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Estado diz que crimes em SP podem aumentar com Pittagate

CRISPIM ALVES 05/04/2000 19h03
Coordenador de Cidades da Folha Online

O secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, Marco Vinicio Petrelluzzi, afirmou não ter dúvidas de que o imobilismo que tomou conta da prefeitura por causa do escândalo Pittagate poderá contribuir para o aumento da criminalidade na cidade de São Paulo.

Petrelluzzi fez esta declaração, durante entrevista exclusiva à Folha Online, quando criticava a falta de ação da prefeitura paulistana em investir em áreas de lazer, principalmente na periferia de São Paulo, como forma de contribuir para a diminuição dos índices de criminalidade. O tema principal da entrevista foi o número recorde de homicídios registrado no último final de semana na capital este ano.

Essa não é a primeira vez que Petrelluzzi critica Pitta e a prefeitura ao dar explicações sobre a violência na cidade de São Paulo. No começo deste ano, secretário e prefeito já haviam protagonizado um bate-boca, via imprensa, sobre essa questão.

“A Prefeitura de São Paulo é um desastre. As pessoas me perguntam: ‘Por que o crime está caindo mais no interior do que na capital? Por que será que distingue a capital do interior?’ O crime, homicídio, cai mais na Grande São Paulo do que na capital. O que que tem de diferente aí? É que nós temos uma cidade que está completamente abandonada à sua sorte. E ela está abandonada do ponto de vista administrativo e, principalmente, do ponto de vista moral. Achar que isso não tem efeito na criminalidade é... É complicado. Às vezes, eu digo isso e o pessoal diz que eu estou querendo tirar a minha responsabilidade e jogar no Pitta (Celso Pitta, prefeito de São Paulo). Não é isso. Eu sou secretário de Estado da Segurança Pública, não sou secretário de município da segurança pública.”, afirmou Petrelluzzi.

Ao responder se a instabilidade política que se instalou na administração municipal por causa das denúncias feitas pela ex-primeira-dama Nicéa Pitta poderia contribuir para o aumento da criminalidade na cidade, Petreluzzi afirmou: “Não tenha dúvida”.

“A instabilidade política gera paralisação da máquina pública. A máquina pública municipal hoje encontra-se completamente paralisada. Eu vejo isso na rua da minha casa. Eu moro em um bairro considerado muito bom, ao lado do parque Ibirapuera. Queima a luz da rua da minha casa, demora uma semana para botar a luz. É um descaso do diabo. É toda hora sujeira. Tem uma praça perto da minha casa, em frente ao hospital do servidor, que está uma imundice. Esse ambiente ajuda a criminalidade, a desordem. Um lugar em desordem ajuda a fazer o crime aumentar. Os americanos compreenderam isso há muito tempo. Na cidade de Nova York, a polícia entra em um lugar junto com a coisa toda da prefeitura. Agora, nós temos uma prefeitura que se omite de tudo, tudo.”

Por intermédio de sua assessoria de imprensa, Pitta emitiu a seguinte frase: “O Estado de São Paulo estaria muito mais seguro se o governador não fosse Mário Covas e o secretário da Segurança, Marco Vinicio Petrelluzzi”.

Apesar das declarações, Petrelluzzi fez questão de ressaltar que sua posição não é uma crítica direta ao prefeito Celso Pitta.

“Está uma desordem. Não estou falando nem prefeito. Não quero nem entrar nesse mérito. Estou falando da máquina administrativa municipal. A prefeitura está parada há muito tempo. Há quanto tempo está este escândalo (denúncias de irregularidades na administração municipal)? Quando começou a máfia dos fiscais? Desde este tempo a prefeitura está parada, ninguém manda em ninguém. Quem não quiser trabalhar na prefeitura, não trabalha, porque não tem ninguém que fique olhando”, afirmou.

“Qualquer pessoa que tem o mínimo de isenção para analisar o problema vê que é um baita problema. A mesma polícia que trabalha no interior trabalha na capital. Aí você tem um número (indicadores de criminalidade) que é muito bom no interior e você vê que na capital ele não é tão bom.”

Os primeiros números sobre a violência em São Paulo no ano 2000 ainda não foram divulgados. O balanço sobre o primeiro trimestre só deve estar pronto no final deste mês. Mas, pelo menos no que diz respeito aos homicídios, os números da secretaria relativos ao ano passado não refletem as declarações de Petrelluzzi.

Durante os quatro trimestres de 1999, o número de homicídios não apresentou grandes oscilações nas curvas crescentes ou descendentes entre capital e interior. Já para o primeiro trimestre deste ano, a secretário afirma que a quantidade de assassinatos no interior do Estado deverá ter uma redução “significativa” em relação ao mesmo período do ano passado. Na capital, segundo ele, a curva não deverá ser a mesma.

“Para combater o crime, você precisa de toda a força do poder público, unificada. Muitos prefeitos do interior compreenderam isso. Não é só na alocação de recursos, é também nos cuidados com a cidade, nos programas sociais. Também não estou dizendo que isso é uma relação de causa e efeito”, disse Petrelluzzi.

O coordenador da Comissão de Direitos Humanos da seção paulista da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Pedro Dallari, concorda em parte com as declarações de Petrelluzzi. “É claro que a ausência da prefeitura na área social compromete qualquer política de segurança pública. Mas, por outro lado, também é possível constatar que o governo do Estado também não tem dado atenção à área social.”

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Leia mais sobre o Pittagate na Folha Online.



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