. Nessa hipótese, Maluf fica com 25%, empatado, no limite da margem de erro, com Sarney e seus 21%. Próximo, Itamar Franco, com 19%.

O prestígio eleitoral do presidente é maior no interior do que nas regiões metropolitanas. Nestas, ganha de Lula por apenas nove pontos percentuais (contra 21 no interior).

O Estado em que FHC obteria maior votação, se a eleição fosse agora, seria Goiás, com 48%, seguido de Mato Grosso do Sul (44%) e Pernambuco (41%). Em São Paulo, apenas quatro pontos separam o presidente de Maluf (32% a 28%), com Lula caindo para um distante terceiro lugar (14%).

Quando é pedido ao entrevistado que diga em quem gostaria de votar para presidente em 98, sem lista de candidatos, FHC aparece com 20%, contra 6% de Lula, 5% de Maluf, 2% de Sarney e 1% de Itamar, Leonel Brizola e Fernando Collor. (Clóvis Rossi, do Conselho Editorial)