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FHC não vai a debate de presidenciáveis
 

AJB 08/08/98 12h42
DE INDAIATUBA,SP

O presidente Fernando Henrique Cardoso foi o grande ausente no debate entre presidenciáveis promovido pela Igreja, sexta-feira à noite, no convento de Itaici, município de Indaiatuba, no encerramento do Momento Nacional da Terceira Semana Social Brasileira. Quando o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Jayme Chemello, anunciou que Fernando Henrique havia mandado um fax dizendo que não poderia comparecer por falta de espaço na agenda, o público reagiu com uma vaia. No plenário, havia mais de 400 pessoas, entre participantes e convidados, para ouvir e questionar os candidatos.

"É uma pena Fernando Henrique não ter querido participar, pois todo debate é importante", lamentou o candidato da frente de oposição, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao chegar a Itaici. Quando ele entrou no auditório decorado com a Bandeira Nacional e dezenas de cartazes coloridos com as reivindicações dos movimentos sociais, cinco candidatos de pequenos partidos já estavam lá. Combinadas com antecedência, as regras do encontro eram claras. Ivan Frota (PMN), José Maria de Almeida (PSTU), José Maria Eymael (PSDC), Sérgio Bueno (PSC) e Vasco Neto (PSN) teriam três minutos e Lula teria 15 para comentar a Carta ao Povo Brasileiro, cuja leitura acabavam de ouvir.

Todos elogiaram o documento aprovado pelos participantes do Momento Nacional, uma assembléia de 396 delegados de todo o país que, segundo Dom Jayme, representavam 10.500 pessoas. O texto, informou o bispo, resume reflexões, debates e reivindicações vindas de 150 semanas regionais que a Igreja promoveu nos últimos três anos. Patrocinado pela CNBB, Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outras entidades de defesa da cidadania, o encontro de Itaici reuniu bispos, pastores evangélicos, trabalhadores, sindicalistas e militantes de movimentos populares.

Era um palanque de encomenda para Lula, o candidato mais aplaudido de todos, que logo se identificou com a platéia. "No final do debate, eu vou devolver essa carta assinada para o senhor ver a seme-lhança do que está aqui com os meus compromissos de candidato", anunciou o petista ao iniciar seus comentários sobre o documento. Gastou apenas 11 dos 15 minutos aos quais teria direito como presidenciável melhor situado nas pesquisas eleitorais. Lula elogiou a participação da CNBB e do Conic na discussão dos problemas nacionais e aproveitou as deixas do texto para criticar o governo.

"A elite brasileira não vai resgatar as dívidas sociais que o Estado tem com o povo", advertiu Lula, repetindo um trecho da carta que responsabiliza o sistema e as classes mais privilegiadas pela exploração dos pobres e excluídos. O candidato da frente de oposição prometeu fazer uma reforma agrária aliada a uma política de apoio aos pequenos e médios produtores, sugeriu um mutirão nacional para acabar com o analfabetismo e atacou as medidas de combate ao desemprego anunciadas por Fernando Henrique. "Falar em flexibilização e em demissões provisórias é destruir as conquistas que o trabalhador conseguiu nos últimos 50 anos", afirmou.

Os outros presidenciáveis lamentaram a escassez de tempo que tinham para expor suas idéias e estenderam a crítica à Lei Eleitoral e aos meios de comunicação que, conforme disseram, discriminam os pequenos partidos. Vasco Neto, de 82 anos, resumiu seu programa no binômio "Cristo e Transporte", arrancando aplausos e risos do plenário. "Cristo é o supremo mestre e transporte é o supremo bem", justificou ele, voltando-se para Lula, a quem chamou de "meu pau-de-arara brilhante". O candidato Ciro Gomes (PPS), que havia confirmado presença, não conseguiu chegar a tempo para o debate, por falta de condições de vôo para o helicóptero que o levaria a Itaici.

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